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sábado, 10 de maio de 2025

MINHA SÉRIE VAGALUME (19) - ESPECIAL: A SAGA TONICO (José Rezende Filho e Assis Brasil, 1977 - 1982)




 Dando continuidade à resenha sobre livros da Série Vaga-Lume, comecei a ler um livro (ou melhor, recomecei, porque até tinha na casa dos meus pais, mas ele nunca me pegou na curiosidade até então), aí me dei conta de que, no caso desta resenha aqui, fazer duas postagens seria um cadinho complicado (especialmente considerando a frequência com que atualizo esta bodega...)

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Então, até para que a história esteja bem costuradinha - mesmo se tratando de dois autores (e isso explico mais para a frente), ao invés de um livro, vamos falar de DOIS! Então, que entrem em cena Tonico e Tonico e Carniça!


Tonico (1977) é uma história original de José Rezende Fiho... FINALMENTE UM PERNAMBUCANO NA NOSSA LISTA, AEEEEE!

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Tonico é um jovem de 14 anos, que ficou órfão de pai. A mãe, Zenaide (Dona Zen); a avó, Cordália; e o tio, Severino; estes três já colocam o menino para ser "homem da casa", jogando o menino numa realidade que ele, à princípio, detesta: jogam para trabalhar de ajudante durante o dia e, de noite, em uma escola noturna. Colocam na cabeça dele uma responsabilidade, mal dando tempo para o garoto assimilar a perda e as mudanças advindas dali.
Tonico admira o amigo Carniça: um jovem do morro, bom jogador de futebol e que se desdobra para ajudar a mãe. Não conheceu o pai, vive de bicos e, para o protagonista, um exemplo de liberdade. Essa admiração leva o rapaz a enfrentar a família (que tem preconceito para com o amigo) e enfrentar as ruas do Rio de Janeiro com a sua caixa de engraxate.

O que é legal na história? "Tonico" possui temáticas atemporais - afinal, ainda é possível encontrar jovens de família humilde divididos entre a responsabilidade de arrimo da família e a necessidade de ainda manter sua juventude. Para mim, a trama acaba sendo muito próxima à trama da canção "Espelho", clássico samba de Nogueira. Escuta só:


Tentando não enfiar spoilers demais - embora seja difícil - o final de Tonico se cola ao início do livro que continua a saga: Tonico e Carniça (1982).


DETALHE IMPORTANTE: Rezende faleceu logo depois da publicação de Tonico. Sobrou apenas uns apontamentos sobre a continuidade da obra - e coube ao amigo Assis Brasil continuar a saga.

Mas, vamos lá, sem spoilers excessivos: a pendenga entre Tonico e família é resolvida aos poucos ao longo da história, e a história de Carniça - cujo nome da certidão é Valter - é mostrada de forma mais forte, com o rapaz tentando um novo caminho para a sua vida, com o apoio incondicional do amigo. Criando uma sociedade, eles percebem que, mesmo tentando o caminho mais limpo, não estão livres do preconceito e dos perigos.

O que é massa na história? O ritmo da história é um pouco menos pesado do que o livro anterior - ao menos no começo. Mas, mesmo com a troca de mãos, não se perdeu a essência da história; pelo contrário, colocar o Carniça como um personagem real e não somente na ótica que o Tonico coloca (heroico, super corajoso): ele tem pensamentos, ele tem desejo de melhorar, ele é um jovem com sonhos, como o amigo que em tempo algum lhe coloca em dúvida. Não que o primeiro livro seja ruim ( e não é), mas acho o segundo mais interessante. Até mesmo o final aberto acaba sendo uma boa jogada do Assis, porque dá margem para refletirmos sobre o futuro dos personagens.

Uma dica: se for pra ler, leia um seguido do outro. Primeiro, porque são obras pequenas - 70 a 80 páginas por livro. Segundo, porque - como já disse - uma história é complemento da outra, então não vai ter uma "elipse temporal" entre elas. E nem espere que um livro vai fazer resumo do outro, o segundo livro vai trazendo apenas as linhas que realmente importam para a trama atual. Como falei, é uma saga. E vale a pena ler.

Tem como ler os dois livros? Sim. Clica nos nomes e tu vai poder ler Tonico e Tonico e Carniça via web mesmo!

É, pra quem tava protelando, acho que o trabalho foi intenso, né? Bom, quem sabe em breve eu vá continuando o papo. Até mais.




domingo, 26 de junho de 2022

MINHA SÉRIE VAGALUME (18) - O PRIMEIRO AMOR E OUTROS PERIGOS (Marçal Aquino, 1999)


 CARAMBOLINHAS VOADORAS! 

TÔ VOLTANDO!!!!

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Surpresos? Eu também! E, explico.

Se alguma alma caridosa acompanhou os 17 textos, os 17 livros que apresentei aqui na "Minha Série Vagalume", sabe que neste aqui, eu lamentei profundamente não ter como falar sobre o livro de hoje (sim, porque eu tenho o costume de lançar links sobre a obra* para facilitar o acesso para quem tá lendo). Mas, casualmente hoje, eu aqui, querendo publicar algo, bati no PDF! Sim! Achei! E a alegria foi tão imensa que vou reler enquanto estiver fazendo esta resenha - até porque a história sempre ficou na minha cabeça, de tanto que gostei da despretensão do texto e do climinha meio "novela-adolescente-de-fim-de-tarde-anos-1990-e-2000", perfeito para a época que li (começo da adolescência); mas, pra não confiar apenas na memória de anos, vou também cair com a leitura simultânea.
Bom, lá vou eu então falar de outro livro do Marçal Aquino - já falei de "O Jogo do Camaleão" logo no começo da jornada. Dessa vez, de um livro de 1999 (posso bancar a velha chata e dizer "ah, que tempos mais ingênuos!"? kkkkkkkkkk, #piada), onde mergulharemos na trama de "O Primeiro Amor e Outros Perigos"!

Capa original (1999)

Eeeeeeeeeh... Só pra vocês, que tão na minha faixa etária; ou pro jovem curioso que aqui adentrar, uma dica: leiam isso aqui com a trilha sonora adequada para o texto. Só uma dica, tá?


Enfim... Vamos ao papo?

A história fala sobre o cotidiano de jovens do Colégio Paulo Ferreira, em uma cidade provavelmente no interior do Estado de São Paulo (temos essa referência por conta de detalhes futebolísticos), mas cujo nome nunca é dito. A escola conta com algumas figuras comuns a qualquer história juvenil: meninas lindíssimas, aluno com fama de encrenqueiro, garoto tímido, ídolo dos esportes, professores com influência e afeto, algumas fofocas... Enfim, por isso citei o detalhe de que o plano geral da obra está bem lugar-comum.

Mas a história coloca como protagonistas três amigos: Bianca, Fernando e Vinícius. Os três alunos do Ensino Médio criaram um jornal, o "Agora", que virou sensação entre os alunos - porém, no meio do sucesso, Vinícius tem uma notícia terrível: Bianca e Fernando começam a namorar. O jovem, que tem paixão por fotografia, sempre foi apaixonado pela moça; mas, sabe aquele papo do "garoto tímido"? Pois é... Como a paixão do jovem nunca foi muito segredo na escola, há um abalo entre os três - que, além da amizade, precisam conviver para montar o jornal.
O "Agora" tem ajuda de várias pessoas: de um "padrinho", o professor Eusébio Guedes, um homem que deixou a capital apaixonado pela história do poeta Sandoval Saldanha, a tal ponto que passa a viver até na mesma casa que ele viveu; de patrocinadores/anunciantes, como o Alfeu, dono da Mil Coisas, lanchonete que é point dos jovens, e um cara que costuma estar sempre conversando com os protagonistas; e o "Sombra", figura misteriosa que envia uma coluna de fofocas bastante polêmica e que faz sucesso entre os estudantes. 
No meio de tudo isso, acontece uma morte bastante suspeita - e (surpresa? Acho que não, hein?) o trio se envolve na questão, levando o caso a situações de grande perigo e aumentando ainda mais a tensão entre eles.

O que é legal nesta história? Bom, sendo franca, a história É CLICHÊ. Clichê dos grandes. Evidentemente clichê. Abertamente clichê. MAS EU GOSTO MESMO ASSIM! E o Marçal escreve a obra sem pretensão de criar algo extraordinário ou sobrenatural. Me soou como mais uma versão de "Cyrano de Bergerac" (Edmond Rostand, 1897), um cara com algum talento, mas com baixa autoestima, que "perde" um grande amor para um cara bem mais atrativo do que ele - ou, pelo conduzir da obra, com uma estrutura narrativa aproximada à "A Marca de Uma Lágrima" (Pedro Bandeira, 1985), na ideia "triângulo amoroso e morte".
Só que não posso negar que, aqui, tem elementos que fazem com que a gente consiga se colocar na figura do Vinícius - protagonista moral deste livro. Não há mergulhos de desespero, o personagem é visto em seu sofrimento, suas relações, suas ações corajosas, seus anseios, suas entregas. Ver-se como inferior ao Fernando (que, ao longo da história, descontrói a figura de "superior") e quase idolatrando a Bianca, quase a colocando no papel de donzela divina, em detrimento à outras meninas, nos dá vontade de sacudir o moleque e dizer "ACORDA, PÔ!", enquanto a gente tem empatia pelo que ele passa, lutando pra não ofender o casal e lidando com seu desgosto sozinho.

Outro personagem que gosto muito é o do Eusébio - será que é porque é um professor de Português com paixão em Literatura e poesia? kkkkkkkkkkk! Mas, também muito por ele ser um pesquisador apaixonado pelo seu objeto de estudo, a tal ponto que vive por ele - e esse debate sobre "santo"; digo, "poeta de casa não faz sucesso", que fala muito sobre o desprezo à literatura. Não só isso: ao ler a história, agora, adulta, refleti muito sobre a figura do ser que nas artes pode ser um gênio, mas é um cara questionável como pessoa. Mas, se eu falar muito disso, pode vir um spoiler brabo que estou tentando evitar bastante aqui.

Recomendo? Sim, para uma leitura despretensiosa, de uma ou duas horas - a leitura é leve, bem juvenil, com referências musicais e poéticas - para os saudosos daquele tempo em que a gente tinha quase a mesma história na TV, mas consumia mesmo assim (Sim, se você não entendeu ainda que tô me referindo à saudosa "Malhação", ou você é jovem, ou não acompanhou). Leiturinha pra, se você já saiu da adolescência, lembrar dos tempos ingênuos em que éramos emocionados diante do primeiro amor.


Tem como ler a história? CLARO! E exatamente por isso que este texto demorou anos (na verdade, se eu não tivesse entrado naquele cíclico de deixar a vida me levar e me abstraído em manter o blog em abstrações pessoais, poderia ter feito ano passado, mas...). Neste link (clique aqui), você pode baixar a obra, que está com a estrutura do livro de 2011, quando houve mudanças no layout da capa. Mas as imagens são as mesmas, o livro segue com o mesmo frescor vagalumeano. 


* Uma nota de rodapé que eu preciso dizer, considerando alguns possíveis leitores que não curtem PDF e divulgação deles, rotulando de "pirataria":
Gente, muitas dessas obras da Série Vaga-Lume, hoje, são difíceis de serem encontradas. Algumas por mudarem de editora, outras porque a Ática decidiu retirar do seu catálogo, ou até por acessibilidade mesmo. No meu caso específico, muitas das obras que li eram emprestadas ou apareceram no acaso em minhas mãos. Pode ser criminoso pra VOCÊ passar PDF, mas, pra mim, é a chance de diversas pessoas poderem ler, poderem entender o mínimo dos sentimentos que possuo por cada uma dessas obras. Portanto, se você não gostar disso, por gentileza: GUARDE PRA VOCÊ. 


 

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (17) - O FANTASMA DE TIO WILLIAM (Rubens Francisco Lucchetti, 1992)


CONVENHAMOS: Até aqui, peguei livros da série Vagalume que abordam temas sérios (drogas, boias-frias, Amazônia, assassinatos, sequestros, drama familiar, etc). E, apesar de ser uma tônica recorrente na maioria dos livros, também houve espaço para obras mais leves, sem muita intencionalidade social...
É verdade que já pus uma trama com uma preocupação mais juvenil - Terror na Festa - mas foi uma exceção entre os 16 livros já apresentados aqui... Então, a meta para esta e algumas outras postagens (sim, eu ainda vou buscar fôlego pra ir mais fundo, até onde der) é apresentar alguns livros com a temática mais infanto-juvenil, mais a pegada dos livros dos anos 1990 e 2000, onde a série definitivamente desembestou para a área do "Vagalume Júnior".

(p.s: por motivos de "eu não li", porque entrei em outra vibe de leituras e já não tinha mais o acesso de outrora (nem saco), as obras do "novo milênio" não merecerão atenção aqui. O último ano será 1999, e espero colocar as obras que me marcaram deste ano... E, pode crer, ainda tem algumas pérolas a serem desvendadas, juro)

Bom... Agora é hora de sentar-se, e apreciar um bom café, com um certo chame inglês...

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... Com a pegada de um autor com uma variedade de publicações pulp, com diversos prêmios e várias atuações nas mais diversas modalidades da ficção (inclusive trabalhando com Zé do Caixão (!!!)), o velhinho, mas com uma cabeça ainda rica de ideias, Rubens Francisco Lucchetti - ou melhor, R.F. Lucchetti.
Com vocês, apresento-lhes: O Fantasma de Tio William!

Capa original DA SÉRIE (1992)
Aliás, este é o terceiro livro que eu resenho aqui e descubro que teve publicação anterior à série... Publicado em 1974, é uma historinha bem água-com-açúcar para um autor de uma vasta obra de terror. A própria capa originalíssima do livro nos mostra isso... Mais um pouquinho e eu começaria a considerar que seria uma Sabrina ou Bianca com toques mórbidos (OK, nem tanto, nem tanto...)

Mas é sério. Um livro com a frase de chamada "faria inveja a Cupido" e uma foto de casal romântica? Pô, mó sacanagem! (1974)
 O que, considerando a série que estamos trabalhando, foi de um grande avanço - apresentar um autor clássico de uma maneira leve. Há muitas resenhas sobre este livro e todas elas com altos elogios sobre - e muitos, como eu, que só tiveram acesso a este autor graças ao editor que resolveu "variar o cardápio" na Ática, trazendo autores diferentes e temáticas mais diversas...

Especialmente porque, nos anos 1990, houve uma maior atenção do público brasileiro aos cines de terror, que vieram do sucesso de uma série americana, "Contos da Cripta"...



(E, sim, eu ADORAVA esta série, no pouquinho que vi na infância - e mais ainda, quando a reencontrei no YouTube. Fica a dica de uma playlist com alguns episódios)

... Atingindo as novelas, como aconteceu com "Vamp" (novela datada no espaço-tempo e tecnologias, mas que até hoje nunca foi totalmente superada... Mas, por que choras, "Caminhos do Coração"?)



... E contando também com um programa legitimamente tupiniquim, apresentado às tardes, e contando com a abertura do lendário Zé do Caixão (ainda que com filmes de qualidade questionável, mas bons pra dar susto). Ah, saudades da Band de 20 anos atrás!



Como a nossa supracitada série não era boba nem nada, claro que acrescentou esta temática...
Mas, tá bom de papo, vamos ao livro, né?

Para já botar o clima certo, a história começa assim:

"Na Inglaterra, toda mansão que se preze tem seu fantasma. O solar dos Winston não era exceção: durante séculos, a família teve uma distinta linhagem de almas do outro mundo. Dizia-se que o último representante dessa longa série de assombrações era William Winston, cientista um tanto excêntrico que viveu no tempo da rainha Vitória."

(p.6)

E, assim, conhecemos a trajetória da família Winston que, natural da Inglaterra, tem um de seus descendentes imigrando para o Brasil. Construindo uma família, acaba por criar uma mansão aos moldes da que tinham na Europa. Desta forma, teremos, na década de 1940, um casal, cujo marido - John Winston - é o último descendente da distinta família inglesa.
Ao começar a história, ele avisa, com toda a calma e delicadeza do mundo, à sua esposa - a jovem Magda - que está apaixonado por outra mulher e que vai pedir o desquite (lembrando que, até os anos 1970, esse era o método para um casal se separar de forma definitiva no Brasil; caso quisesse se casar novamente, o(a) desquitado(a) teria que sair do país para tal, além da alta carga social sofrida por uma mulher que passasse por esta "experiência").
A outra mulher em questão era a atriz Carmem de Luna: muito diferente de Magda, uma mulher discreta e acostumada com a vida na alta sociedade, Carmem vem de uma origem humilde (seu nome, aliás, é outro) e encontrou no teatro seu caminho para a ascensão social, além de ser muito mais sexy (sendo considerada vulgar) e impulsiva em suas decisões. Tão impulsiva que chega até mesmo a anunciar que vai abandonar os palcos em nome do casamento.
Nesse momento dramático, Magda acaba libertando um fantasma - sim, o tio William Winston, um excêntrico inventor que faleceu literalmente sufocado por sua invenção. E é neste fantasma que se encontra a solução dos problemas da jovem esposa abandonada - e, ao mesmo tempo, botando a casa, os moradores e as vidas das duas mulheres (Carmem também acaba envolvida nos planos do fantasminha) de pernas pro ar. Sempre com muita classe, of course.

O que é massa nesta história? É uma história curta - mais ou menos como "Pega Ladrão", só que com a diferença de ser uma história de época e sem nenhuma preocupação em ser uma história marcada com questões sociais. É o humor e a sofisticação da escrita (além das aventuras vividas pela jovem aristocrata e a atriz) que norteiam a história, passando pelos momentos de estranheza de todos diante da "presença" do fantasma, só visível para Magda e Carmem. O final da história acaba nos pegando de surpresa, mas não é tão imprevisível como parece... E é justamente neste ponto que vem a graça da história.
É uma leitura leve, tranquila, bem diferente das obras aqui expostas. Ela não se preocupa em trazer lições morais, ou questões mais sérias (a do desquite eu pus aqui, mas ela não tem nenhuma preocupação social dentro da história em si), a sua função é de entretenimento, puro e simples, for sure.

Tem como ver agora? Yes, sir! Neste link, você pode baixar o livro, super de boas, com toda a estrutura da obra original. Come on, divirta-se!

terça-feira, 26 de novembro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (16) - NA BARREIRA DO INFERNO (Silvia Cintra Franco, 1990)


Uma das coisas que mais observo, nesta minha busca para reencontrar livros da Série Vaga-lume para esta série de postagens, é como as obras falam de coisas e situações que hoje, pleno ano da graça de 2019, século XXI, ainda precisamos debater, porque, definitiva e totalmente, muita gente ainda não entendeu.
Um exemplo básico são as queimadas na Amazônia, que este ano, atingiu o seu recorde na década.

E ainda tem gente que justifica isso...
É claro que aparecerá alguém que se pergunte: "mas, isso não aconteceu desde sempre?"
E não estará errado, mas...
A obra que vou apresentar hoje mostra como esse desastre ecológico, suas "justificativas" e a luta entre ecologistas e políticos (e empresários, atrás dos panos) se desenvolve, juntando uma luta para acabar (ficcionalmente) com tal situação.
Apresento então, "Na Barreira do Inferno".

Capa original (1990)
A história tem como pano de fundo a cidade de Natal - RN, com destaque para a Barreira do Inferno, o primeiro espaço de lançamento de foguetes no Brasil. Ao pesquisar sobre, vi o quão atuante é este espaço e como a autora procurou ser fiel na ambientação do Centro.
Mas, enfim, vamos à história, né?

"Os quatro se deram as mãos. Dina não resistiu e exclamou:
— Um por todos e todos por um!
— Contra todos os perigos! — exclamou Otaviano.
— Contra toda a oposição! — declarou Bruno, lembrando do deputado.
— E apesar de todas as emboscadas! — finalizou Simone, pensativa."
(p. 12)

Os quatro - Dina, Otaviano, Bruno e Simone - são estudantes de uma escola de elite, unidos, inicialmente, para um trabalho em grupo. De cara - antes mesmo deste juramento - a autora apresenta os perfis de cada personagem: Simone, filha de um sindicalista e de uma feminista; Otaviano, moço pobre que entrou em uma escola graças a uma bolsa de estudos; Dina, uma linda moça filha de pessoas influentes na política do Estado; e Bruno, filho de um industrial. Ambientes distintos, que já mostram as faíscas no primeiro contato na história, quando escolhem falar sobre o desmatamento da Amazônia e o futuro lançamento do foguete AMAZONSAT, liderado pelo engenheiro Sérgio, irmão de Bruno.
Na organização do trabalho, o panorama da história é apresentado pelos personagens: Otaviano pesquisa sobre a Hidrelétrica de Balbina, com o primo que trabalhou no local, sobre as controvérsias da construção desta, e seus resultados, considerados péssimos; Dina visita com a irmã, a jornalista Cláudia, as queimadas na Amazônia, conhecendo também os trabalhadores e um empresário da serraria que explora os recursos naturais; Bruno aprende mais sobre a Barreira do Inferno e o AMAZONSAT junto ao irmão... E cabe a Simone entrevistar o Cido Lima, um ecologista que vai para a cidade - um homem que recebeu muitas ameaças por conta da sua luta.
E é depois desta entrevista que Simone se torna testemunha ocular de uma emboscada: o assassinato de Cido, podendo até mesmo reconhecer o seu assassino. 
Inteirando-se ainda mais do tema, os jovens encontram outros personagens, envolvidos direta ou indiretamente com o caso: o deputado Campos, feroz opositor ao AMAZONSAT, com o argumento de que "existem coisas mais importantes"; Marialva, a irmã mais velha de Otaviano, que abdicou dos estudos para cuidar da casa; e Alexandre, um homem misterioso que vai passar uns dias na casa dos pais de Otaviano.
Em meio a tudo isso, é descoberto que há um plano em curso para impedir que o foguete (que tenciona colocar um satélite para fotografar as queimadas e ajuda na luta ecológica) seja lançado, incluindo até mesmo o assassinato de Sérgio. Os quatro amigos irão fazer o que puderem para evitar que tais acontecimentos vinguem. 

O que é legal nesta história? A Sílvia agrega temas importantes em uma história ágil e até mesmo previsível, dadas algumas coisas que pus aqui (fiz o máximo possível para não colocar spoilers). Os dilemas adolescentes e questões sociais também são colocados dentro do relacionamento dos quatro estudantes, mas a união é o que torna este grupo capaz de vencer os desafios para salvar o foguete. A questão da Amazônia é bem colocada, e ela apresenta pontos de vista mais diversos possíveis, a ponto que podemos ver a questão sem extremos julgamentos. Fica como uma reflexão para os dias atuais, onde NENHUM DOS TEMAS TRABALHADOS ficou datado.
A única coisa que ficou datada foi subir no Morro do Careca, na praia de Ponta Negra (hoje, isso é proibido), mas nada que prejudique a verossimilhança da história.

Tem como ler agora? Online, não. Mas através deste link, você pode baixar o pdf, que conta com o texto digitalizado, mais as imagens do livro. Boa leitura!

terça-feira, 19 de novembro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (15) - A ALDEIA SAGRADA (Francisco Marins, 1994)


E, se eu disser a vocês que, aos trancos e barrancos, nem sempre frequente, estou completando um ano e 15 livros da Série que marcou a minha vida de leitora?

Sim, isso é um marco. Podem aplaudir!

E, não, o livro de hoje não tem nada a ver com a comemoração da data. Tem a ver com algo que sempre me interessou desde menina, quando comecei a real-oficial ler livros dedicados à História Brasileira, mais especificamente durante meus tempos de giná... Ops! FUNDAMENTAL 2, nada de denunciar a idade, Soledade!
E que, graças aos esforços da minha mãe, a Editora Ática foi importante para essa leitura, em especial sobre a Guerra de Canudos (1896 - 1897):

Fica a dica de duas obras sobre o tema. Como são BEM ANTIGAS, não sei se existem edições novas...
Mas, o que foi a Guerra de Canudos?
Foi uma insurreição, de caráter messiânico, apoiada na figura de Antonio Conselheiro - uma figura tão lendária como Lampião, padre Cícero e outras personalidades nordestinas.



Entre as crenças de um fim do mundo no fim do século (a versão antiga daquilo que, na minha geração, foi atualizada para o famoso "bug do milênio", quando começamos a transitar do século XX para XXI) e a situação de miséria e injustiça social vivida pelos sertanejos - além, é claro, dos conflitos que se basearam na ignorância do povo perante as mudanças promovidas pela Proclamação da República, como a separação da Igreja e do Estado, por exemplo. Uma revolta estrondosa e bastante difícil de ser vencida pelas forças republicanas, graças a coragem dos revoltosos.

Só que...
Infelizmente, eu sou uma historiadora frustrada, e aqui não é um blog oficial de História. Pra quem quiser um panorama sobre a temática, o site do Só História pode fazer este trabalho por mim com mais amplitude. E, pra quem tá pronto para leituras mais profundas e uma análise de quem viveu in loco o momento histórico, temos a obra de Euclides da Cunha, "Os Sertões".
Mas, foi necessário fazer esta introdução trabalhada no momento histórico para apresentar a obra de hoje, a "A Aldeia Sagrada", o terceiro livro publicado por Francisco Marins na nossa supracitada série.

Capa original DA SÉRIE (1994)
(Dando uma pesquisada para pegar a imagem para este blog, descobri que, assim como "Éramos Seis", "A Aldeia Sagrada" não é um livro exclusivo da série. Publicado pela 1ª vez entre 1945 e 1953 (infelizmente, temos muitas informações contraditórias sobre), o livro pertenceu à Editora Melhoramentos)

Capa da Editora Melhoramentos (1953).

A história começa no sertão da Bahia, onde conhecemos Didico, um menino que inicia sua história aos 12 anos, órfão, que vive com os padrinhos Chico Vira-Mundo e Donana, em pleno sertão baiano. A história começa com a partida de Chico para buscar uma vida melhor para os dois no Acre, lugar onde, no período, haviam muitos migrantes nordestinos dispostos a enriquecer com o ciclo da borracha. Antes, ele conversa com um amigo (Antonio Beato), que recebeu um "chamado" e decidiu seguir o Conselheiro.
O jovem passa por muitos problemas por conta da forte seca que se abala na região, perdendo o único modo de sustento (um boi, assassinado por retirantes famintos) e a madrinha. Toma a decisão de seguir com um grupo de retirantes chefiado por Juviara, um homem que busca um destino melhor para ele e sua família. Seus filhos, Zico e Mada, se tornam amigos de Didico - que só tinha como companhia o cão Tigüera (sim, escrito com o saudoso trema). Conseguem viver em uma fazenda perto de Monte Santo, onde ouviam falar sobre os acontecimentos ocorridos em Canudos e é quando o jovem descobre que Chico, na verdade, se tornou um dos seguidores fanáticos do Conselheiro.
Com o desenrolar dos acontecimentos, Didico, Jupiara e Barnabé - um homem que o rapaz descobre ser amigo do seu falecido pai, um dos homens que se destacou no carregamento do bendengó - acabam por ir até Canudos, na esperança de evitar que Chico seja morto pelos soldados, que estão chegando para a luta final contra "a aldeia sagrada".

O que é massa nesta história? Narrado em primeira pessoa, por um jovem que descreve seus momentos da despedida do tio até os lances após o fim da guerra, Marins constrói uma história onde é preciso analisar a História do ponto de vista de um jovem pouco instruído, com um conhecimento de vida baseado no que ouve falar e observa. Sabe aquele negócio do "povo que assiste bestializado a História" e, como tal, acaba por pegar algumas coisas que são passadas? As mudanças de impressões de Didico e seus amigos, quando começam a ver a realidade de Canudos como observadores diretos, é uma das maiores sacadas do autor.
Além disso, o livro também mostra outros episódios importantes ocorridos no Sertão baiano - a forte seca no fim do século XIX, a saga dos retirantes e o episódio do meteorito do Bendengó, alinhando muito bem a ficção com fatos reais.

Tem como ler agora? Sim, temos sim! Uma boa, maravilhosa alma fez o scanner do livro (por isso, não consegui fazer as famosas retiradas de trechos do livro, dá um pouco de trabalho a quem, ultimamente, não anda com muito tempo), ou seja, vocês terão em mãos a obra com o formato deliciosamente "vagalumeano", que conta com muitas imagens. Só clicar aqui e se deleitar.


quarta-feira, 13 de novembro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (14) - PEGA LADRÃO (Luiz Galdino, 1986)


*** AVISO: Adiei um dia minha postagem, porque tive uma frustração depressiva com o andar desta série de postagens: a minha intenção era fazer uma resenha de "O primeiro amor e outros perigos" (Marçal Aquino, 1997), mas o Google não tem disponível um PDF da obra. E como todo mundo sabe que eu curto deixar disponível o livro pra que as almas caridosas aqui possam ler comigo e retirar suas próprias conclusões, ficou uma deprê na mente que deu uma segurada no material que eu já tinha preparado. Mas, engole o choro, força na peruca e #segueobaile. Material não se perde nunca, e este post vai solucionar o golpe. ***

Ah, que saudades do narrador clássico da Sessão da Tarde, que às vezes era melhor do que o próprio filme...



(É um baita playlist, tenha paciência! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk)

O vídeo vai servir para eu tirar uma chamada bem no estilo:
ESTE JOVEM COMEÇA UM NOVO EMPREGO. E VAI ENCONTRAR UMA TURMA QUE VIVE SITUAÇÕES DO BARULHO!
Com vocês, "Pega Ladrão"!

Capa original (1986) - uma das capas mais estilosas (fundo preto e dergradê) da série. Nunca perdoei a Ática pela padronização desta anos depois. NUNCA!

Luiz Galdino, o autor, teve em "Pega Ladrão" o seu primeiro livro publicado na Série Vaga-Lume. Três anos depois, publicou um livro já apresentado aqui, que foi "A Vida Secreta de Jonas". Nos anos 1990, publicou "O brinquedo misterioso"(1994), "A charada do Sol e da chuva"(1996) e "Segura, peão!" (1999) - desta fase, li apenas o primeiro, os demais nunca me caíram nas mãos. Uma pena!
Se você leu (ou tá lendo agora, depois que falei) o livro que resenhei dele, sabe que o Galdino tem uma pegada de dar uma vista em questões preconceituosas, bullying e tal.  No seu liro de estreia, não poderia ser diferente e dar uma "indireta" na questão da consciência de classe. Fica a pedrada:

"Zeca ainda consultou Maurício, de quem se tornara amigo. O garoto não escolheu palavras para demovê-lo da intenção.
- Que é um direito todo mundo sabe! Porém, os poucos que tentaram acabaram sendo despedidos!
- Sério?,
- O Gervásio não gosta de estudante.
- Poxa! Não gosta de preto, não gosta de estudante.. . De que ele gosta, afinal?
- Do patrão!"
(p.8)

Sentiu? Em tempos que o seguro-desemprego vai ser descontado para sustentar o novo empregado, ao invés de tirar do patrão, e o FGTS reduzido a 2%, fica a dica de que "não respeitar os direitos do trabalhadores" é um negócio antigo para o patrão, aquele mesmo que diz ser "muito difícil ser patrão no Brasil".
Mas... COF, COF... Vamos voltar à história.

José Carlos (vulgo Zeca, como você já deve ter notado) começa a história se apresentando a uma empresa de publicidade, para trabalhar como office-boy. Se você entrou aqui, e é novinho demais para saber do que eu estou falando, office-boy é como se chamavam os jovens que eram encarregados de enfrentar os busões para fazer entregas de documentos, pagar boletos, entre outros problemas que
a empresa precisasse descascar. Hoje, esse trabalho exige que a pessoa envolvida tenha, ao menos, uma moto (praticidade, né mores?)

Jogado em uma realidade onde precisa conciliar trabalho (para ajudar a família) e a escola noturna, ele conhecerá a vida de um "menino de recados", tendo que conhecer todos os itinerários de ônibus, todas as ruas do Centro da cidade, conhecendo alguns macetes do campo da publicidade, conhecendo as vidas dos colegas de trabalho, e ainda dividindo suas atenções com duas mulheres atraentes: Glorinha, a recepcionista que é "sonho de consumo" dos boys, e Sarita, a adorável e simpática secretária.
Só que nem tudo é contemplação de realidade, há um problema: roubos misteriosos assolam a agência e, ÓBVIO, a culpa recai em cima do lado mais fraco. Quando Zeca chega, vem no lugar do Tonho, um menino que foi acusado de ladrão simplesmente porque era negro. E, entre os suspeitos, temos dois que são considerados "folgados" e um que tira onda de "ter muito dinheiro", apesar de ser um boy. E, começando a história como um empregado que chegou agora, portanto, era insuspeito na prática, Zeca acaba virando um detetive por acaso. Afinal, quem é o ladrão da agência?

O que é legal nesta história? Além do lance dos crimes em si, temos a questão social dentro dos vínculos empregatícios da agência - Giba, o chefe dos boys, é um exemplo: de todos aqueles do grupo, era o único que interagia com todos os demais núcleos da empresa - inclusive Gervásio, o chefe-mor, e era a voz de comando entre os office-boys... Ainda que, no frigir dos ovos, estivesse ainda muito rasteiro na escala social. Uma contenda entre ele e os seus comandados, na disputa pelas atenções da bonita Glorinha, mostra isso muito bem:

"Com exceção de Shiro, que se apaixonara por uma apostila de informática, os outros boys sonhavam com as atenções da adorável recepcionista. E Zeca não era exceção. Corria na lanchonete, cedia sua vez no jogo, fazia o que ela pedisse. Todos disputavam suas atenções.
E, mal ela saía, principiava a discussão.
- Isso não é para vocês, não! - zombava Giba.
- Olha só a cara dele! Pode perder as esperanças! - retrucava Maurício. 
- Chefe de boys é pouco pra ela!"
(p. 9)

Outros personagens, do núcleo de boys, também eram interessantes: Shiro, e sua dedicação aos estudos de computação; Carlinhos, que esconde no seu discurso e roupas vistosas um mundo bem diferente; Russinho e Claudionor, que são a personificação dos "meninões" da turma, ainda ligados em fliperamas e brincadeiras infantis; e Maurício, que é a cabeça mais realista e questionadora do grupo, chegando até mesmo a algumas investigações no meio da trama. 
Outra personagem, em escala social ainda mais inferior, era a copeira, Ermelinda. A personificação de toda encarregada da limpeza, próxima aos grupo dos boys, quase como uma mãe briguenta.
Além de Maurício, temos como outro amigo de Zeca o Batista, seu cunhado e a pessoa que lhe indicou para trabalhar. Uma das duas pessoas de núcleos acima dos seus que ouvem seus anseios e lhe auxiliam no sonho do jovem de melhorar de vida, além de Sarita - que, diferente de Glorinha, não usa sua beleza como forma de poder entre os homens.
Ah, sim! Ainda tem uma participação relâmpago de uma celebridade da vida real, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Apesar de ser uma trama bem datada (hoje, a influência da informática é maior, sem contar a existência das redes sociais, algo impossível 33 anos atrás), a experiência de Galdino enquanto profissional de Comunicação Social e em agência de publicidade é um elemento a mais para esta história. Não é à toa que está na minha lista de livros mais amados da Série Vaga-Lume!  



Tem como ler agora? SIM! Pega este link aqui (embora com MUITOS erros de edição e sem imagens) e siga a leitura!

terça-feira, 5 de novembro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (13) - UM ROSTO NO COMPUTADOR (Marcos Rey, 1992)


Muita gente boa só começou a conhecer a internet graças à Glória Perez, que, no áureo ano de 1996, mostrou como a Internet (e a informática como um todo) funcionava (e funcionaria mais à frente, com maior intensidade) na novela "Explode Coração".

Enquanto (ainda) não comento novelas, deixo um link aqui sobre esta!
Mas, se for pra falarmos de computação, voltemos uns seis anos antes pra dar uma olhada no que o Marcos Rey (mais uma vez, afinal, ele é o rei da série Vaga-Lume!) andou colocando em um livro:

"Leo entrou e logo viu o primo na sala, como sempre sentado em sua cadeira de rodas. Gino estava alegre. Aliás, ele sempre estava alegre, mas naquele fim de tarde parecia mais alegre ainda.
▬ Vamos para meu quarto ▬ disse, fazendo a cadeira rodar.
Leo acompanhou-o e, ao entrar no quarto, exclamou:
▬ O que é isso!?
▬ Um computador. Comprei com economias das traduções que fiz.
▬ Deve ter custado uma nota!
▬ Custou, sim, mas vai ser muito útil. É a máquina do futuro.
▬ Lá no hotel tem computadores, mas não sei lidar com eles. Você sabe?
▬ Estou aprendendo.
▬ No que ele vai ser útil?
▬ Vai me ajudar muito no meu trabalho e até para esclarecer mistérios deve servir."
(p. 12)

Embora eu, geralmente, não introduza meus textos com um trecho do próprio livro, achei melhor dar esta situada para apresentar uma obra (a penúltima por ele publicada na série) que é considerada o "gran finale" da "quarteologia" (gostaram? Nem sei se existe este termo, mas fica como neologismo) que o público curtiu na Vaga-Lume.
Chama-se "um rosto no computador".

Capa original (1992)
Pra situar vocês (até porque essa é a primeira vez):
Marcos Rey criou esta obra baseada em um trio de protagonistas detetives: Leo, Gino e Ângela, jovens que adoram uma investigação e passam por alguns perigos por isso.
Mas a introdução deste livro já pode ajudar muito pra falar sobre:

Desculpem, mas é o melhor resumo que eu posso dar. Pelo menos no que tange à criação de Marcos Rey.
Leo é o menino que trabalha desde cedo, como empregado do Emperor Park Hotel, um hotel de luxo (onde se situa o primeiro crime, em "O Mistério do Cinco Estrelas"). Gino, seu primo, também trabalha, mas ele é paraplégico e sua atuação é mais mental, como enxadrista e tradutor. Ângela é uma moça rica, moderna, com quem os dois se envolvem, mas Léo é quem acaba namorando a moça. 

"Tia Zula entrou no quarto do filho. [...] Encontrou-o diante do computador, mas com os olhos fixos
numa foto de Ângela estampada em um jornal. [...]. Zula, por detrás dele, ficou
olhando a foto.
▬ Ela sempre sai bonita nas fotos. [...] ▬ observou.
▬ É verdade ▬ concordou Gino.
▬ Você gosta muito dela, não?
▬ Quase tanto quanto Leo ▬ respondeu. E, para o entendimento sensível de
sua mãe, tudo estava dito."
(p. 125)

Esse triângulo amoroso, de certa forma resolvido (obviamente,coloquei o fim sem spoilers!), resolveram crimes que a polícia, por si só, não conseguiria resolver sozinha. Mas, no caso deste livro, há um detalhe interessante: além da tecnologia, há o que chamaremos de "reboot" (uma versão com outro encaminhamento de história, segundo o Wikipédia) de uma obra clássica: "O Colecionador", obra de 1963, de John Fowles. Pra não perder o fio da meada, há uma resenha muito boa sobre este livro (clique aqui, por favor).

Capa da Ed. Global, 2013. Honestamente, a melhor capa e super atual! (primeira vez que digo isso)
A história entrelaça Léo, Gino e Ângela a uma jovem baiana: Camélia, cujo nome artístico é Lia Magno. Órfã, fugiu da Bahia - em uma das mais sensacionais fugas como ilegais que já vi na história da literatura (vai tentar entrar como ilegal hoje, em pleno século XXI, num avião, pra tu ver!) - para São Paulo, onde havia entrado em contato com um certo Bandeira...
Não lembra do Bandeira? O livro até situa...

"O delegado olhou para uma folha de papel datilografada:
▬ O senhor já teve problemas com a polícia, não?
▬ Sim, mas nada foi provado. Imagine que me acusaram de manter uma espécie de escolinha para meninas ladras. Eu que sempre me preocupei com a infância desamparada!" 
(p.53)

Mas, se não lembrar, há duas semanas, um livro há de dar uma dica!

Enfim, Camélia se torna Lia Magno - e entra em uma concorrida competição para o concurso "A Garota da Capa", onde a vencedora ganharia 50 mil dólares - que ainda é um grande dinheiro hoje, mais ou menos 200 mil reais, considerando que eu vi hoje (16:44 do dia 04 de novembro de 2019).



Imagem do livro.
 Enfim, paralelo a isso, um rapaz com problemas mentais (mas de inteligência rara, família tradicional e viciado em mulheres bonitas) também se hospeda no Emperor e se fascina por Lia. Na história, ela percebe e já dá sinais para Léo (que, para o ciúme de Ângela, é quem se envolve na organização do concurso) sobre o assédio. Em meio à descoberta dos parentes (que não sabiam o que ela fez) e o professor Bandeira (que queria lucrar às custas dela), a garota, assim que vence o concurso, à revelia de Jorge Aragão (não o cantor, mas o empresário concorrente) e sua candidata, a belíssima Sandra Mar, acaba sendo sequestrada. Cabe a Léo, Ângela e Gino juntar os pedaços soltos e elucidar o mistério, onde um filme de terror, conflito entre empresários, buquês de camélias, sorrisos, flashes e uma disputa aleatória de  xadrez virtual apimentam a questão.

O que é massa nesta história? Eu já disse! Marcos Rey coloca seus personagens clássicos em uma investigação aos moldes de uma obra clássica e montando estratégias para a elucidação. Sem contar a participação de Guima, personagem que não está no trio, mas é auxiliar no desenvolvimento da trama - aliás, em todas.
Mais que isso, é uma chance de rever personagem de outros tempos, como o caso do Professor Bandeira (um recurso que outros autores já fizeram ao longo da série).
Embora o leitor saiba quem é o culpado e como ele funciona, mostrando suas ações e jogo de pistas falsas, é interessante ver como a investigação se desenvolve. Eu, particularmente, só li "Um cadáver ouve rádio" (sim, preciso tomar vergonha e ler os outros dois livros; e, sim, esse livro precisa ser resenhado também) e a estrutura narrativa é muito próxima: um crime envolvendo alguém que era previamente conhecido pelo trio, a busca por suspeitos, rebates falsos, alguém que acaba sofrendo uma agressão no meio da história e, por fim, uma estratégia ousada do trio para agarrar o bandido. Mas, como diria a Lisbela, "a graça não é saber o que acontece, mas como acontece".

Tem como ler a história? Sim, inclusive esse livro foi o mais fácil de achar (duas opções) e todas elas preservando o formato original da série. Clique aqui pra ler a história. E fica o pedido: quem conseguir achar a edição mais recente, da Editora Global, onde colocam a menina como negra real oficial (*_*), QUERO. Grata.

Bom, se tudo der certo, semana que vem eu coloco mais uma história.

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Ou vocês REALMENTE ACHARAM que eu não ia apelar pra um GIF hoje???



terça-feira, 29 de outubro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (12) - A VIDA SECRETA DE JONAS (Luiz Galdino, 1989)


Ah, os anos 1980 e 1990 com suas taras por seres extraterrestres de outro planeta...


Época boa em que a gente podia ver autópsias com alta possibilidade de ser fake news aparecendo no Fantástico...


Bom, mas eu que não vou ficar dando corda pro tema, porque isso aqui é introdução e não o ponto do texto. Eu fiz estas introduções, porque, no meio de tanta coisa rolando na época, não seria surpreendente que a Série Vaga-lume não adentrasse na temática que mais tragou fãs na minha infância, antes de vampiros purpurinas e bruxos fazendo futebol de vassouras e... Ah, xá pra lá.
A gente tá falando de ET's, então vamos falar de um menino de "outro mundo": O Jonas!


Bom, mas a obra não fala muito sobre e.t's no sentido de aventuras extraodinárias, a história é mais comum e interessante do que se imagina.
Até porque Jonas aparece, do nada, em um dia em que os jovens Geninho, Ana Paula, Claúdia, Rafa, Rubão e Maurício estão conversando na praça, exatamente no dia imediato à noite em que o primeiro testemunha uma aparição de um objeto não-identificado.

"Colado ao corpo do pai, Geninho levantou a vista até o ponto onde o objeto flutuava. O coração batia como um tambor e o corpo tremia de cima a baixo. A curiosidade, porém, venceu. Jamais havia visto algo semelhante.
A parte inferior do objeto tinha a forma de uma bacia reluzente; e, em volta, luzes coloridas vermelhas, alaranjadas e amarelas, piscavam sem parar.
— Pai, isso aí... Isso aí parece...
— Não diga nada, Geninho."
(p.9)

A aparição de Jonas é repentina e misteriosa não só por isso, mas também por ser um menino que não se lembra de nada da sua vida. Nada, nem mesmo seu próprio nome - Jonas é o nome que Ana Paula lhe dá, ao longo da história.

"E assim prosseguiu a convivência. Na verdade, era uma convivência estranha, com Jonas, já que
ninguém sabia de onde ele vinha ou onde morava. Entretanto, apesar do tipo de vida que levava e das circunstâncias incomuns que cercavam sua pessoa, seus modos evidenciavam uma forma de relacionar-se diferente dos menores abandonados que pediam esmolas pela cidade.
Ana Paula e Geninho negavam-se a aceitar que Jonas tivesse algum problema mental, como teimavam Cláudia e Maurício. No entanto, havia
algo de esquisito, não podiam negar. Ninguém esquece o passado, o que fez, onde esteve no dia anterior, sem mais nem menos." (p.22)

O garoto precisa adaptar-se não somente a um mundo repleto de tecnologias surpreendentes, mas também ao preconceito: Maurício, um garoto rico, é o primeiro a implicar com Jonas e, constantemente, tenta humilhá-lo, com direito à jogar seu cachorro contra o menino:

"Entrou e, ao passar pela sala intermediária, ouviu Rubão cochichar:
— A Ana Paula vem vindo pra cá! Aproveite!
Desconfiada, a garota apressou os passos e, ao atingir a cozinha, ouviu a corrida e os latidos do cão no corredor lateral da casa.
— Maurício! Rubão! O que estão fazendo?
— O Fox fugiu! — gritou Rafa, aparecendo à porta do quintal.
Ana Paula voltou correndo para a frente da casa, a tempo de ver o cão perseguindo Jonas pela rua.
— Não! Não! Sai! — gritava o jovem, apavorado.
Encostados à mureta da rua, Maurício e Rubão deliciavam-se com a cena. Ana Paula ficou furiosa:
— Chame o Fox, Maurício! Ele vai pegar o Jonas!
Aconteceu conforme a previsão. Em pouco, o cão alcançava o fugitivo, metendo-lhe uma dentada na barriga da perna."
(p. 24-25)

Mas esse problema é o menor de todos o que o menino misterioso sofre nas mãos do povo. O ódio de Maurício e a desconfiança de Isaura - uma empregada amante da bebida que jurava ver o Jonas durante a noite, levam a uma onda de rejeição na cidade. É o apoio de Ana Paula, Geninho, Rafa e Padre Olavo que darão apoio ao Jonas, enquanto ele procura se lembrar da sua vida e misteriosos acontecimentos espaciais aparecem na cidade...

O que é massa nesta história? O Galdino usou um tema recorrente da ficção em voga juvenil (ET's) para trabalhar com coisas que, no futuro, a gente conheceria como bullying, preconceito e xenofobia. Não somente com Jonas: com Geninho, o mais pobre do grupo e o mais próximo das meninas; com a Isaura, desacreditada pelas pessoas por ser "ligada em uma bebidinha" ... Mas, o momento mais impactante é quando acusam do Jonas de um crime, o de vandalismo, e como isso é colocado, botando o garoto como suspeito sem prova alguma, apenar baseado no fato dele ter sido afastado da escola.
Para além da pergunta "Jonas é ou não é?", o autor cria situações em que qualquer criança de rua sofreria na vida real: a desconfiança e a incredulidade. Vale a leitura em tempos sombrios como esse, onde tá cada vez mais evidente ver este povo da história...

Tem como ler agora? Sim, e estamos de volta com o formato Vaga-lume! (A imagem, inclusive, veio de lá)
Só ler aqui e pronto! Bon voyage!


Sim, hoje eu me empolguei nos gifs! Ficando viciada nisso, kkkkkkkkkkk


terça-feira, 22 de outubro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (11) - SOZINHA NO MUNDO (Marcos Rey, 1984)



E lá vamos nós, depois de "Corrida Infernal", "Enigma na Televisão" e "Doze Horas de Terror" (em ordem decrescente de aparição, linkei todas para quem quiser (re)ver), colocar mais uma história de Marcos Rey neste projeto que eu prometo que...


Esquece. Prometo mais nada, então!

Vamos postar agora, uma história clássica de perseguição, herança, parente desaparecido e uma menina do interior relacionando-se com o bem e o mal dentro da cidade grande.

Capa original (1984), e desculpem a logo de outro site.
"Sozinha no Mundo" me veio com uma premissa à qual sempre me é instigante: o tema da perseguição.
Vamos dizer que mais da metade da história se resume assim:


OK, nem tanto. Mas vamos nós na história:

Vamos conhecer a história de Maria Paula, vulgo Pimpa, que vem do interior com a mãe em busca de um parente. O problema é que, no meio do caminho, a senhora morre, vitimada pela moléstia que a obriga a sair de sua terra natal. Viúva de um homem que as deixara havia anos, só dependia deste misterioso "tio" Leonel.
Quer dizer, agora, só Pimpa estava:

"Á garota, agora restavam a mala de viagem, a bolsa de Dona Aurora com o dinheiro e Lila, a oncinha de pelúcia, cujos olhos fosforescentes brilhavam no escuro. Órfã de pai e mãe, só tinha um parente, “tio Leonel” – que nem tio era – e cujo endereço em São Paulo, desconhecia." (p.4)

A princípio, a jovem consegue guarita através da Dona Berenice, uma senhora bondosa que a acolhe como filha, mãe de quatro filhos - entre eles, Noel, um jovem com espírito aventureiro e que sonha ser cineastra. Ele e Pimpa logo afeiçoam-se um ao outro, sendo ele a única pessoa com quem ela manterá elo durante toda a história.
E quando digo "elo", é porque a vida de Pimpa fica bem complicada com a aparição de Gertrude, uma assistente social bastante misteriosa que não parece ser muito amigável. Graças a essa mulher, a jovem deixa a casa de Berenice e enfrenta a cidade grande, passando por um parque de diversões, uma "escola" de meninas delinquentes (quando participa o personagem Professor Bandeira), um pensionato e até na casa de uma ex-atriz. 
Enquanto se esconde da Gertrude, no entanto, Pimpa, ajudada por Noel e sua família, além de alguns amigos que vai colecionando em suas andanças, claro!, vão procurando maneiras para encontrar o "tio", que aparentemente está desaparecido.

O que é massa nesta história? A trama é ágil e, intercalada aos momentos de correria e tensão de Pimpa, há muitos momentos divertidos e tocantes, como a história de Dona Carolina (a dona do parque de diversões), de Marina (a jovem que Pimpa conhece no pensionato) e Marta Vidal, a ex-atriz. 
Outros personagens ajudam na movimentação da trama: Hugo Cassini, o ilusionista que consegue um emprego para Pimpa e Professor Bandeira - aliás, um personagem tão singular, um bandido que exigia de suas "alunas" boa etiqueta e talentos teatrais, que, anos depois, seria agente de modelos em "Um rosto no computador", livro que o Marcos Rey publicaria em 1992 - e espero falar dele aqui um dia.
Além disso, é uma obra que sempre irá figurar entre os melhores livros da série.

Tem como ler agora? INFELIZMENTE, não com o formato clássico da obra, como alguns livros que aqui já pus, mas, sim, tem um link aqui. Cliquem e boa leitura!

Bom, esperemos que dê pra seguir com essa série.
Vou fazer o...
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OK! Até um dia desses que me der na telha. Grata! =*

terça-feira, 14 de maio de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (10) - O SEGREDO DOS SINAIS MÁGICOS (Sérsi Bardari, 1993)



Eu até já imagino a cara das almas caridosas que ainda me leem se eu repetir a ladainha clássica de que "tô voltando a esse blog, vou postar mais"...

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OK! Compreensível, gente. 
Mas, prossigamos...

Hoje é dia de fazer um tour pela Bahia e por Portugal, dar uma estudada rápida e descompromissada pela história da monarquia portuguesa e religiosidade africana, entrelaçadas na história de uma família desunida por conta de questões entre o amor e o racismo - numa caça ao tesouro onde qualquer sinal deve ser observado atentamente.
Vamos descobrir, então, qual é o "segredo" desta obra?

Capa original (1993)

Este livro foi um dos primeiros que li dos quais não figuravam na parte de trás da capa dos livros da série Vaga-Lume (que, durante anos, foi a referência para quem queria saber todas as obras da coleção, garantindo o "já li" ou "falta ler". A partir da década de 1990, e com novos livros, preferiram colocar uma sinopse adiantando a temática das histórias, e , confesso, foi isso que me chamou a atenção - a história)

"- [...] Olhe bem para a sua cor, para a minha cor. Nós somos negras e o candomblé é a nossa religião. Essa portuguesa que você chama de mãe não tem nada a ver com isso!" 
(página 6)

A história começa com Janaína discutindo com sua tia Conceição, em uma festa em homenagem à Iemanjá, orixá africana que é rainha das águas. A tia quer que ela se torne filha-de-santo como ela, mas a garota contesta. Nesse meio tempo, Maria de Fátima, madrasta da jovem e uma professora de artes portuguesa, recebe uma ligação informando sobre a doença do pai, que mora em Lisboa, chamando a filha e sua enteada para encontrarem-se com ele pela última vez.
Para a filha, um aceno de paz: o pai pede perdão à moça por ter sido contrário à sua união com Raimundo, um negro - mas este sentimento não é compartilhado pelo resto da família, o irmão José Carlos e a tia Mafalda.

"Ao encarar o irmão, Maria de Fátima estremeceu. O olhar dele estava distante; a fisionomia, inexpressiva. E o cumprimento entre os dois foi assim: um seco aperto de mão. Mafalda recebeu a sobrinha com beijinhos nas faces, mas sem muito calor.
Janaína ficou esquecida, estranhando a frieza daquele encontro. Até que Maria de Fátima fez as apresentações.
A velha balançou a cabeça para a garota, sem se aproximar.
—Como vai?
—É a tua filha?—perguntou José Carlos, num tom irônico, medindo Janaína dos pés à cabeça." (páginas 13-14)

Sim, e ainda mais essa: reagiram com mais racismo à Janaína.
A sorte das duas estava no apoio de dois outros membros da família, não existentes durante a treta: Cecília, doce esposa de José e Jorge, o filho dos dois. Ele e Janaína se envolvem e o relacionamento é marcado especialmente pela repetição da história: a desaprovação dos familiares.

Sim, Thaís, até aqui é uma bela história de amor e questão racial. Como tantas outras...

SIM! Mas, eu disse que O PAI CHAMOU A ENTEADA DA FILHA - e tinha motivos. O velho Amendoeira convoca os dois (Jorge e ela) para descobrirem onde se encontrava o tesouro, que pertencera a Mateus Vicente, antepassado da família em tempos áureos - hoje, esta se encontra em franca decadência, prestes a perder o último bem, a casa onde vive quase toda a família.
A motivação de ajudar a família move Jorge, mesmo descrente.
Já Janaína é atraída pela frase "a fé do negro guarda o ouro". E é na intersecção das histórias dos orixás e fatos ou mitos sobre a História portuguesa que trarão as dicas que o casal precisa para encontrar o tesouro.
Só que, seguindo a história bem clichê, tem outra pessoa atrás do tesouro também...

(tá bom, muito spoiler, né?)

O que é massa nesta história? Sérgi escreve uma trama ágil, simplista talvez, mas que trabalha com diversos pontos importantes: a questão racial, a contação de histórias dos orixás e eventos do candomblé (acompanhamos o percurso, ainda que de forma sutil, da sagração de Conceição como filha de santo), a questão do patrimônio histórico (centrada na casa da família Amendoeira e sua luta em mantê-la consigo mesmo com o tombamento do imóvel), além do encaixe interessante que o autor coloca nos conhecimentos do jovem casal - Janaína, com a religião; Jorge com a História - e como a união de duas culturas tão distintas conseguiu mudar os rumos da história.
P.S: tem uma questão bem ligeira acerca do conservadorismo em cima da mulher versus o jeito despojado da protagonista (a primeira negra da série, fica a dica).

Tem como ler agora? A ideia é essa, né? Neste link aqui, você pode ou ler online, ou baixar o pdf tranquilamente. Tem as imagens originais da obra, vale super a pena.

Enfim, é isso. Logo, logo, volto com mais!

Será que você também aguenta esse aqui?

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