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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

MINHA SÉRIE VAGALUME (5) - O JOGO DO CAMALEÃO (Marçal Aquino, 1992)


Na semana passada, eu falei que ia colocar um autor diferente aqui no blog - já peguei dois livros do Marcos Rey e dois do Luiz Puntel. E tou cumprindo a promessa!
Hoje vamos entrar num jogo... Um jogo cujo maior jogador é um homem de muitas faces.
O Camaleão, "em mais um dos seus disfarces perfeitos"!


A história aqui é sobre um jovem - Ricardo - que foge de casa e viaja de São Paulo para Belo Horizonte em busca de um sonho: conhecer seu pai, de quem foi afastado ainda criança, após a separação da sua mãe - motivado "pela maneira de viver" do homem.
No entanto, ainda durante a viagem, acaba se envolvendo em uma aventura perigosa: vira vítima de uma gangue de delinquentes juvenis - a gangue do Camaleão, um homem que ninguém sabe realmente quem é - e, involuntariamente, se envolvendo na disputa do grupo com seu rival, a gangue do Professor.
Também é perseguido por dois policiais (Lima e Murilão), que acreditam que ele é um criminoso em uma missão.
Nesse ínterim, conhece outro jovem - o Quico - com quem trava uma rápida relação.
A história se trava em diferentes questões: quem é o Camaleão? Qual o interesse que um dos criminosos (mais especificamente, o Professor) tem por Ricardo? O rapaz vai descobrir seu pai? Será que ele conseguirá sair vivo e livre desta aventura?

O que é massa nesta história? Marçal Aquino não foca a história simplesmente na figura de Ricardo. Temos as relações entre as gangues do Camaleão (formada pelo Careca, Paulão, Zezé e Valdir, ou Gaguinho) e do Professor (do Vadão, Zé Doidão e Pimentinha), além de focar nas relações interpessoais do primeiro grupo, onde temos a liderança violenta e machista do Careca, a oposição do Paulão, o triângulo amoroso formado pelos dois e Zezé, inicialmente namorada do líder; além da paixão do Gaguinho pelos escorpiões.
A busca de Ricardo, que tenta se livrar da gangue em busca do pai, também é relevante e possui tremendas reviravoltas na história, mas acaba por ser um ponto que se justifica ao longo do enredo (ou não, melhor ler pra entender, né?)

Tem como ler agora? Ainda que, dessa vez, eu não tenha feito citações, sim, sim, temos PDF! Vai clicando aqui, e se delicie com uma obra bem "vagalumista", com as imagens do livro original (a última publicação recente ainda é da série...)

Bom, então próxima terça, teremos mais um livro da minha grande lista de favoritos da série tão conhecida entre os da minha geração que aqui eternizarei. Abraços e até breve!

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

MINHA SÉRIE VAGALUME (4) - ENIGMA NA TELEVISÃO (Marcos Rey, 1987)



Fala, cambada! Tudo certo?
Bom, para esta semana, vamos falar de um assunto que envolve coisas "meio antigas", crimes, um pouco de romance e ação... Um belo de um "enigma na televisão"!


Na TV Mundial, famosa emissora - ou, como nos apresenta o autor, "verdadeira fábrica de telenovelas e shows, sintonizada, diariamente, por quarenta milhões de telespectadores." (p. 10), crimes acontecem misteriosamente. Os assassinados? Um galã de telenovelas, uma comediante, um ator veterano de novela e teatro, um repórter que ameaçava descobrir o caso através da leitura de um livro. A única coisa que sabem sobre o assassino é o bilhete que envia após as mortes, dizendo "Aguarde a próxima atração".
É quando entra Ivo Maciel, irmão de Paulo - o repórter assassinado. Ao se tornar repórter de amenidades no telejornal, o jovem se envolve numa complicada trama em busca do assassino do irmão, envolvendo-se com "punks", as sentinelas - altivas senhoras que se manifestam "contra a imoralidade da televisão", liderado por Petra Santana e Elisa Bastos - aliás, com um trecho interessante, logo no primeiro capítulo da história:

"▬ Se os diretores não nos receberem, falaremos com os produtores e autores daquelas obscenidades. Ou com ensaiadores, atores, atrizes, técnicos, com todos os que trabalham lá. O que não podemos admitir, de forma alguma, é que essas escandalosas telenovelas continuem invadindo nossos lares e desencaminhando a juventude. Onde se viu, beijos que chegam a demorar quarenta e dois segundos?
▬ Como sabe com tanta precisão? ▬ espantou-se uma das sentinelas.
O eletricista também queria ouvir a resposta.
▬ Porque cronometrei ▬ esclareceu Petra orgulhosamente. ▬ E retirando um cronômetro da gaveta: ▬ É igual ao que usam nas competições esportivas. Assisto aos capítulos com isso na mão.
A exibição do brilhante e responsável aparelho equivaleu a um grito de guerra. Agora a Liga estava equipada. Qualquer excesso ou  liberalidade nos programas de televisão seria inapelavelmente combatido."

(página 10)

(sim, eu tou me esforçando pra trazer mais conteúdo, citando até mesmo o texto. Óia como tô evoluindo, gente!)

O que é massa nesta história? Serial killer + cotidiano da televisão + família tradicional brasileira protestando contra "obscenidades"? TUDO ISSO AINDA É BASTANTE RELEVANTE! 31 anos depois, ainda é uma história possível de ser recontada com facilidade. Gosto bastante do relacionamento de Ivo e Renata, irmãos de dois dos assassinados, cujo romance é secundário, mas bastante relevante dentro da história.
Também vale a pena ver o cotidiano da TV Mundial, com suas gravações de novelas, programas. Além de personagens interessantes, como as "sentinelas" (a Liga de Petra e Elisa), Carlos Prata (o ator alcoólatra) e a relação dos personagens com seus familiares... Ops, acho que estou falando um pouquinho demais, hehehehe. Enfim, vale a leitura facinho - como todos os livros de Marcos Rey da série, como já coloquei um na minha primeira postagem sobre a série e, obviamente, terão mais livros no decorrer desta minha série aqui, I promise!

Tem como ler agora? MAS É CLARO QUE SIM, GENTE! Não foi à toa que pus uma citação pra atiçar a curiosidade. E a leitura vem com as imagens da própria série original (já que este livro também foi republicado pela Ed. Global). Para tal, só clicar aqui.


Bom, semana que vem, tem mais! Vou tentar aproveitar um novo escritor, pra dar mais tutano aqui (embora não consiga me livrar dos clássicos, hehehehehe). Até a próxima terça!

terça-feira, 27 de novembro de 2018

MINHA SÉRIE VAGALUME (3) - MENINOS SEM PÁTRIA (Luiz Puntel, 1988)


O selecionar desta semana foi baseado nos acontecimentos recentes.
Em meio a todo o panorama político dos últimos tempos, o livro que iremos apresentar, sob a acusação de ser "um livro comunista", foi censurado em uma escola.
Quando soube de tal notícia, me deu uma revolta tão grande, mas tão grande sobre a ignorância humana (mais especificamente a tupiniquim, talkêi?), que a terceira postagem sobre os livros da Série Vaga-Lume que mais me marcaram, vamos fazer uma viagem pelo Brasil, Chile e França da década de 1970... As terras onde passaram os "Meninos Sem Pátria", o quarto livro mais vendido da coleção.

A obra de Luiz Puntel retrata a família de Marcão - cujo pai, José Maria, enfrenta dura perseguição como jornalista, num meio em que os horrores da ditadura começam a surgir. Com a mãe grávida e um irmão mais novo, Marcão é a figura principal da história. Além de apresentar como pano de fundo as ditaduras brasileira e chilena, a história foca em como Marcão (ou Marc, como será chamado na França) e sua família lidam com a condição de exilados: suas relações com outras culturas, as amizades e até mesmo o amor, centrado na figura da doce Claire, a francesa com quem o protagonista terá um relacionamento bonito, porém com percalços devido à insegurança da condição do rapaz.

O que é massa nesta história? Não é a primeira história do Puntel aqui - vale lembrar o livro da semana passada - e provavelmente não será o último. Mas o autor tem uma sensibilidade imensa para mostrar como é a vida familiar de um perseguido político (que é o que José Maria se torna) e de crianças que crescem sem ter uma identidade patriótica. Além de Marcão, o autor constrói tipos como Ricardo (o irmão, no início, mais novo), quando ele se atrapalha com o português e com os símbolos nacionais (como o hino) e Pablo, o irmão que nasce no Chile e que, de todos, tem sua posição na família como insegura... 
Há humor, há romance (bem água com açúcar), mas tem também ação. Afinal, a família foge de DUAS DITADURAS, tem que ter aquele momento mais perigoso... Pois, ali, cada membro era sagrado, e a ideia era manterem-se, todos, unidos e vivos. Também é um bom acerto o foco na família, sem tirar a atenção maior do narrador-personagem (ué, não tinha dito ainda que o Marcos era quem contava a história? Tou fraca!).

Fica a dica! Pelo amor de Jesus Cristinho, antes de ler a história, faça um favor a si mesmo(a) e leia nos livros de História sobre as ditaduras latino-americanas... NOS LIVROS, NÃO NO YOUTUBER!
Porque, convenhamos, né? Gente que acha que lê e coloca caraminhola a respeito de um livro pelo tema...
Agora, se você for um contrário voraz do termo "ditadura" e acha que a revolução tirou a ameaça comunista (pausa pra rir) do Brasil... Leia, quem sabe ajude a abrir um pouco a cabeça, né? 


EDIT (13/11/2019)
Tem como ler agora? SIM! Quando postei, há quase um ano atrás, eu não tinha, nas primeiras obras, um costume de pesquisar se tinha PDF ou não - ou melhor, até tinha, mas não era uma obrigatoriedade.
Mas, como pus este dado como algo inerente à estas postagens temáticas, é justo que, hoje, eu atualize os posts antigos e disponibilize as obras para vocês. E assim o faço agora, kkkkkkkkkkkkk

No caso deste livro, ele só pode ser lido se você fizer download neste link aqui. Sim, ele funciona, acabei de verificar (só não deixe o AdBlock ativado, beleza?)


(Mas, aviso logo que não pertenço a partido algum, Lula Livre só quando provar a inocência e Jair Bolsonaro é um maluco, que foi eleito pela maioria, não por mim).

terça-feira, 20 de novembro de 2018

MINHA SÉRIE VAGALUME (2) - AÇÚCAR AMARGO (Luiz Puntel, 1986)


A segunda aparição da série Vaga-lume teve, digamos, uma certa dificuldade em prosseguir... Há muitos, muitos livros, e tanto a falar sobre eles! 
A escolha da obra de hoje se deu porque foi um dos poucos livros da série que prosseguiram comigo, embora eu tenha feito a leitura oficial no ano de 2006, quando tive acesso através da biblioteca do Jandira Botelho, onde trabalhei.
Do ano de 1986, Luiz Puntel retrata um problema social que até hoje ainda é um tema caro à sociedade, o trabalho dos trabalhadores do campo, as injustiças e o machismo, numa história de coragem e amor com a resistência de um feixe de cana.

Capa da 1ª edição.
A história gira em torno de Marta e sua família - Pedro, o pai mandão que descarrega sua fúria sobre a menina; Altair, o irmão que trabalhou desde cedo e é o grande amor do pai, e Zefa, a mãe doente e subserviente ao marido. Quando são expulsos da fazenda onde ela viveu desde que nascera, os quatro começam a conhecer a realidade dos trabalhadores rurais: a exploração, a negligência que termina por ceifar vidas, a falta de amparo e de direitos trabalhistas. Enquanto isso, a menina se esforça para estudar ( mesmo contra a vontade de Pedro) e, com a sua coragem e a mágoa carregada por anos pelo machismo vivido em casa, acaba por se unir aos boias-frias na luta contra a opressão que, através do sindicato, começam a conhecer.

O que é massa nesta história? Puntel coloca o mundo na perspectiva da jovem Marta, nos anos que ela passa com os pais na luta pela sobrevivência. A família atravessa as desavenças, as tragédias, os preconceitos e explode juntamente com a luta dos cortadores de cana. A história é contada de forma leve, como se o narrador estivesse interessado em um diálogo com o leitor. O modo como os personagens são colocados dentro da narrativa - alguns descritos através de diálogos, como Ângela, uma menina que se torna rival de Marta em determinado ponto da história; outros através da visão concedida pelo autor.
O ponto forte de Puntel está em como ele coloca os diálogos, especialmente quando Marta dialoga com Pedro ou Zefa (momentos bastante dramáticos na história). Marta, aliás, nos leva para dentro de sua vida, de seus pensamentos, de suas ações... Digamos, bem heterodoxas.

Fica a dica! "Açúcar amargo" trata de temas ainda bastante atuais: a exploração do patrão sobre o empregado, os perigos vividos pelo trabalhador do campo e, dentro disso, as relações entre homens e mulheres. Apesar dos 32 anos da publicação pra cá, ouso dizer que muita coisa, MUITA COISA MESMO, ainda não mudou...

 EDIT (13/11/2019)
Tem como ler agora? SIM! Quando postei, há quase um ano atrás, eu não tinha, nas primeiras obras, um costume de pesquisar se tinha PDF ou não - ou melhor, até tinha, mas não era uma obrigatoriedade. 
Mas, como pus este dado como algo inerente à estas postagens temáticas, é justo que, hoje, eu atualize os posts antigos e disponibilize as obras para vocês. E assim o faço agora, kkkkkkkkkkkkk

O livro está disponível graças ao Google Drive, neste link. Digitado direitinho, e com as imagens originais.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Por que estou voltando para cá? Elementar, meu caro...

Primeiro, se começa com a vontade. Vai rolando um bocado por dia, nas horas mais inesperadas, nas mais reflexivas. Você bebe uma cerveja, e no caminho da embriaguez, pensa que poderia estar dando algum nexo às palavras repetidas, que poderia dar a forma cursiva ou da fonte favorita no tamanho 11 de um smartphone. Você tá descendo do ônibus com sacolas e bolsas cheias e pensa na vida, se perguntando o que diabos estava fazendo que ainda não está guardando de forma física aqueles momentos todos, aquele ponto da existência. Você tá pensando como contar pra alguém daquele momento ridículo ou perfeito, pensa na maneira indireta... É preciso reconhecer estas mensagens, esse link direto de eternizar as coisas que passam por sua cabeça. Momento ruim, momento bom. Escrever é revelar, é botar pra fora as emoções, a vida.
É preciso também, pra praticar. Vá por mim, escrever também exige uma prática pra não se tornar um esforço difícil. Como aquele exercício da academia, se você para de malhar e ficou protelando o retorno, no dia da decisão, pra voltar ao ponto antigo é bem doloroso. Senti isso quando vi a redação do ENEM este ano. O tema me era fácil, eu sou o elemento relativamente passivo no processo do uso dos meus dados pela internet... Mas, ao tentar elaborar mentalmente uma redação, fiquei extremamente "travada". Além de não estar numa situação de necessidade (não prestei o exame este ano), a falta de uso impedia com que minhas ideias de texto fossem retiradas por eu mesma ver "besteiras" no meu argumento. O meu criticismo tendo maior poder sobre meu escrever, ganhando de WO. Então, hora de retomar a prática, né?
Também é preciso estar sozinho. Minhas maiores épocas de criação foram nos períodos mais críticos, quando eu tinha tanto a dizer e poucos a dar atenção, o medo pelo tanto de porradas que a vida me deu em se tratando das relações interpessoais.
Quando a gente tem a ausência de vazão e mente precisa soltar, e sabe que precisa muito disso, aí a mão sente mais vontade de escrever.
Mas, também é preciso querer fugir. Cansa ser a pessoa, por exemplo atual da minha existência, ser a pessoa que vê a merda que está sendo construída diante dos olhos de todos e descobrir que está no papel da Cassandra dos troianos na vida. Cansa a vida, a rotina, o ciclo, as pessoas, as coisas. E isso não é anormal... Todo ser humano precisa de fugas, e eles encontram de diversas formas... A minha sempre foi, acima de tudo porém facilmente acessível à alianças, a de escrever. Além disso, cansa ter uma vazão ampla, virtual, cheia de gente que tá ali dando uma banana pra você estilo Marco Aurélio da novela "Vale Tudo", repleta de uma energia ruim, daquela falta de compreensão... Isso me piora mais ainda o sentimento de solidão, não tem coisa mais solitária do que um Facebook, é a clássica cena da festa lotada e um moleque isolado por lá. Ele pode até ficar lá, aproveitar para dar uma dancinha e talvez até passando despercebido, ou passar querer dar um passeio na rua, ficar olhando pro nada pra depois voltar... Aliás, o último sempre foi o meu modus operandi existencial. Reflexo da minha necessidade extrema de liberdade, pobre pássaro preso ainda que não pareça.
Também é uma forma, tendo como gancho meu cansaço existencial, o tédio enorme da vida (apesar do momento novo em que vivo, novo e claramente especial), a forma de mandar um "vai se foder" às convenções sociais que tenho que segurar nos ombros no cotidiano.
Não, isso não significa que eu vou começar a dar a louca e desrespeitar ninguém.
Nada a ver.
Significa que respeito a mim mesma, respeitando os outros como a lenda dos ingleses que, ao falar mal do governo, subiam em uma caixa para não estar em piso inglês.
Quando eu volto a escrever, quer dizer que eu, nos cadernos e blog (tão pessoal, tão pífio, tão longe do mundo da internet e até do meu às vezes, apesar de ser uma rara testemunha do que eu era de verdade em 12 dos meus 32 anos), sim, estou voltando a MINHA existência. Da minha maneira.
E,
Tanto o caderno como o blog,
Só lê
Quem quer,
E
Quem tem
Estômago
Para ter uma overdose das minhas insanidades.

(porque não prometo falar nada além de bobagens minhas, digo logo!)
.
..
...

** Ah, sim. E acrescente a tudo isso a evolução tecnológica, especialmente em se tratando do blog)**
.
..
... Então, é isso. Tá dando vontade de escrever em mim. Se for um surto de momento, aproveitemos ao máximo, né?

terça-feira, 13 de novembro de 2018

MINHA SÉRIE VAGALUME (1) - DOZE HORAS DE TERROR (Marcos Rey, 1993)


Bom, gente, a ideia é recomeçar aqui. E este recomeço eu vou colocar a inspiração neste texto publicado pela Revista Bula para apresentar o que (por algum tempo) será a chance de voltar ao passado e relembrar as boas histórias que vi nesta série ao longo dos anos.

Pra quem nunca ouviu falar, a série surgiu na década de 1970, pela Editora Ática, e foi o principal veículo da literatura infanto-juvenil ao longo de quase quatro décadas. Foi através dele que o autor Marcos Rey se tornou popular, assim como Lúcia Machado de Almeida, Luiz Puntel e Marçal Aquino... (se você lembrou de algum destes nomes, é sinal de que, em algum momento da vida, teve contato com a série).

Minha ideia aqui não vai ser listar, mas apresentar grande parte dos livros que marcaram minha infância e adolescência. Então, não esperem colocações ou alguma possibilidade de ordem (alfabética, ano de publicação... Nada disso). A ideia vai ser conforme meu anseio e vontade.

Então, vamos começar?
Vamos, então, brincar com Marcos Rey e um livro que, por sua ideia, vai soar familiar a fãs de séries americanas...

Capa original da 1ª ed. do livro na série. (1993)

Doze horas de terror vêm com uma premissa singular, que os mais jovens vão associar à série "24 horas": a história em tempo real e a estrutura era que cada capítulo durasse um período de tempo. No caso do livro, cada capítulo podia durar entre 15 minutos a uma hora, não mais que isso.

A história fala sobre a noite (12 horas) de dois jovens (Júlio e Ruth), numa trama repleta de ação. Ele, um jovem chegado do interior, encontra, ao voltar pra casa depois do trabalho,  tudo revirado e recebe uma ligação de uma pessoa misteriosa que ordena que ele saia do local. Ela - Ruth - vive um relacionamento com Miguel, irmão do protagonista. É quando este - que morava com o irmão, mas mal convivia com ele - descobre que, na verdade, existe um mundo de drogas e violência. O mundo milionário do tráfico. O mundo vivido por Miguel.
Durante a perseguição, muita gente aparece na história. Uns ajudam o casal, outros querem destrui-los. Julio e Ruth precisam cumprir uma missão, além de lutarem pela sobrevivência até o amanhecer.

O que é massa nesta história? Marcos Rey sempre foi meu favorito da turma de autores do Vaga-lume (e a coleção era "bem panelinha" até a década de 1990). A história junta ação, romance, emoções, apresenta o submundo de uma cidade grande e como uma pessoa pode mudar sua percepção de mundo em pouco tempo.
A impressão que dá é de um relacionamento atípico dos filmes de ação da época: Júlio é o menino da história, inofensivo e inocente, que se mostra forte e corajoso; Ruth, com a agilidade e o conhecimento da "menina de rua" que foi durante a infância, durona mas, no fundo, carente de amor.
A situação de equilíbrio entre os personagens traz a empatia natural do leitor pelos personagens (algo bastante comum relacionado aos livros de Rey).

Fica a dica! Os livros do Marcos Rey, atualmente, pertencem à Ed. Global - que não tiveram tanto cuidado em manter a atmosfera sombria nas imagens (característica essencial da série, vale registrar). Então, sugiro que procure um sebo e pegue uma versão tipicamente "vagalumista"!

Tem como ler agora? YES, NÓS TEMOS PDF! Dá uma baixada por aqui!

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Crítica literária feita para um livro que eu nunca publiquei...

Num dia desses, do nada, lembrei da primeira história que escrevi.
Tinha 16 anos. Quando comecei, que fique claro. Escrevia febrilmente minhas coisas até as portas do vestibular - meu primeiro - começarem a surgir no horizonte. Retomei e finalizei a história aos quase 18 anos, quando estava no período entre minha última aula no Ensino Médio e a primeira no curso de História, naquela coisa de "ei, eu preciso terminar isso.".
Eu não sei quando foi a última vez que o li. Que não está comigo, é fato - especialmente se foi entre 2007 a 2009, quando rolou a reforma geral em casa e muito papel velho foi eliminado. Mas, era estranho: Eu o achava já tosco (hoje, bom... Eu explico mais adiante), mas adorava reler porque era uma coisa que eu tinha ACABADO.
Que fique claro: Eu já iniciei inúmeros projetos de escrita e abandonei. Eu sou assim com o ato de escrever, desde sempre (então, dizer agora que o TCC está sendo uma dificuldade para pôr no papel não é tão exagerado assim), de ter cadernos incompletos, histórias inacabadas, espaços em branco, falhas no percurso. Isso evoluiu, porque agora conto com um pouco mais de senso literário e tive outra história fechada na vida. Mas, ainda terei esta marca.
Mas, enfim, voltando o fio da meada...
A história era o seguinte: Numa fuga temporária do orfanato, um casal de adolescentes acabam testemunhando acidentalmente um crime (que seria uma queima de arquivo de um grupo criminoso, tipo a Máfia.). Acabam sendo vistos e começa uma perseguição bem louca, que incluía roubo, sequestro, morte.
Os dois, num dado momento, acabam por se abrigar na casa de um milionário, que demonstra um apego pela menina (a essa altura, lógico, o casalzinho (no começo da história, aquele típico casal da Malhação, uma treta desgraçada pra entender que se curtia) já tava na vibe do "namorando". Bom, eles ficaram na deles, desconfiados, até os dois contarem sobre o drama deles ao velho, que preparou uma arapuca e ia matar os dois de forma que parecesse suicídio. Quase mata a menina (cortando seus pulsos e provocando um incêndio - caramba, vocês dirão, olha a novela mexicana!), mas ela é salva pelo (preciso dizer quem?).
Ela sobrevive, eles descobrem que tem parentes vivos (a menina era uma sobrevivente, quando pequena, de um desmoronamento na favela que matou sua família e é o avô materno (rico e com a velha treta com o pretendente negro e pobre) que a acha; ele perde o pai missionário e é colocado no orfanato de forma temporária, porque ele não tinha nenhum contato com os tios e a Justiça foi procurá-los. No momento em que a história ocorre, os tios o descobrem e vão atrás dele) e, por tabela, se afastam um pouco, até por conta da tensão emocional. É um último momento de tensão (um dos bandidos reaparece) que faz eles voltarem. A história tem um epílogo, que é cinco anos depois, eles se reencontrando depois de uma viagem dela.
Tinha um prólogo também. Era falando sobre a morte da família de Tiffany (olha o nome que eu dei a menina!), mas pela perspectiva da mãe dela.
Como veem, pela estrutura, fui bem exigente, né? =P
Porque bebi de algumas fontes: Marcos Rey (Sozinha no Mundo), Pollyanna, Sidney Sheldon, provavelmente as novelas com Thalia e um bocado de músicas melosas que minha mãe botava no som, algumas eu copiava o trecho, incluindo na história trilha sonora...
Hoje, eu teria duas visões distintas sobre o que escrevi.

Uma: Como eu era péssima. Vi no meu texto inúmeras situações onde faltavam coerência, que estavam super datadas, onde faltava veracidade.
Falar sobre o relacionamento de um casal,'o que eles sentiam, francamente! Eu mal tinha contato com o masculino direito, em especial recíproco (era a nerdzinha da escola que ficava de suspiros nos outros nerds ou longe do círculo de populares) para ver que, apesar de entender por dentro as coisas da paixão, as minhas reproduções de contato físico eram péssimas, tiradas de Sabrina, Bianca, Júlia. IMAGINA UMA HISTÓRIA DESSAS PUBLICADAS, BICHO! Aí surgiu "50 tons de cinza" e eu descobri que a melhor coisa que fiz foi nunca ter posto meus caderninhos pra fora do círculo de coleguinhas da escola que leram (poucos!).
Sem contar o fato datado. Hoje, pesquisa no Google, redes sociais, arquivos digitais; enfim, não dava para o contato do pai com os parentes do moleque ou a demora de meses até que houvesse o contato do Juizado com os tios (desconsideremos o fator "marasmo", por gentileza!), nem a demora do vovô em descobrir a morte da filha e a existência de uma neta - claro que, aqui, ainda dá para enrolar argumentos...
Outra coisa troncha: Em um momento, os dois vão se abrigar num hotel melhorzinho, usando um cartão de crédito que eles surrupiaram de um dos bandidos. A bandida era mulher e meio que seduzia o moleque para matá-lo... Ah, esquece, já se imagina o fim da treta, né? O que importava era que os dois tavam de frescurinha um com o outro e ela ficou, à noite, na varanda, sozinha... Quando aparece um bandido chamado Montenegro (qualquer semelhança com o nome de um professor chamar-se-á calúnia, visto que faltava anos para encontra-lo... Kkkkk). A intenção do cara era tacar a Tiffany da varanda. Mas aí aparece o carinha, eles brigam e quem cai é o homem.
ATÉ AGORA EU ME PERGUNTO: COMO DIABOS ELES SAÍRAM DE LÁ SEM QUE UM DEPOIMENTOZINHO À POLÍCIA FOSSE DADO? Porque, né, naquele contexto, ia ter policial enquadrando todo mundo (sabe o marasmo? Não cita) e talvez uma TV filmasse a cara deles. Sem contar que eram de menor e assim teriam retornado para o orfanato...
Não adianta o Antonio Candido dizer agora (leitura teórica do TCC, mores) que a literatura não deve ser pensada como um registro fiel 100% da sociedade, que há as questões estéticas em jogo... Minhas histórias da adolescência tinham um pé na Glória Perez e a ideia de "voar".
Dois: Uma coisa bem viajada que pensei, ao refletir sobre a história dos protagonistas (dei um nome comum ao cara. Comum até demais, porque eu esqueci!), que pelo menos no que seria o processo da adolescência e a passagem para a vida adulta eu tinha noção. Mas era usando o exagero de um crime e perseguição, que eu fazia isso de maneira figurativa.
Falei do relacionamento dos dois: Típica novela de Malhação, a diferença é que inverti os papéis. Ela era a popular no orfanato (quase uma escola da novela), ele era o novato. A menina que brigava com ela virou fã do cara, por ele não se dar, inicialmente, com a inimiga - portanto, ele era o crush. Já Tiffany era no gato-sapato inconsciente com quem ela achava que era o melhor amigo (por quem a rival era doida na verdade). Quando começou, era essa historinha de quadrado amoroso, orgulhinho, preconceito, nada de novo. Mas, quando o crime acontece, a coisa muda de cara. Eles perdem o interesse nas coisas de Malhação e viram ao menos cúmplices no orfanato. Lembro que a fuga no orfanato mudou as coisas e o casal rejeitado se junta, depois um papo entre as duas acaba a briga (aliás, o tal amigo dela, tornei depois um baita embuste - tal que agora me arrependo de não ter feito a ex-rival dar um pé na bunda dele e ser empoderada...).
Era, tipo, como nossa vida. Até então despreocupada até algo te acordar pro mundo e vários caminhos terão que ser trilhados, lutas serão travadas. Isso é o que faz crescer.
A mensagem subliminar talvez fosse que, na juventude, algo nos levaria a perceber o mundo e que precisávamos vencer os desafios. Com um amor do lado, seria melhor vencer. Sei lá, acho que era isso.

Mas que bom lembrar o passado. Ou melhor, o que eu fazia nele. Mas talvez o lado tosco meu nunca tenha sumido de todo... Hehehehehehe.

sábado, 15 de julho de 2017

#Dica(in)sana: Por que (ainda) precisamos ler a trilogia "O Estudante"?



"Meu nome é Roberto. Tenho quinze anos. Estou escrevendo a vocês,
porque preciso desabafar à grande dor que me queima lá dentro. Poderia
desabafar com um parente qualquer. Mas, a mágoa é grande demais, tão
grande que transborda de meu coração e enche o universo. Então fiquei
horas e horas em meu quarto, indo de um lado para outro, num desespero
sem fim, até que uma luz clareou meu cérebro: a ajuda só poderia vir dos
colegas de todos os colégios de meu país. Então sentei-me e comecei a lhes
escrever. Vocês, por favor, perdoem a letra trêmula que não vem de meu
estado emocional, mas sim da terra úmida que ainda cai de minha mão ,
apesar de já fazer horas que as enchi e só não tive coragem de jogar sobre o
caixão de meu irmão."

(CARRARO, Adelaide. "O Estudante", página 4)

Para ler a história completa, clique aqui.



Possivelmente, eu faço parte da última geração em que este livro, datado de 1975 e várias vezes editado, era uma leitura primordial. Ou talvez tal facilidade tenha vindo dos privilégios que tive ao longo da minha formação literária (mãe professora e depois trabalhando em biblioteca, acesso, na escola do meu Fundamental 2, a um riquíssimo acervo, meus anos de mediadora de leitura e o curso de Letras, atualmente). Não sei.
Li-o, pela primeira vez, aos 13 anos, não lembro bem quem foi a fonte (O CICM? Minha mãe? A memória não me ajuda). Lembro de como a leitura me fascinava e me chocava ao mesmo tempo, vendo a história de uma família rica, bem ajustada, com dois filhos legítimos e uma filha adotiva; de como esta família foi afetada com a entrada do filho mais velho (inicialmente um modelo de bom filho, irmão, amigo, pessoa) no submundo das drogas e do tráfico.
A história versava sobre como a adolescência (suas dúvidas e suas relações sociais) vira alvo fácil para motivar o vício nas drogas, e de como quem está no topo da cadeia dos entorpecentes visualiza quem é colocado dentro deste universo.
Vide um trecho:

"- Você acredita que o viciado, depois de tomar drogas, se sente forte, corajoso e vê coisas lindas,
mais coloridas etc.?
- Nem continue, pois eu estou rodeado de viciados, todos os meus guardas são viciados e lhe posso
garantir que qualquer viciado em drogas torna-se sonolento permanentemente, fraco nos estudos e não tem vontade de sair do lugar, fica mentiroso, grosseiro, descontrolado, insolente e sexualmente
fraco. Não respeita nem Deus, pais ou família, enfim podemos dizer que se torna um animal. Já conheci diversos viciados que se tornaram criminosos. O viciado esquece de si mesmo e daí sobrevêm grande desnutrição acompanhada pela falta de higiene, levando-o mais cedo para a morte. O único pensamento do viciado é arranjar dinheiro para comprar droga. Quando não consegue com os pais, parentes e amigos, ele vira ladrão. 
[...]
- Não entendo como você, conhecendo todos esses tétricos males, ainda continua com esse monstruoso comércio. Você não sente dó nem piedade por esses estudantes?
- Não. Sinceramente, eu os desprezo, porque eles é que estão se destruindo. Se eles não quisessem se
viciar, não se viciariam. Duvido que algum traficante convença meus filhos a se viciarem, a provar drogas. Os meus filhos têm um grande caráter e não se deixarão iludir, não são uns frustrados como esses idiotas estudantes que acreditam que a droga poderá fazê-los corajosos, machões."

(páginas 86 a 87)

E de que tipo de viciado estamos falando?
Vocês, com certeza, sabem dos viciados da Cracolândia. Já viram pelas ruas algum jovem/adulto/idoso em estado de prostração, ou o que chamaríamos vulgarmente de "podridão humana", "farrapo", o que valha. Viram o caso de Andreas Von Richthofen, a quem vemos o vício como marca da tragédia efetuada por sua irmã.
O debate de descriminalização das drogas está sempre sendo levado à baila. Não, eu não estou aqui fazendo apologia a quem use qualquer tipo de droga, mas lembremos que álcool ou cigarro são drogas, e drogas legais - cujo excesso/vício é um problema de saúde e não jurídico. No momento em que pensamos no quantitativo de pessoas que experimentaram ou se usam de alguma substância ilícita - e não se iluda, a quantidade é maior do que imagina, dê uma pesquisada no Google -, podemos notar que é QUASE impossível impedir o acesso às drogas, especialmente aos adolescentes, sempre em busca de coisas novas. (botei o quase em destaque para que lembremos das exceções, sempre das exceções).
Quem lucra com o tráfico? Não é o viciado, que gasta, gasta e acaba por não ser tratado de forma devida, é marginalizado. Não é o traficante menor, o pé-de-chinelo que sustenta seu vício ou o que acaba virando "chefe de favela/boca". São aqueles de cima, alguns que estão inseridos até mesmo dentro da nossa política (cês lembram do helicóptero de cocaína?). É o tráfico que intensifica, transtorna e mata. E é contra o tráfico que devemos focar nossa maior atenção.

No entanto, enganam-se quem pensa que a história aqui termina. "O Estudante" ganhou duas sequências, com o narrador-protagonista Roberto contando sobre sua família após a morte do irmão (sim, é spoiler, mas que eu já dei a dica logo no comecinho, né?)


O segundo livro, com o subtítulo "Mamãe Querida", aborda temas tão espinhosos quanto a questão das drogas: a depressão, centrada na figura da mãe e do pai de Roberto; a defesa por um tratamento humanizado frente aos descuidados dos hospitais psiquiátricos (esta parte vivida por Lídia, a mãe); o crescimento acelerado de Roberto, assumindo praticamente toda a família no período; a rejeição de uma escola de elite à Rosana, filha adotiva escolhida por Renato (o filho morto), por conta de sua cor (ela sendo mulata), mais as descobertas acerca da origem da menina. A história também enfoca com mais destaque o crescimento da jovem, que começa a desenvolver a faceta elitista (dando uma lida sobre Adelaide Carraro, percebi que ela tem obras bem focadas neste tema, o que faz dela considerada uma "escritora maldita") do orgulho, esnobismo e até mesmo do racismo, antes de se descobrir adotada. Sim, coloquemos a violência (sequestro e meninos de rua) dentro do enredo, já que são cruciais para o desenvolvimento dos acontecimentos com a família ao longo dos anos.
Não tenho ideia do ano de publicação deste livro, mas suponho que foi pelos anos 80 - visto que a história pega o período de tempo entre a primeira infância até os 15 anos de Rosana.
Nesta obra, os criados da família - Zefa, a cozinheira, e Walter, o motorista que vira o melhor amigo do protagonista - são personagens de destaque.

Mas, obviamente, vem mais emoções por aí.


O terceiro livro, com o subtítulo "Por um Brasil sem racismo", tem (que coisa óbvia, não?) o racismo como tema principal. Agora, temos Roberto, um adulto, e Rosana. O amor entre os irmãos adotivos, que acaba em casamento, é estremecido graças à personalidade da esposa, que não aceita ser considerada negra, renega a mãe biológica e a própria filha, nascida no meio da trama. Temos mais três personagens importantes dentro da história: Vítor, que aparece no livro anterior, mas aqui é de extrema importância para o final feliz da trama; Alex, o primeiro namorado de Rosana e a imagem fiel da alta sociedade ególatra e racista e Ângela, com quem Roberto se envolve e antagonista maior da irmã adotiva e depois esposa dele.
Este livro (dos três, o único que possuo e ainda mantenho comigo) data de 1992, mesmo ano do falecimento da escritora de câncer. A mensagem inserida está bastante focada no confronto entre as regras sociais e o amor independente da cor e condição social (podemos colocar a questão Deus na história, visto que é na fé que as situações são enfrentadas).

Nas três obras, Adelaide Carraro não se coloca como escritora, mas como alguém que transcreve o narrador-personagem. O diálogo entre os dois dá ao texto um tom mais informal, como se os dois, de certa forma, dialogassem pela narrativa.

"Como lhe disse, escritora, é uma narração mal escrita, pois meus quinze anos estão bem lá embaixo. Não tenho mais aquela veia poética ou narrativa, mas estou me esforçando. Não vá dizer que o livro está chato, hein?!"
(CARRARO, Adelaide. "O Estudante 3", página 58)

Mas, aí retorno à pergunta-título: Por que ainda temos a necessidade de ler a trilogia, considerando que o último livro possui mais de duas décadas de distância dos nossos adolescentes?

Pensemos:
Mudamos nossa visão sobre o tráfico?
Mudamos nossa visão sobre os problemas psiquiátricos?
Mudamos nossa visão sobre o esnobismo das elites?
Mudamos nossa visão sobre a violência?
Mudamos nossa visão sobre o racismo?

Se houver a resposta "não" a pelo menos uma destas perguntas, leia todos estes livros.
Infelizmente, em pdf, achei apenas um primeiro...
Mas é um começo.
E vai valer a pena.


quarta-feira, 28 de junho de 2017

#algumahistorinha: Alice diante dos espelhos.

(ouça isso enquanto ler)



Quando entrei lá, no nosso pequeno pedaço de solidão, enquanto te distraías, deitei-me na cama, e confrontei-me com o espelho do teto.
Olhou Alice os olhos de outra pessoa.
Uma pessoa que não era ela.
Alice se perdia em pensares, no caminho ao País das Maravilhas, quem poderia ser se ela não fosse ela.
Eu só queria saber onde EU estava.
Certamente, não estava naqueles olhos tristes que já tinham vertido várias lágrimas sem teres visto.
Naquela face sóbria, naquela face sombria.

Já disse que odeio espelhos?
As câmeras e fotos não valem, elas registram um momento, não o todo.
Espelhos dão um olhar mais intenso em si mesmo.
Imaginemos vários, ao meu redor.

A música me fazia atordoar.
As lágrimas desciam sem esforço.
Chorava cada dor, cada cansaço.
Cada solidão.
Onde eu estava?
Por que deixei aquele corpo tão infeliz?

Ao saíres, fui eu a espairecer.
Água quente sobre o corpo.
Mergulho sem medo. Sem pena.
O calor me faz esquecer os desgostos.
Me recolocou a alma no lugar.

Importava que ali, agora, eu estivesse. Importava que aqueles espelhos me cercassem e eu acabasse por olhar para eles, que eles fossem minhas testemunhas.
Terminei, vesti-me, saí.

Na mesma cama, olhando para o mesmo espelho.
Tu, e apenas tu estavas ali.
Sem nada que lhe cobrisse.

"Por que não vens?"

Pedi que me buscasse.

"É muita manha."

E tu, apenas tu, despido de tudo que eras, viesse a mim, me levou para abaixo do espelho.
E, por tempos, esqueci dele.

Até acordar e perceber o reflexo daquele sobre outro espelho.
Na parede.
Mostrava apenas nossas pernas, juntas, em descanso.

Nunca amei tanto um espelho assim.
Aquele que transmitia toda a poesia do ato consumado.
Que vence toda e qualquer fotografia.

Alice busca outro mundo através do espelho.
Eu encontro algum motivo de seguir diante dele.
Dele?
Do espelho
e/ou
De ti.


(Se buscam significados, voltem noutra hora)

terça-feira, 12 de julho de 2016

Notas sobre ele (10)

Eu lembro das noites em que te procurava pela cama, entre o limiar do sono e consciência,
e me aninhava em ti.
Sim, eu preciso da sua proximidade, do seu corpo, de sua paz.
Porque você me dá paz.
Retira de mim tudo o que me incomoda.

É eu voltar ao meu mundo e há outro ar.
Olhos brilhando.
Doces memórias.
Outro modo de sentir a vida.

Temos tão pouco e, ao mesmo tempo, tanto...
Já estamos próximos do primeiro aniversário.

Eu ainda sinto medo. Mas não quero te largar.
Ainda é cedo.
E eu tenho muito a te entregar. Tenho muito a aprender de ti.

Preciso, sempre, transbordar contigo.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Notas sobre ele (9)

Não é porque há uma imagem que te revelo de
todo.
Não é nenhum mistério.
Quantos já não sabem que você existe?

Mas o existir não é - de forma alguma - algo que seja eterno.
Não é algo que eu (não te peço desculpas por isso, meu bem... Não posso!) quero encher de quimeras, utopias, sonhos.

O que, no fim das contas, não importa.

Nunca.

É que meu coração ainda quer ter um ponto de fuga, caso o adeus se revele.
Continuo com medo.
Continuo com um pé acelerado nos nossos momentos juntos.
Continuo consciente de que, amanhã, só Deus sabe.
Continuo...

... Mas, a cada dia que há a distância, há a saudade.
Há a vontade de que chegues logo.
De que me tenhas inteira.

Mais 17 dias. Só isso.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Um avô marinheiro...

Nunca contei como foi a experiência de descobrir meu avô paterno.
O que eu sabia?
Era um avô.
Um marinheiro.
Morreu no Rio de Janeiro.
Seguiu o que eu chamo de "a sina dos Soledades".

(definindo: Um Soledade não pára em um mesmo lugar. Corre para outros mundos. Aconteceu com minha tia. Meu pai. E sinto que acontecerá em mim.)

2014.
Anos a tentar saber quem era esse homem que nunca conheci.
(Ele morreu antes que meu pai se casasse, antes que eu nascesse)

O que eu tinha era poucos rasgos da memória da minha avó.
Poucos rasgos.
Mas que ressaltava a pessoa boa (e conservadora) que ele era.

Mas, no ano citado, corri atrás dele.
Pelo Rio de Janeiro.
Andanças.

As lágrimas que nunca derramei por ele,
derramei ao pegar informações no Caju.

Os passos que nunca dei por ele,
dei do Caju até o Centro.

A luta que nunca tive por ele,
tive ao buscar a certidão de óbito, a segunda via.

A concepção de que ele está comigo,
tive nos 17 dias na terra aonde ele morreu.

Eu sempre soube que minha alma estava ali,
porque ele, para sempre minha estrela,
subiu dali.

E, dali por diante, mais do que os delírios que tinha,
me dei conta de que tinha um rumo.
Um destino.

Sou Soledade. Tenho o sangue de um marinheiro.
Preciso seguir a sina.

Liberdade, ainda que tarde.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Quero ser BELA, RECATADA E DO LAR!

Ontem à noite, me mandaram um link de uma notícia que me deixou... Como explicar?


Para vocês lerem também: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/bela-recatada-e-do-lar
(assim, seguem o meu raciocínio...)

Eu tenho que admitir o que passou pela minha cabeça neste momento...


MEU DEUS! QUE EXTRAORDINÁRIO! QUE REPORTAGEM LINDA! COMO FAÇO PARA SER COMO A MARCELA TEMER????

Baixei a foto da jovem senhora e fiquei analisando... Nossa, ela é linda, elegante, cheia de classe, super mega chique!
Li a reportagem tão intensa e repetidamente que garanto que saberei recitá-la de cor e salteado em alguma conversa a respeito que eu tenha. Desde que não seja ofensivo! Onde já se viu, falar mal da imprensa que apenas está a elogiar uma moça bonita?
Bonita, que cuida da casa, do filho e dos interesses do marido, merecedora de jantares caríssimos e poemas sensuais, cuidadora de um homem honesto e trabalhador, tratado apenas como "decoração" por sua chefe feia, antipática, intrometida, que acha que pode governar o Brasil...
Minha obsessão se manifestou ali, neste instante: EU QUERIA SER IGUAL A MARCELA! PRECISO!
Tipo uma daquelas obsessões por roupas, sapatos, cosméticos que toda mulher tem.

A primeira providência que tomei foi imprimir a foto e ir me comparar com ela no espelho. Como ela se cuida "um pouco", achei que seria superfácil para mim. LEDO ENGANO! Contabilizei pelo menos um alisamento no cabelo (com bastante formol, pra baixar), uma tintura loira, algumas cirurgias plásticas (provavelmente entraria uma lipozinha), altas horas de academia... É, vou ter que pesquisar também sobre a cirurgia que mudou a cor do Michael Jackson, vai que cola...
É decepcionante admitir, mas nunca estarei no padrão de beleza que a revista enaltece. Marcelinha (podia chamar de "Mar", mas acho que assim ia me intrometer na intimidade do casal, prefiro botar uma intimidade mais doce, mais meiga, mais de mulher) é loira, clara, cabelo lourinho (capaz até de ser natural), já foi vice em concursos de beleza. VICE. Se eu ganhasse um último lugar, seria por alguma caridade do conselho de votação. Se eu fosse para alguma votação com a minha foto aberta para likes e comentários, "macaca" seria o mais gentil de tudo o que receberia desta sociedade super preocupada que gasta tempo comentando no Facebook.

Se eu não mudar - e depressa - nunca vou me casar. Que dirá com um político de alta estripe, bonitão, apreciador de coisas finas como vinho e charutos (cubanos, de preferência. Porque é a única coisa que presta em Cuba, né?).
Eita, pô (usando uma coisa que até minha sobrinha caçula já copiou... Eu, dando mau exemplo)! Também terei que mudar meu vocabulário. Apesar de eu fazer Letras, meu linguajar é muito vulgar. Preciso, aliás, mudar de curso. Seguir a Marcelinha e fazer Direito, pelo menos para saber algo sobre leis. Afinal, como vou impressionar os amigos do meu homem?
Pensando nestas coisas, extremamente em conflito comigo mesma, fui dormir no meu quarto, no apê dos meus pais, na periferia de uma cidade da Região Metropolitana de Recife, Pernambuco.
Nasci toda errada. Nem o lugar me favorece.

Sonhei comigo mesma, diva, maravilhosa, andando pela rampa do Palácio do Planalto com meu maridinho e meu filho. Segunda consorte? QUE NADA! Sendo é primeira-dama! Como deve ser no nosso país...

... Mas meu sonho foi interrompido pelo alarme do meu celular mequetrefe, um Nokia (vejam como sou atrasada! faz tempo que não existe mais esta marca, hoje é Microsoft), indicando que já eram cinco da manhã. Hora de acordar, me arrumar, de ir trabalhar.
Nem mesmo tempo para fazer um super café da manhã na mesa da sala. Que dirá para orientar minha governanta para o que a cozinheira fará no almoço ou as limpezas urgentes da minha faxineira.
Que vida amarga...

Pensei seriamente em falar com minhas amigas sobre o assunto, sobre minhas decisões.

Não tive tempo. Cheguei na escola e tive aulas para dar. Revisões para a prova de quarta que vem, seminários a assistir, pendências a sanar, Além do mais, com quem falaria? Nenhuma das minhas colegas de trabalho tinham o padrão da minha idolatrada Marcelinha.
Todas trabalhando, tendo um monte de demandas para fazer.

Entrei no WhatsApp. Talvez tivesse a sorte de achar uma amiga nos padrões para me aconselhar. Mas, meu Deus, que nível de amigas eu tenho! Umas feministas, outras metidas na vida acadêmica, até uma que é assessora daquela política chatíssima que faz propaganda falsa sobre o justíssimo processo de impeachment, chamando de "golpe"... Absurdo, não?
Nem aquela amiga minha que quer casar serve... Ainda agora postou uma foto de biquíni no Face, reclamando de tudo.
E ainda me surge uma aluna me dizendo que não vai ficar esquentando panela pra homem, porque quer fazer Medicina e não vai ter tempo. Ai, meu Pai do Céu! Será a Marcelinha a única mulher normal deste país?

Complicado, muito complicado, seguir a vida correta.

Depois de um turno de aulas dadas, um ônibus sem ar condicionado (poxa! O único carro com motorista que tenho é o da Grande Recife Consórcio!) e muitas decepções, fui para casa. Olhei meu guarda-roupa: pouquíssimas roupas abaixo do joelho. Pra falar a verdade, poucas roupas femininas, meigas, românticas. Pra quê aquela boina? E uma calça xadrez? CREDO! E essas camisas de bandas de rock? Eu tenho que ouvir MÚSICA CLÁSSICA!
Eu tenho que mudar a minha vida!!!!

Então resolvi abrir a minha carteira. Achei apenas dez reais. Nem para fazer um design de sobrancelha dá.
Também, tou gastando em bobagens... Como um livro de um especialista em Literatura Brasileira, que preciso para um artigo que preciso fazer para uma cadeira eletiva...

Decidi, então, que depois vou fazer esse projeto de mudança na minha vida, me tornar uma diva bafônica mulher de político de direita. Quem sabe em uma outra encarnação. Porque, hoje, acabei de lembrar que é quarta-feira, véspera de feriadão, não tenho aula na Universidade (pública, aquela que devo ter entrado por causa das cotas) e o bar aqui da frente tá vendendo duas Itaipavas a oito reais.

Foda-se então. Vou vestir aquele short e tomar umas. Depois de corrigir provas, estudar e ler alguns livrinhos. Até a tal Beauvoir, que tá esquentando na prateleira faz tempos...
Beijos!

Nunca serei Marcelinha.

Belis, recatadis e do laris.




(Que fique claro: Nada tenho contra a sra. Temer, nem quanto às suas escolhas de vida. Tenho contra é a reportagem que torna a dita senhora "um exemplo a ser seguido".)

terça-feira, 19 de abril de 2016

Da vida adulta que nos persegue, da realidade que não se descreve.

 De uns tempos para cá, tenho revivido este blog com uma coisa que retomei, medrosa e simultaneamente entusiástica, a sentir vivamente em mim: a paixão, esta sinuca avassaladora que vai atingindo as esferas da vida, contagiando, bagunçando e - por agora - sendo uma das melhores coisas que andam passando pela minha vida.
 Dá um vislumbre do que era para ser este blog, outrora, dez anos antes, quando o comecei timidamente, nos intervalos do meu estágio no DQF (que saudades!), da menina que vivia seus primeiros anos de namoro, da garota que começava a despertar para a realidade de um mundo que podia ser tudo. Em especial, cruel.

 Nunca imaginei que, ao seguir o tempo, as leituras esporádicas que faço neste espaço fossem o elo que teria do meu passado. Hoje, interajo mais em meu Instagram e meu Facebook, por encontrar um painel mais amplo e rápido das coisas que me importam. Não é que eu não goste daqui. Não é que eu não me importe de escrever um textão - aliás, vez ou outra ainda o faço.
 Apenas cresci.
 O tempo não me permite ser tão eloquente. Sempre tem uns problemas a serem sanados, coisas a resolver, prazos a cumprir. Não tenho tanto tempo para chorar as minhas mágoas, para relatar os amores estraçalhados, os sonhos machados, as alegrias pequenas feitas eternas (que existem, sempre existem). Por vezes, as redes sociais me dão um retorno imediato - as curtidas que eu, como diz meu nome "a que quero ser admirada", reclamo inconscientemente. Ou não.

 Não pensem vocês que deixei de ser aquela menina que escrevia quase diariamente aqui. Ela prossegue.
 Prossegue quando percebe que tem coisas que ela não consegue resolver. Tipo a depressão da minha mãe, inimiga feroz de nossa calma (ou quase) familiar. Tipo a porca política que vivemos neste país, onde alguém confiável é aquela busca da "agulha no palheiro", embora tenha umas bem na superfície, nos furando inadvertidamente, sutilmente.
 Prossegue quando ela tem alguma discussão boba, ou nem tanto. Mas que ainda a abala como quando criança - o mal de ser adulta é que, desgraçadamente, não posso correr sempre ao meu quarto, me fechar, derramar mil lágrimas e bradar, como criança solitária e incompreendida que sempre fui e acho que ainda sou, que "ninguém gosta de mim".
 Aprendi que o mundo não vai segurar minhas postagens diárias de dor. Aprendi a me controlar nas redes sociais quando o tema é "me abrir". Talvez porque aprendi que sou, além de compartilhadora de conhecimentos, alguém que deve ter uma vida mais de acordo com minhas ideologias de felicidade, de levar sempre coisas positivas... Mesmo que seja um "vai tomar no cu, Bolsonaro!".
 Ops. Não, nas redes sociais eu evito palavrões diretos. Bom, que bom que estou em meu blog...

 Mas prossegue nos meus rasgos de felicidade. Naquela busca alucinada por músicas, naquela eletricidade que me invade quando estou feliz ou ansiosa, naquele apagão que indica meu desânimo.
 Eu tenho tanta coisa a falar... E, ao mesmo tempo me sinto tolhida, intimidada. Longos discursos sentimentais se tornaram difíceis.
 Aprendi a economizar palavras. Acreditam que hoje eu tenho medo de dizer "eu te amo"?
 Aprendi coisas que a vida de adulto impõe, não pede.
 E percebi que é impossível descrever a vida real. Não com as palavras mais literais. Não tão objetivamente.
 Porque descrever é definir. E definir é limitar.

 Sim, a adulta de hoje é meio que uma consequência. Não diria que é um fardo porque... Honestamente, já passei da fase da Terra do Nunca.
 Mais ou menos.
 Eu queria chegar no Nunca Ser Triste. Seja com a vida em movimento, com a política, com os machismos, elitismos, racismos, homofobismos. Seja com a saúde de minha família. Seja com esse sentimento de paixão que anda me salvando de cada uma, ai meu Deus...

 Mas, a realidade me ensinou que até a lágrima tem tempo. Mesmo que curto. Quem sabe o tempo de uma postagem neste blog?

 Ops! Já passei tempo demais. Vamos lá, Soledade, voltar à vida real, aos prazos, às obrigações, ao futuro que vai aparecendo no horizonte e que você (deste jeito torto seu) ajuda a construir.

 Mas, ao mesmo tempo... Que bom que você deu trela pra Sol/moleca lunar/ menina-camaleão por alguns minutos. Assim, o peso dos quase trinta se torna mais leve.      

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Sobre a saudade. Sobre a espera.

Aprendi a sentir saudades. Mas aprendi também que, por mais que eu sinta, eu tenho que saber a hora de sentar e esperar. Não literalmente, é certo. Não dá pra deixar a vida em suspenso. Mas, não correr atrás, não ficar lembrando disso o tempo todo.
Existe um mundo largo à minha frente. A saudade nos reaproxima mentalmente das pessoas a quem estimamos.
Mas, cada um com seu ritmo. Cada um com seu passo.
Eu, particularmente, espero sempre o primeiro. Do outro.
Para ter certeza de que não sinto sozinha.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Um trecho de uma possível nova história

" E, depois de algumas noites (e manhãs) de prazer e uns dias de silêncio, ele me liga.
Me chama para sair.
Penso logo: "fudeu! Virei lanchinho!"
E, logo depois, me repreendo. Porra! Tá pensando que transar com um cara te torna a namorada dele por tabela? Cadê a mulherzinha liberal e livre que você queria ser?
Ah, é verdade. Nunca fui.

(...)

No boteco, tudo corre bem. Perfeitamente bem.
Conversas inteligentes, risos, cerveja.
Nenhuma vontade de acender um cigarro. Nadinha.
Nenhum tédio. Nenhum constrangimento.
E, no momento em que acho que vamos nós para a cama, mais uma vez, ele dá a entender que nossa saída foi uma conversa boa e casual, de bons amigos.
Sabe aquela sensação de poder? Foi pro chão.
E acho que minha cara denunciou isso. Já que ele foi bem sincero:
- Não gosto de simplesmente ter um corpo. Não tenho mais idade para isso. Quero saber quem você é, do que você gosta. Quero saber a mente que recheia o seu corpo.
Me botou no chão. E eu, de perdida, ressurgi em uma felicidade perturbadora.

(...)

- Você sabe o que é o tempo? É curto, é frágil, é pouco. Eu não quero perder tempo com tão pouco. Eu vi mais do que isso em você, e quero dedicar meu tempo descobrindo o que é.
Ah, o tempo. Tá certo: ele é mais velho do que eu. O tempo dele está acabando. Mas o meu também está. É uma bomba relógio marcada pelo maldito aneurisma inoperável a reinar na minha cabeça. Neste lugar que ele quer tanto saber o que possui.
Mas, quer saber? Foda-se.
Se eu ainda tenho este tempo, eu que também não vou perder isso!

(...)

Na despedida, ao nos despedirmos, ele me beijou.
Um beijo leve e doce.
De surpresa (eu realmente não esperava! Acreditem quem quiser!)
Ao se afastar, nos olhamos. E eu - eu! A garota que tá a um passo da morte, que tenho tanto medo de morrer magoada de novo - puxei-o para mim e dei um beijo um pouco mais intenso.
Um pouco!
Quando, enfim nos afastamos, ele me sorriu.
- Nos veremos logo.
Eu, justo eu! Respondo:
- Eu espero.
E, sim, eu esperaria. Mesmo que demorasse. Mesmo que a morte me surpreendesse na espera. Mesmo que o próximo reencontro fosse no Céu, Inferno, outra vida, sei lá! Mas, eu estaria esperando a sua volta.
Porque, percebi ali, morrer com esperança não era tão ruim assim. "

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sobre o amor de uma (quase) balzaca

A mulher, se chega aos 30 (ou perto disso... No meu caso, rs), e ainda está solteira, não é por falta de vontade de engatar um relacionamento... É a questão de não se contentar com qualquer coisa. De saber selecionar, saber o que quer, como e quando. Ela pode querer um affair, uma ficada fixa, um namoro, um casamento. Ela pode até não querer nada disso.
E ela não está errada.
A idade nos obriga a pensarmos no futuro. É... Esta palavrinha tão difícil e nebulosa. O futuro, essa incógnita, não se define nem nas cartas do tarô (que jogo e amo tanto). Ele depende de cada um.
E o futuro, para a mulher mais velha, não tão jovem de corpo (não falei da alma, OK?), é predominante.
Queremos conteúdo. Queremos abrigo. Queremos viver mais que sonhar.
E isso vale para todas as esferas da vida.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Eu fico...

Por vezes, eu fico aqui pensando em como seria se a gente se encostasse...
Aliás, eu não queria pensar.
Eu queria te ter.

Ah, menino... Fico te olhando em silêncio, fico te vendo passar, fico te vendo sorrir. E me pergunto se vou te ter mais perto.
Aliás, eu não queria mais perto.
Eu queria te ter.

Cada pedacinho de ti, cada porção de tuas carícias.
Eu queria cada partícula do tempo deste nosso encontrar.
Eu queria cada gemido, cada tremor, cada ímpeto teu.
Eu fico desejando esta ocasião com tanta força e pressa, que parece que os meu corpo grita ao te ver:
"Eu queria te ter..."

Porque, no momento, não quero passar a vida te comendo com os olhos.
Aliás...
Eu não quero passar pela vida sem o gostinho efêmero de te ter.
Pelo menos uma vez.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Uma janela aberta.

Enquanto eu penso que nada pode me fazer feliz de novo, uma nova janela se abre.
Porta, para quê?
Ideal é pular a janela, cair de cabeça na vida!
(sempre olhando antes. Vai que o outro lado esconda um abismo... O acreditar seguro!)

A vida consiste em saber que as chances são poucas, raras e quiçá enganosas. Mas, fugir delas também não ajuda.
Tentemos. Persistamos.
Ou, pelo menos, deixemos que estes sentidos nos dominem o peito.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Dos gemidos de desilusão.


Sim, a lágrima que não derramo mais se remete a você.
O grito que não sai dos meus lábios é culpa tua.
A alma que não se deita na cama alheia tem o seu nome como o porquê.
E você não tem culpa disso.
O que você tem de culpado, apesar de ser aquele a quem posso contar com o eterno silêncio, o vazio, a agonia de um adeus sem o ato de despedida?
Perdi a ilusão. E me sinto alijada de mim mesma.
Perdi a vontade de acreditar. Perdi a alma nos labirintos do amor.
Consegui fugir de tal armadilha. Mas, ao mesmo tempo, eu não saí do labirinto.
Ou o labirinto prosseguiu dentro de mim.

Hoje, a desilusão percorre as veias, toma conta do cérebro.
É o que bombeia meu coração.
Sangue, para quê?
Creio que a morte seja quando dessangrar de mim toda essa agonia. Esse líquido obscuro e magoado. Toda a ausência de ser que me inspira as lembranças.
Não me reconheço mais.
Não me compreendo. Aliás, acho que me desconheço mais do que nunca.
Porque não se trata de uma rebeldia. De uma tentativa de destruir as barreiras que me limitam... É o levantar de mais muros. É o esconder-me do modo mais controverso.
Escondo-me em meio à mundana exposição.
Quem me olha, hoje, não tem a menor noção de quem seja eu.

E você, onde está?
Diria que não me importo. Raramente digo o seu nome.
Não respeito o seu silêncio – simplesmente o deixo calado.
“Quem se afasta, não quer ser lembrado!”
O pior é a sensação de arrependimento. De ter visto anos jogados pelo ralo. Mas, ao mesmo tempo, de uma assustadora sensação de “assim tinha que ser.”.
A inevitabilidade das coisas.
Sentir tal conclusão é o que me destrói.
Aos poucos.

Será mesmo que eu merecia tal inevitabilidade do Destino, meu Deus?
Conhecer o paraíso e mergulhar em um inferno gelado?
Um inferno sem Diabo, sem torturas, sem demônios, sem gritos.
Um inferno onde o silêncio oprime. Esmaga.
Eu não sei se o Céu, o mundo de aparências que me ofertou você, mereceu tanto de mim. Tanto da minha emoção. Tanto do meu tempo.
Eu não acredito em um Céu de belezas e melodias repetidas infinitamente.
Eu não acredito em uma nova oportunidade.

A única coisa que quero é que os parcos gemidos da desilusão se apaguem de uma vez. E que eu possa, enfim, deitar-me no chão gélido do meu inferno.
E ali ficar.
Sozinha.
Vazia.

Ou com qualquer coisa que jamais signifique você. Ou o amor.

Será que você também aguenta esse aqui?

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