sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Um trecho de uma possível nova história

" E, depois de algumas noites (e manhãs) de prazer e uns dias de silêncio, ele me liga.
Me chama para sair.
Penso logo: "fudeu! Virei lanchinho!"
E, logo depois, me repreendo. Porra! Tá pensando que transar com um cara te torna a namorada dele por tabela? Cadê a mulherzinha liberal e livre que você queria ser?
Ah, é verdade. Nunca fui.

(...)

No boteco, tudo corre bem. Perfeitamente bem.
Conversas inteligentes, risos, cerveja.
Nenhuma vontade de acender um cigarro. Nadinha.
Nenhum tédio. Nenhum constrangimento.
E, no momento em que acho que vamos nós para a cama, mais uma vez, ele dá a entender que nossa saída foi uma conversa boa e casual, de bons amigos.
Sabe aquela sensação de poder? Foi pro chão.
E acho que minha cara denunciou isso. Já que ele foi bem sincero:
- Não gosto de simplesmente ter um corpo. Não tenho mais idade para isso. Quero saber quem você é, do que você gosta. Quero saber a mente que recheia o seu corpo.
Me botou no chão. E eu, de perdida, ressurgi em uma felicidade perturbadora.

(...)

- Você sabe o que é o tempo? É curto, é frágil, é pouco. Eu não quero perder tempo com tão pouco. Eu vi mais do que isso em você, e quero dedicar meu tempo descobrindo o que é.
Ah, o tempo. Tá certo: ele é mais velho do que eu. O tempo dele está acabando. Mas o meu também está. É uma bomba relógio marcada pelo maldito aneurisma inoperável a reinar na minha cabeça. Neste lugar que ele quer tanto saber o que possui.
Mas, quer saber? Foda-se.
Se eu ainda tenho este tempo, eu que também não vou perder isso!

(...)

Na despedida, ao nos despedirmos, ele me beijou.
Um beijo leve e doce.
De surpresa (eu realmente não esperava! Acreditem quem quiser!)
Ao se afastar, nos olhamos. E eu - eu! A garota que tá a um passo da morte, que tenho tanto medo de morrer magoada de novo - puxei-o para mim e dei um beijo um pouco mais intenso.
Um pouco!
Quando, enfim nos afastamos, ele me sorriu.
- Nos veremos logo.
Eu, justo eu! Respondo:
- Eu espero.
E, sim, eu esperaria. Mesmo que demorasse. Mesmo que a morte me surpreendesse na espera. Mesmo que o próximo reencontro fosse no Céu, Inferno, outra vida, sei lá! Mas, eu estaria esperando a sua volta.
Porque, percebi ali, morrer com esperança não era tão ruim assim. "

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