quarta-feira, 20 de abril de 2016

Quero ser BELA, RECATADA E DO LAR!

Ontem à noite, me mandaram um link de uma notícia que me deixou... Como explicar?


Para vocês lerem também: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/bela-recatada-e-do-lar
(assim, seguem o meu raciocínio...)

Eu tenho que admitir o que passou pela minha cabeça neste momento...


MEU DEUS! QUE EXTRAORDINÁRIO! QUE REPORTAGEM LINDA! COMO FAÇO PARA SER COMO A MARCELA TEMER????

Baixei a foto da jovem senhora e fiquei analisando... Nossa, ela é linda, elegante, cheia de classe, super mega chique!
Li a reportagem tão intensa e repetidamente que garanto que saberei recitá-la de cor e salteado em alguma conversa a respeito que eu tenha. Desde que não seja ofensivo! Onde já se viu, falar mal da imprensa que apenas está a elogiar uma moça bonita?
Bonita, que cuida da casa, do filho e dos interesses do marido, merecedora de jantares caríssimos e poemas sensuais, cuidadora de um homem honesto e trabalhador, tratado apenas como "decoração" por sua chefe feia, antipática, intrometida, que acha que pode governar o Brasil...
Minha obsessão se manifestou ali, neste instante: EU QUERIA SER IGUAL A MARCELA! PRECISO!
Tipo uma daquelas obsessões por roupas, sapatos, cosméticos que toda mulher tem.

A primeira providência que tomei foi imprimir a foto e ir me comparar com ela no espelho. Como ela se cuida "um pouco", achei que seria superfácil para mim. LEDO ENGANO! Contabilizei pelo menos um alisamento no cabelo (com bastante formol, pra baixar), uma tintura loira, algumas cirurgias plásticas (provavelmente entraria uma lipozinha), altas horas de academia... É, vou ter que pesquisar também sobre a cirurgia que mudou a cor do Michael Jackson, vai que cola...
É decepcionante admitir, mas nunca estarei no padrão de beleza que a revista enaltece. Marcelinha (podia chamar de "Mar", mas acho que assim ia me intrometer na intimidade do casal, prefiro botar uma intimidade mais doce, mais meiga, mais de mulher) é loira, clara, cabelo lourinho (capaz até de ser natural), já foi vice em concursos de beleza. VICE. Se eu ganhasse um último lugar, seria por alguma caridade do conselho de votação. Se eu fosse para alguma votação com a minha foto aberta para likes e comentários, "macaca" seria o mais gentil de tudo o que receberia desta sociedade super preocupada que gasta tempo comentando no Facebook.

Se eu não mudar - e depressa - nunca vou me casar. Que dirá com um político de alta estripe, bonitão, apreciador de coisas finas como vinho e charutos (cubanos, de preferência. Porque é a única coisa que presta em Cuba, né?).
Eita, pô (usando uma coisa que até minha sobrinha caçula já copiou... Eu, dando mau exemplo)! Também terei que mudar meu vocabulário. Apesar de eu fazer Letras, meu linguajar é muito vulgar. Preciso, aliás, mudar de curso. Seguir a Marcelinha e fazer Direito, pelo menos para saber algo sobre leis. Afinal, como vou impressionar os amigos do meu homem?
Pensando nestas coisas, extremamente em conflito comigo mesma, fui dormir no meu quarto, no apê dos meus pais, na periferia de uma cidade da Região Metropolitana de Recife, Pernambuco.
Nasci toda errada. Nem o lugar me favorece.

Sonhei comigo mesma, diva, maravilhosa, andando pela rampa do Palácio do Planalto com meu maridinho e meu filho. Segunda consorte? QUE NADA! Sendo é primeira-dama! Como deve ser no nosso país...

... Mas meu sonho foi interrompido pelo alarme do meu celular mequetrefe, um Nokia (vejam como sou atrasada! faz tempo que não existe mais esta marca, hoje é Microsoft), indicando que já eram cinco da manhã. Hora de acordar, me arrumar, de ir trabalhar.
Nem mesmo tempo para fazer um super café da manhã na mesa da sala. Que dirá para orientar minha governanta para o que a cozinheira fará no almoço ou as limpezas urgentes da minha faxineira.
Que vida amarga...

Pensei seriamente em falar com minhas amigas sobre o assunto, sobre minhas decisões.

Não tive tempo. Cheguei na escola e tive aulas para dar. Revisões para a prova de quarta que vem, seminários a assistir, pendências a sanar, Além do mais, com quem falaria? Nenhuma das minhas colegas de trabalho tinham o padrão da minha idolatrada Marcelinha.
Todas trabalhando, tendo um monte de demandas para fazer.

Entrei no WhatsApp. Talvez tivesse a sorte de achar uma amiga nos padrões para me aconselhar. Mas, meu Deus, que nível de amigas eu tenho! Umas feministas, outras metidas na vida acadêmica, até uma que é assessora daquela política chatíssima que faz propaganda falsa sobre o justíssimo processo de impeachment, chamando de "golpe"... Absurdo, não?
Nem aquela amiga minha que quer casar serve... Ainda agora postou uma foto de biquíni no Face, reclamando de tudo.
E ainda me surge uma aluna me dizendo que não vai ficar esquentando panela pra homem, porque quer fazer Medicina e não vai ter tempo. Ai, meu Pai do Céu! Será a Marcelinha a única mulher normal deste país?

Complicado, muito complicado, seguir a vida correta.

Depois de um turno de aulas dadas, um ônibus sem ar condicionado (poxa! O único carro com motorista que tenho é o da Grande Recife Consórcio!) e muitas decepções, fui para casa. Olhei meu guarda-roupa: pouquíssimas roupas abaixo do joelho. Pra falar a verdade, poucas roupas femininas, meigas, românticas. Pra quê aquela boina? E uma calça xadrez? CREDO! E essas camisas de bandas de rock? Eu tenho que ouvir MÚSICA CLÁSSICA!
Eu tenho que mudar a minha vida!!!!

Então resolvi abrir a minha carteira. Achei apenas dez reais. Nem para fazer um design de sobrancelha dá.
Também, tou gastando em bobagens... Como um livro de um especialista em Literatura Brasileira, que preciso para um artigo que preciso fazer para uma cadeira eletiva...

Decidi, então, que depois vou fazer esse projeto de mudança na minha vida, me tornar uma diva bafônica mulher de político de direita. Quem sabe em uma outra encarnação. Porque, hoje, acabei de lembrar que é quarta-feira, véspera de feriadão, não tenho aula na Universidade (pública, aquela que devo ter entrado por causa das cotas) e o bar aqui da frente tá vendendo duas Itaipavas a oito reais.

Foda-se então. Vou vestir aquele short e tomar umas. Depois de corrigir provas, estudar e ler alguns livrinhos. Até a tal Beauvoir, que tá esquentando na prateleira faz tempos...
Beijos!

Nunca serei Marcelinha.

Belis, recatadis e do laris.




(Que fique claro: Nada tenho contra a sra. Temer, nem quanto às suas escolhas de vida. Tenho contra é a reportagem que torna a dita senhora "um exemplo a ser seguido".)

2 comentários:

Leonardo de Araújo disse...

Excelente thais. Parabéns!

Leonardo de Araújo disse...

Excelente thais. Parabéns!

Será que você também aguenta esse aqui?

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