terça-feira, 14 de maio de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (10) - O SEGREDO DOS SINAIS MÁGICOS (Sérsi Bardari, 1993)



Eu até já imagino a cara das almas caridosas que ainda me leem se eu repetir a ladainha clássica de que "tô voltando a esse blog, vou postar mais"...

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OK! Compreensível, gente. 
Mas, prossigamos...

Hoje é dia de fazer um tour pela Bahia e por Portugal, dar uma estudada rápida e descompromissada pela história da monarquia portuguesa e religiosidade africana, entrelaçadas na história de uma família desunida por conta de questões entre o amor e o racismo - numa caça ao tesouro onde qualquer sinal deve ser observado atentamente.
Vamos descobrir, então, qual é o "segredo" desta obra?

Capa original (1993)

Este livro foi um dos primeiros que li dos quais não figuravam na parte de trás da capa dos livros da série Vaga-Lume (que, durante anos, foi a referência para quem queria saber todas as obras da coleção, garantindo o "já li" ou "falta ler". A partir da década de 1990, e com novos livros, preferiram colocar uma sinopse adiantando a temática das histórias, e , confesso, foi isso que me chamou a atenção - a história)

"- [...] Olhe bem para a sua cor, para a minha cor. Nós somos negras e o candomblé é a nossa religião. Essa portuguesa que você chama de mãe não tem nada a ver com isso!" 
(página 6)

A história começa com Janaína discutindo com sua tia Conceição, em uma festa em homenagem à Iemanjá, orixá africana que é rainha das águas. A tia quer que ela se torne filha-de-santo como ela, mas a garota contesta. Nesse meio tempo, Maria de Fátima, madrasta da jovem e uma professora de artes portuguesa, recebe uma ligação informando sobre a doença do pai, que mora em Lisboa, chamando a filha e sua enteada para encontrarem-se com ele pela última vez.
Para a filha, um aceno de paz: o pai pede perdão à moça por ter sido contrário à sua união com Raimundo, um negro - mas este sentimento não é compartilhado pelo resto da família, o irmão José Carlos e a tia Mafalda.

"Ao encarar o irmão, Maria de Fátima estremeceu. O olhar dele estava distante; a fisionomia, inexpressiva. E o cumprimento entre os dois foi assim: um seco aperto de mão. Mafalda recebeu a sobrinha com beijinhos nas faces, mas sem muito calor.
Janaína ficou esquecida, estranhando a frieza daquele encontro. Até que Maria de Fátima fez as apresentações.
A velha balançou a cabeça para a garota, sem se aproximar.
—Como vai?
—É a tua filha?—perguntou José Carlos, num tom irônico, medindo Janaína dos pés à cabeça." (páginas 13-14)

Sim, e ainda mais essa: reagiram com mais racismo à Janaína.
A sorte das duas estava no apoio de dois outros membros da família, não existentes durante a treta: Cecília, doce esposa de José e Jorge, o filho dos dois. Ele e Janaína se envolvem e o relacionamento é marcado especialmente pela repetição da história: a desaprovação dos familiares.

Sim, Thaís, até aqui é uma bela história de amor e questão racial. Como tantas outras...

SIM! Mas, eu disse que O PAI CHAMOU A ENTEADA DA FILHA - e tinha motivos. O velho Amendoeira convoca os dois (Jorge e ela) para descobrirem onde se encontrava o tesouro, que pertencera a Mateus Vicente, antepassado da família em tempos áureos - hoje, esta se encontra em franca decadência, prestes a perder o último bem, a casa onde vive quase toda a família.
A motivação de ajudar a família move Jorge, mesmo descrente.
Já Janaína é atraída pela frase "a fé do negro guarda o ouro". E é na intersecção das histórias dos orixás e fatos ou mitos sobre a História portuguesa que trarão as dicas que o casal precisa para encontrar o tesouro.
Só que, seguindo a história bem clichê, tem outra pessoa atrás do tesouro também...

(tá bom, muito spoiler, né?)

O que é massa nesta história? Sérgi escreve uma trama ágil, simplista talvez, mas que trabalha com diversos pontos importantes: a questão racial, a contação de histórias dos orixás e eventos do candomblé (acompanhamos o percurso, ainda que de forma sutil, da sagração de Conceição como filha de santo), a questão do patrimônio histórico (centrada na casa da família Amendoeira e sua luta em mantê-la consigo mesmo com o tombamento do imóvel), além do encaixe interessante que o autor coloca nos conhecimentos do jovem casal - Janaína, com a religião; Jorge com a História - e como a união de duas culturas tão distintas conseguiu mudar os rumos da história.
P.S: tem uma questão bem ligeira acerca do conservadorismo em cima da mulher versus o jeito despojado da protagonista (a primeira negra da série, fica a dica).

Tem como ler agora? A ideia é essa, né? Neste link aqui, você pode ou ler online, ou baixar o pdf tranquilamente. Tem as imagens originais da obra, vale super a pena.

Enfim, é isso. Logo, logo, volto com mais!

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Será que você também aguenta esse aqui?

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