terça-feira, 19 de novembro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (15) - A ALDEIA SAGRADA (Francisco Marins, 1994)


E, se eu disser a vocês que, aos trancos e barrancos, nem sempre frequente, estou completando um ano e 15 livros da Série que marcou a minha vida de leitora?

Sim, isso é um marco. Podem aplaudir!

E, não, o livro de hoje não tem nada a ver com a comemoração da data. Tem a ver com algo que sempre me interessou desde menina, quando comecei a real-oficial ler livros dedicados à História Brasileira, mais especificamente durante meus tempos de giná... Ops! FUNDAMENTAL 2, nada de denunciar a idade, Soledade!
E que, graças aos esforços da minha mãe, a Editora Ática foi importante para essa leitura, em especial sobre a Guerra de Canudos (1896 - 1897):

Fica a dica de duas obras sobre o tema. Como são BEM ANTIGAS, não sei se existem edições novas...
Mas, o que foi a Guerra de Canudos?
Foi uma insurreição, de caráter messiânico, apoiada na figura de Antonio Conselheiro - uma figura tão lendária como Lampião, padre Cícero e outras personalidades nordestinas.



Entre as crenças de um fim do mundo no fim do século (a versão antiga daquilo que, na minha geração, foi atualizada para o famoso "bug do milênio", quando começamos a transitar do século XX para XXI) e a situação de miséria e injustiça social vivida pelos sertanejos - além, é claro, dos conflitos que se basearam na ignorância do povo perante as mudanças promovidas pela Proclamação da República, como a separação da Igreja e do Estado, por exemplo. Uma revolta estrondosa e bastante difícil de ser vencida pelas forças republicanas, graças a coragem dos revoltosos.

Só que...
Infelizmente, eu sou uma historiadora frustrada, e aqui não é um blog oficial de História. Pra quem quiser um panorama sobre a temática, o site do Só História pode fazer este trabalho por mim com mais amplitude. E, pra quem tá pronto para leituras mais profundas e uma análise de quem viveu in loco o momento histórico, temos a obra de Euclides da Cunha, "Os Sertões".
Mas, foi necessário fazer esta introdução trabalhada no momento histórico para apresentar a obra de hoje, a "A Aldeia Sagrada", o terceiro livro publicado por Francisco Marins na nossa supracitada série.

Capa original DA SÉRIE (1994)
(Dando uma pesquisada para pegar a imagem para este blog, descobri que, assim como "Éramos Seis", "A Aldeia Sagrada" não é um livro exclusivo da série. Publicado pela 1ª vez entre 1945 e 1953 (infelizmente, temos muitas informações contraditórias sobre), o livro pertenceu à Editora Melhoramentos)

Capa da Editora Melhoramentos (1953).

A história começa no sertão da Bahia, onde conhecemos Didico, um menino que inicia sua história aos 12 anos, órfão, que vive com os padrinhos Chico Vira-Mundo e Donana, em pleno sertão baiano. A história começa com a partida de Chico para buscar uma vida melhor para os dois no Acre, lugar onde, no período, haviam muitos migrantes nordestinos dispostos a enriquecer com o ciclo da borracha. Antes, ele conversa com um amigo (Antonio Beato), que recebeu um "chamado" e decidiu seguir o Conselheiro.
O jovem passa por muitos problemas por conta da forte seca que se abala na região, perdendo o único modo de sustento (um boi, assassinado por retirantes famintos) e a madrinha. Toma a decisão de seguir com um grupo de retirantes chefiado por Juviara, um homem que busca um destino melhor para ele e sua família. Seus filhos, Zico e Mada, se tornam amigos de Didico - que só tinha como companhia o cão Tigüera (sim, escrito com o saudoso trema). Conseguem viver em uma fazenda perto de Monte Santo, onde ouviam falar sobre os acontecimentos ocorridos em Canudos e é quando o jovem descobre que Chico, na verdade, se tornou um dos seguidores fanáticos do Conselheiro.
Com o desenrolar dos acontecimentos, Didico, Jupiara e Barnabé - um homem que o rapaz descobre ser amigo do seu falecido pai, um dos homens que se destacou no carregamento do bendengó - acabam por ir até Canudos, na esperança de evitar que Chico seja morto pelos soldados, que estão chegando para a luta final contra "a aldeia sagrada".

O que é massa nesta história? Narrado em primeira pessoa, por um jovem que descreve seus momentos da despedida do tio até os lances após o fim da guerra, Marins constrói uma história onde é preciso analisar a História do ponto de vista de um jovem pouco instruído, com um conhecimento de vida baseado no que ouve falar e observa. Sabe aquele negócio do "povo que assiste bestializado a História" e, como tal, acaba por pegar algumas coisas que são passadas? As mudanças de impressões de Didico e seus amigos, quando começam a ver a realidade de Canudos como observadores diretos, é uma das maiores sacadas do autor.
Além disso, o livro também mostra outros episódios importantes ocorridos no Sertão baiano - a forte seca no fim do século XIX, a saga dos retirantes e o episódio do meteorito do Bendengó, alinhando muito bem a ficção com fatos reais.

Tem como ler agora? Sim, temos sim! Uma boa, maravilhosa alma fez o scanner do livro (por isso, não consegui fazer as famosas retiradas de trechos do livro, dá um pouco de trabalho a quem, ultimamente, não anda com muito tempo), ou seja, vocês terão em mãos a obra com o formato deliciosamente "vagalumeano", que conta com muitas imagens. Só clicar aqui e se deleitar.


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