quarta-feira, 13 de novembro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (14) - PEGA LADRÃO (Luiz Galdino, 1986)


*** AVISO: Adiei um dia minha postagem, porque tive uma frustração depressiva com o andar desta série de postagens: a minha intenção era fazer uma resenha de "O primeiro amor e outros perigos" (Marçal Aquino, 1997), mas o Google não tem disponível um PDF da obra. E como todo mundo sabe que eu curto deixar disponível o livro pra que as almas caridosas aqui possam ler comigo e retirar suas próprias conclusões, ficou uma deprê na mente que deu uma segurada no material que eu já tinha preparado. Mas, engole o choro, força na peruca e #segueobaile. Material não se perde nunca, e este post vai solucionar o golpe. ***

Ah, que saudades do narrador clássico da Sessão da Tarde, que às vezes era melhor do que o próprio filme...



(É um baita playlist, tenha paciência! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk)

O vídeo vai servir para eu tirar uma chamada bem no estilo:
ESTE JOVEM COMEÇA UM NOVO EMPREGO. E VAI ENCONTRAR UMA TURMA QUE VIVE SITUAÇÕES DO BARULHO!
Com vocês, "Pega Ladrão"!

Capa original (1986) - uma das capas mais estilosas (fundo preto e dergradê) da série. Nunca perdoei a Ática pela padronização desta anos depois. NUNCA!

Luiz Galdino, o autor, teve em "Pega Ladrão" o seu primeiro livro publicado na Série Vaga-Lume. Três anos depois, publicou um livro já apresentado aqui, que foi "A Vida Secreta de Jonas". Nos anos 1990, publicou "O brinquedo misterioso"(1994), "A charada do Sol e da chuva"(1996) e "Segura, peão!" (1999) - desta fase, li apenas o primeiro, os demais nunca me caíram nas mãos. Uma pena!
Se você leu (ou tá lendo agora, depois que falei) o livro que resenhei dele, sabe que o Galdino tem uma pegada de dar uma vista em questões preconceituosas, bullying e tal.  No seu liro de estreia, não poderia ser diferente e dar uma "indireta" na questão da consciência de classe. Fica a pedrada:

"Zeca ainda consultou Maurício, de quem se tornara amigo. O garoto não escolheu palavras para demovê-lo da intenção.
- Que é um direito todo mundo sabe! Porém, os poucos que tentaram acabaram sendo despedidos!
- Sério?,
- O Gervásio não gosta de estudante.
- Poxa! Não gosta de preto, não gosta de estudante.. . De que ele gosta, afinal?
- Do patrão!"
(p.8)

Sentiu? Em tempos que o seguro-desemprego vai ser descontado para sustentar o novo empregado, ao invés de tirar do patrão, e o FGTS reduzido a 2%, fica a dica de que "não respeitar os direitos do trabalhadores" é um negócio antigo para o patrão, aquele mesmo que diz ser "muito difícil ser patrão no Brasil".
Mas... COF, COF... Vamos voltar à história.

José Carlos (vulgo Zeca, como você já deve ter notado) começa a história se apresentando a uma empresa de publicidade, para trabalhar como office-boy. Se você entrou aqui, e é novinho demais para saber do que eu estou falando, office-boy é como se chamavam os jovens que eram encarregados de enfrentar os busões para fazer entregas de documentos, pagar boletos, entre outros problemas que
a empresa precisasse descascar. Hoje, esse trabalho exige que a pessoa envolvida tenha, ao menos, uma moto (praticidade, né mores?)

Jogado em uma realidade onde precisa conciliar trabalho (para ajudar a família) e a escola noturna, ele conhecerá a vida de um "menino de recados", tendo que conhecer todos os itinerários de ônibus, todas as ruas do Centro da cidade, conhecendo alguns macetes do campo da publicidade, conhecendo as vidas dos colegas de trabalho, e ainda dividindo suas atenções com duas mulheres atraentes: Glorinha, a recepcionista que é "sonho de consumo" dos boys, e Sarita, a adorável e simpática secretária.
Só que nem tudo é contemplação de realidade, há um problema: roubos misteriosos assolam a agência e, ÓBVIO, a culpa recai em cima do lado mais fraco. Quando Zeca chega, vem no lugar do Tonho, um menino que foi acusado de ladrão simplesmente porque era negro. E, entre os suspeitos, temos dois que são considerados "folgados" e um que tira onda de "ter muito dinheiro", apesar de ser um boy. E, começando a história como um empregado que chegou agora, portanto, era insuspeito na prática, Zeca acaba virando um detetive por acaso. Afinal, quem é o ladrão da agência?

O que é legal nesta história? Além do lance dos crimes em si, temos a questão social dentro dos vínculos empregatícios da agência - Giba, o chefe dos boys, é um exemplo: de todos aqueles do grupo, era o único que interagia com todos os demais núcleos da empresa - inclusive Gervásio, o chefe-mor, e era a voz de comando entre os office-boys... Ainda que, no frigir dos ovos, estivesse ainda muito rasteiro na escala social. Uma contenda entre ele e os seus comandados, na disputa pelas atenções da bonita Glorinha, mostra isso muito bem:

"Com exceção de Shiro, que se apaixonara por uma apostila de informática, os outros boys sonhavam com as atenções da adorável recepcionista. E Zeca não era exceção. Corria na lanchonete, cedia sua vez no jogo, fazia o que ela pedisse. Todos disputavam suas atenções.
E, mal ela saía, principiava a discussão.
- Isso não é para vocês, não! - zombava Giba.
- Olha só a cara dele! Pode perder as esperanças! - retrucava Maurício. 
- Chefe de boys é pouco pra ela!"
(p. 9)

Outros personagens, do núcleo de boys, também eram interessantes: Shiro, e sua dedicação aos estudos de computação; Carlinhos, que esconde no seu discurso e roupas vistosas um mundo bem diferente; Russinho e Claudionor, que são a personificação dos "meninões" da turma, ainda ligados em fliperamas e brincadeiras infantis; e Maurício, que é a cabeça mais realista e questionadora do grupo, chegando até mesmo a algumas investigações no meio da trama. 
Outra personagem, em escala social ainda mais inferior, era a copeira, Ermelinda. A personificação de toda encarregada da limpeza, próxima aos grupo dos boys, quase como uma mãe briguenta.
Além de Maurício, temos como outro amigo de Zeca o Batista, seu cunhado e a pessoa que lhe indicou para trabalhar. Uma das duas pessoas de núcleos acima dos seus que ouvem seus anseios e lhe auxiliam no sonho do jovem de melhorar de vida, além de Sarita - que, diferente de Glorinha, não usa sua beleza como forma de poder entre os homens.
Ah, sim! Ainda tem uma participação relâmpago de uma celebridade da vida real, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Apesar de ser uma trama bem datada (hoje, a influência da informática é maior, sem contar a existência das redes sociais, algo impossível 33 anos atrás), a experiência de Galdino enquanto profissional de Comunicação Social e em agência de publicidade é um elemento a mais para esta história. Não é à toa que está na minha lista de livros mais amados da Série Vaga-Lume!  



Tem como ler agora? SIM! Pega este link aqui (embora com MUITOS erros de edição e sem imagens) e siga a leitura!

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