terça-feira, 26 de novembro de 2019

MINHA SÉRIE VAGALUME (16) - NA BARREIRA DO INFERNO (Silvia Cintra Franco, 1990)


Uma das coisas que mais observo, nesta minha busca para reencontrar livros da Série Vaga-lume para esta série de postagens, é como as obras falam de coisas e situações que hoje, pleno ano da graça de 2019, século XXI, ainda precisamos debater, porque, definitiva e totalmente, muita gente ainda não entendeu.
Um exemplo básico são as queimadas na Amazônia, que este ano, atingiu o seu recorde na década.

E ainda tem gente que justifica isso...
É claro que aparecerá alguém que se pergunte: "mas, isso não aconteceu desde sempre?"
E não estará errado, mas...
A obra que vou apresentar hoje mostra como esse desastre ecológico, suas "justificativas" e a luta entre ecologistas e políticos (e empresários, atrás dos panos) se desenvolve, juntando uma luta para acabar (ficcionalmente) com tal situação.
Apresento então, "Na Barreira do Inferno".

Capa original (1990)
A história tem como pano de fundo a cidade de Natal - RN, com destaque para a Barreira do Inferno, o primeiro espaço de lançamento de foguetes no Brasil. Ao pesquisar sobre, vi o quão atuante é este espaço e como a autora procurou ser fiel na ambientação do Centro.
Mas, enfim, vamos à história, né?

"Os quatro se deram as mãos. Dina não resistiu e exclamou:
— Um por todos e todos por um!
— Contra todos os perigos! — exclamou Otaviano.
— Contra toda a oposição! — declarou Bruno, lembrando do deputado.
— E apesar de todas as emboscadas! — finalizou Simone, pensativa."
(p. 12)

Os quatro - Dina, Otaviano, Bruno e Simone - são estudantes de uma escola de elite, unidos, inicialmente, para um trabalho em grupo. De cara - antes mesmo deste juramento - a autora apresenta os perfis de cada personagem: Simone, filha de um sindicalista e de uma feminista; Otaviano, moço pobre que entrou em uma escola graças a uma bolsa de estudos; Dina, uma linda moça filha de pessoas influentes na política do Estado; e Bruno, filho de um industrial. Ambientes distintos, que já mostram as faíscas no primeiro contato na história, quando escolhem falar sobre o desmatamento da Amazônia e o futuro lançamento do foguete AMAZONSAT, liderado pelo engenheiro Sérgio, irmão de Bruno.
Na organização do trabalho, o panorama da história é apresentado pelos personagens: Otaviano pesquisa sobre a Hidrelétrica de Balbina, com o primo que trabalhou no local, sobre as controvérsias da construção desta, e seus resultados, considerados péssimos; Dina visita com a irmã, a jornalista Cláudia, as queimadas na Amazônia, conhecendo também os trabalhadores e um empresário da serraria que explora os recursos naturais; Bruno aprende mais sobre a Barreira do Inferno e o AMAZONSAT junto ao irmão... E cabe a Simone entrevistar o Cido Lima, um ecologista que vai para a cidade - um homem que recebeu muitas ameaças por conta da sua luta.
E é depois desta entrevista que Simone se torna testemunha ocular de uma emboscada: o assassinato de Cido, podendo até mesmo reconhecer o seu assassino. 
Inteirando-se ainda mais do tema, os jovens encontram outros personagens, envolvidos direta ou indiretamente com o caso: o deputado Campos, feroz opositor ao AMAZONSAT, com o argumento de que "existem coisas mais importantes"; Marialva, a irmã mais velha de Otaviano, que abdicou dos estudos para cuidar da casa; e Alexandre, um homem misterioso que vai passar uns dias na casa dos pais de Otaviano.
Em meio a tudo isso, é descoberto que há um plano em curso para impedir que o foguete (que tenciona colocar um satélite para fotografar as queimadas e ajuda na luta ecológica) seja lançado, incluindo até mesmo o assassinato de Sérgio. Os quatro amigos irão fazer o que puderem para evitar que tais acontecimentos vinguem. 

O que é legal nesta história? A Sílvia agrega temas importantes em uma história ágil e até mesmo previsível, dadas algumas coisas que pus aqui (fiz o máximo possível para não colocar spoilers). Os dilemas adolescentes e questões sociais também são colocados dentro do relacionamento dos quatro estudantes, mas a união é o que torna este grupo capaz de vencer os desafios para salvar o foguete. A questão da Amazônia é bem colocada, e ela apresenta pontos de vista mais diversos possíveis, a ponto que podemos ver a questão sem extremos julgamentos. Fica como uma reflexão para os dias atuais, onde NENHUM DOS TEMAS TRABALHADOS ficou datado.
A única coisa que ficou datada foi subir no Morro do Careca, na praia de Ponta Negra (hoje, isso é proibido), mas nada que prejudique a verossimilhança da história.

Tem como ler agora? Online, não. Mas através deste link, você pode baixar o pdf, que conta com o texto digitalizado, mais as imagens do livro. Boa leitura!

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