Esqueçam-me

Eu disse: chega.
Mais de meses me contentando com qualquer coisa, acreditando que a vida vai mudar, acreditando em sonhos que em nada mudarão minha vida.
Sinto raiva, sinto dor, sinto a vontade de dormir e nunca mais acordar.
Sinto vontade de me despedir deste mundo.
Sinto vontade de executar meu fim.

Esqueçam-me.
Se ninguém pode me ajudar, ajudar-me-ei.
Vou voltar a me fechar, a não mais acreditar.
Vou viver a vida como se nada mais existisse ao redor.
Vou esquecer o pouco que tenho de reputação e me entregar à insanidade, ao desespero, à irresponsabilidade.
Eu quero esquecer quem sou.
(como se acaso eu soubesse realmente quem sou, né?)
Talvez um psicólogo e uma ajuda religiosa ajudem; não é isso que dizem?
Minha tristeza é vulgar, minhas lágrimas são de crocodilo.
Sempre minimizaram a minha dor, lembrando que o resto do mundo tem mais a fazer do que tentar me entender, ceder-me um abraço.
É hora de eu, finalmente, fazer o mesmo. Minimizar a minha própria dor.

Voltar ao niilismo, à crença de que estou aqui apenas esperando a minha hora de morrer - então, de que importa o futuro, se não irei viver nele? Esqueçam-me.
Não quero viver mais do que o estritamente necessário. Meus dias serão apenas à espera disso, como um condenado à cadeira elétrica.
Não há escapatória, não há caminhos para se evitar.
Então, do que vão servir as coisas que escrevo?
As músicas que escuto?
Apenas uma fuga.

Recuperarei o pouco que ainda me resta do anseio da solidão e o farei crescer de novo.
Sozinha. Sozinha. SOZINHA.
Como sempre fui,
como sempre serei.

Peço que me esqueçam. O esquecimento será a melhor forma de assassinato que podem me dar a honra de me dar.
Tirem-me de suas mentes, de seus cotidianos...
Quero estar cercada de vazios.
Talvez, ao contemplar o vazio, eu entenda que chegou a hora de enfim, ir.

Aos poucos, enlouqueço.
Será que serei mais uma, em minha família?

É, as possibilidades são imensas.

Quer saber? Que seja.
Esqueçam-me...