domingo, 4 de dezembro de 2011

Longo manifesto de dor.

Escrevo hoje algo que poderia simplesmente se resumir a uma única frase: NÃO SEI MAIS O QUE FAZER DA MINHA VIDA! Enquanto externamente tenho tentado não demonstrar, a minha vida dentro de mim está um caos absurdo, e ontem a faca foi enterrada com mais força em meu peito, matando aos poucos qualquer possibilidade de felicidade da minha parte.
Não me sinto feliz. Estou sozinha - e não adianta aparecer um texto em blog dizendo que não estou, que é mentira. No que tange ao meu momento atual, EU ESTOU SOZINHA SIM! As pessoas que fazem mil palavras para me confortar não estão aqui, não podem vir, não podem ajudar em nada - por mais grata que eu quiçá seja pelo que me dizem.
Acabou para mim. Os últimos sonhos que eu tinha vi morrerem. As tensões dos últimos meses exterminaram qualquer chance de eu continuar a fazer História, e as possíveis mudanças futuras vão acabar de uma vez com qualquer meta que eu tenha traçado, seja em Recife ou longe daqui, como era meu sonho.

Há uma possibilidade grande de que, para melhorar as coisas entre nossa família, tenhamos que ir atrás da aposentadoria da minha mãe, e haver a definitiva mudança para Vitória de Santo Antão. Isso facilitaria a vida do meu pai, faria com que minha mãe ficasse mais perto dele - já que isso é o que a faz tão necessitada, a ausência dele. Confesso que, a priori, pensei pouco neste assunto - eu ainda estou à espera das notas no ENEM para poder seguir caminho, e ando trampando adoidado. Para mim, era uma solução boa - embora meu irmão ache que ela iria ficar "longe da família" (como se, na conjuntura atual, ela já não estivesse. A única pessoa que eu vejo se importar é vovó, que a liga todos os dias) e não concorda com isso.
Mas ontem, duas amigas da minha mãe vieram em casa. Uma delas, amiga antiga - vive em nossas vidas desde que eu era muito menina. Possuíam uma relação de irmãs, era a única amiga que minha mãe, avessa à "ficar zanzando na casa dos outros", visitava e passava horas conversando. Enfim, essa amiga e outra - também antiga, foi aluna de magistério dela - vieram aqui em casa e elas conversaram. Melhor dizendo, minha mãe falou com elas, à medida que era perguntada. Nada de vários comentários ou brincadeiras da parte dela... E claro que elas perceberam isso.
É inútil ressaltar o que todos já veem: a depressão sepultou o melhor da minha mãe. Sinto falta daquela mulher forte, decidida e impetuosa, guerreira e que batia de frente comigo. Mesmo as palavras cruéis que ela usava me fazem falta. Mesmo sua forma brusca e decidida de ser se faz sentir pela ausência. Sobrou pouco da mulher que eu amo. E que eu queria de volta, de verdade.
Ontem mesmo me vi agindo como mãe dela, me vi fazendo comentários que ela mesma faria se fosse comigo. E me sinto triste, é como se eu estivesse sendo obrigada a viver a vida dela, a ser ela, a acabar sendo como ela - e não sei se, apesar das vantagens, é o que eu quero na vida. A existência que se apresenta para mim, hoje, é tudo o que eu secretamente odiei em todos estes anos, mas que suportei por saber que não havia saída.
Enfim... A visita acabou, e fui me despedir delas, à guisa de que ia tirar as roupas do varal. Conversamos e, quando falei da ideia de painho, elas concordaram. Mas um comentário fez com que eu sofresse muito.
"Vocês deveriam mesmo ir para Vitória"
Sim, vocês. Eu estava inclusa nesta oração. Elas argumentaram que eu poderia me adaptar muito bem ali, que deveria sim desistir do trabalho e das pouquíssimas coisas que tenho aqui em Recife, afinal é a minha mãe que está precisando, né? E ela só tem a mim, disseram. Pois, cadê meu irmão, meus tios? Verdade, ela está sempre sozinha. Saio para trabalhar e ninguém está podendo ficar com ela. Ninguém a visita, e sair de casa é o que ela menos quer, nem os vizinhos a veem mais. Se querem resolver alguma coisa, falam comigo ou com meu pai.
Meu irmão acha que algumas visitas e ligações vão ajudar. É muito fácil falar. Ele me critica, diz que estou errada, zombou de mim quando achei que tinha perdido o emprego ("que besteira! Eu penso que é coisa séria...") e estava sofrendo, sim. Não convive todos os dias, não vê os piores momentos. Só a vê medianamente bem, à noite. Não tem que ficar insistindo que ela vá tomar banho ou comer. Nem ao menos leva as meninas para vê-la, se não é painho, elas nunca mais teriam vindo em casa. Não está presente, e tem seus motivos: uma família para sustentar e cuidar. Não posso julgá-lo sem entender esse detalhe. Mas não admito que ele me julgue.
Perdi coisas demais nessa história toda. Sei que é a hora exata de colocar na minha testa o rótulo de EGOÍSTA e INSENSÍVEL. Como sei que a minha opinião de não querer ir para Vitória de Santo Antão soará a todos, familiares e afins. Afinal, tenho que cumprir com minhas obrigações, tenho que esquecer de mim. Ser mais uma tia Deca, solteira, sem família e sem emprego, vivendo apenas de cuidar da minha avó e da minha tia esquizofrênica.
Eu não quero isso para mim!
Ao mesmo tempo, a voz da sociedade me clama, me lembra das minhas reponsabilidades. Esqueça tudo, Soledade! Nada para si, se anule, se esqueça, se mate, se preciso for. Apenas faça aquilo que deve ser feito, se obrigue a segurar sua mãe, pois assim ela o fez quando você precisou! E eu sei a verdade que ali está presente, como posso esquecer? Como posso fechar os olhos e fingir que nada mais disso existe?
Um debate doloroso, uma dor sem fim.
Nunca gostei verdadeiramente de Vitória. Não por ela ser interiorana, ou longe para mim - esqueceram que vivo num lugar ainda mais simples? Mas, por mais bonitinha que seja, ela não me atrai em nada. O que iria eu fazer ali? Ser vendedora? E por quanto tempo vai durar isso? E se ela demorar a se curar, o que farei de mim?
E o que eu quero hoje para mim?
Quero entrar em uma Universidade de Letras, quero me tornar professora de Português. Quero me formar, quero morar sozinha, quero enfim ser independente. Não sei que quero casar ou ter filhos, quero apenas seguir meu rumo, e se for sozinha - é o jeito! Quero viajar, conhecer o mundo, curtir minha vida enquanto posso. Não quero envelhecer esperando o dia certo para viver, como minha mãe fez.
Quero apenas isso.
E por quê, meu Deus, tantos empecilhos? Já bastam evangélicos hipócritas falarem que estou na lama porque saí da Igreja - como se isso salvasse as pessoas de fato. Nojento, ao meu ver. Já basta eu mesma duvidando de mim, o que já é uma carga pesada.
Por mais insano e irresponsável que seja, muitas vezes anseio em fugir. Desaparecer. Até mesmo morrer. Mas a merda dessa sociedade e suas opiniões embasadas apenas no que querem ver e não na verdade que é mostrada, me prende. Eu não sei se suporto mais.
Eu não sei se quero mais continuar.



Um comentário:

Erick da Silva disse...

Serei aqui a parte da sociedade insensível e altamente pragmático que vc critica no texto.... mais se matando ou desistindo ou ficando depre , não vai resolver seu problema e muito menos o da sua mãe...

Eu ja passei por exatamente mesmos problemas... solucionei fazendo o que as amigas da sua mãe te falaram... assumi a responsabilidade de cuidar de quem cuidou de mim ... minha mãe... mais pra cuidar dela... vc precisa estar forte... como ela estava quando enfrentou seus próprios problemas para te criar... bom simples assim... assuma o papel de "Mãe" da sua mãe... não a nada de errado com isso... pelo contrario ... é nobre e a natureza te recompensará lhe devolvendo a alegria de viver... experiencia própria.. desculpe me meter mais me indentifiquei com seu problema e quis apenas mostrar minha opinião... bju mainha

Será que você também aguenta esse aqui?

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