Medo da noite

Se você ama, tenha medo da noite.
Tenha medo da escuridão, bela e misteriosa, que está acima da sua cabeça.
Tenha medo da Lua, das suas mutações, da beleza e do mistério explícitos nela.
Tenha medo do silêncio, do descansar da rotina diária.
Tenha medo da falta das pessoas, dos carros, da bagunça, da falta de assunto e do que fazer.

Enfim...
Se você ama, ou sofre, tenha medo de quando o Sol se põe.

Na noite, é a hora em que cada pessoa tem que parar de se ocupar, de esconder, de mascarar, de buscar ocupar a mente. Desligam-se televisores e computadores, fecham-se trabalhos e escolas, acabam-se os tráfegos, desconectam-se os semáforos.
É a hora de se confrontar consigo mesmo.

Se você teme a si mesmo, teme chorar, teme se emocionar, teme o seu silêncio, teme a sua dor, teme as lembranças, vai temer a noite também.

Vai chorar, vai rezar, vai perder o sono, vai sonhar, vai se encontrar.


Até que o Sol nasce, e a gente tem que se mascarar de novo. 
Se perder no tráfego, no trabalho, na aula, no tempo que precisa ser ocupado, nos projetos, nas obrigações, nas pessoas, nos desejos mundanos...

Até a hora do crepúsculo.
E assim, a vida prosseguirá...