sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Carta a um amor...


Eu te daria meu amor desmantelado, perdido e sem início ou fim. Sim, te daria meu céu sem estrelas, meu mar inconstante e minha terra insegura. Seria teu universo, se assim você o quiser. Basta você me querer, meu amor. Seria tua criança, tua adolescente, tua mulher, tua idosa; atravessaria todas as fases de uma vida em nome do teu amor, da tua carícia, do teu sorriso. Pois é a minha paz, a minha alegria - por ti eu continuaria vivendo. Sentindo. Ardendo.
Eu deixaria uma história, uma perspectiva, uma vida, em nome de ti, meu bem. Pois quando deixar esta vida, serei eu mesma, apenas com a coragem de seguir por outras esferas, de ser a mulher que eu queria ter sido antes. Mas que a vida e meu consevadorismo não me deixaram ser.
Sim, eu seria capaz de tudo por ti, homem sem rosto e sem identidade. Mas não existes. Não na minha vida. Até hoje, encontrei partes de si em todos os homens que eu tive - partes preciosas, cálidas, raras. Mas que não vingaram pois nenhum deles era você. Eram pedaços perdidos na estrada do Tempo. Eram reais, mas não eram certos - não eram seus.
E onde se encontras agora, que não te acho, nem te vejo? Será que estou tão imersa em meu mundo que nunca te acharei? Vem, meu amor desconhecido! Toca em meu rosto, beija meus lábios, me faz reviver com a sensibilidade das almas que se fazem humanas que se quedam num destino em comum. Não espero nada desta vida senão a ti, meu prezado amor inexistente, meu desconhecido rosto. Pois te amo sem saber a tua verdadeira face.
E como eu poderia te amar? Eu te amo, sim, nos rostos dos homens a quem já entreguei meu corpo e minha alma, ou aos que nunca fiz isso, mas povoaram meus sonhos e minhas poesias. Eu te amo, calada, nas músicas que ouço, nos romances que leio e nas palavras que escrevo e/ou digito. Eu te amo, esperando por ti. Correndo pelo mundo, deitada em minha cama, acuada em minhas depressões, confusa, devastada, cansada, insensata. Eu te amo no silencio de um hiato, no toque de um vácuo.
Eu te amo sem saber onde estás, quem és, como és. Sem ter certeza de nada. Na dúvida, o preço da pureza, sabendo que é inútil ter certeza da vida. A única certeza é a morte, e nada é eterno. Essa pessoa que vos fala, misantropa e triste, e inquieta, apenas sonha. Não chora mais, embora agora, a vontade de chorar exista (ouvir "Peace" de Jimmy Cliff dá nisso!). Não sorri, pois se concentra em colocar as palavras certas que nunca lerás, amor meu. Pois tenho a impressão de que não existes, que és uma ilusão da Matrix existencial em que eu vivo no cotidiano.
É... Talvez seja este o meu destino: amar-te, amando a todos os homens. Ser uma borboleta do amor, não ser presa a ninguém inteiramente. E voar, voar alto, todos os dias, sonhando com o teu amor dentro das carícias de cada homem que me toca, dentro das palavras de cada um que me corteja.
Sinto-me só, muito só. E não a solidão pessoal. A solidão ardente de um homem a quem amar, a quem sentir, a quem desejar. Não sei se um dia te acharei, amor estranho meu. Não sei ao menos se existes no mundo.
Enquanto esse amor existir, te amarei ao olhar cada homem deste mundo. Quem sabe, olhando atentamente a cada um deles, eu não descubra a sua face?
Afetuosamente,
a Sua.

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