quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Lula promete: "Vou inaugurar a nova sede da UNE, antes de 2010"

Preciso dizer que foi a melhor coisa que li, desde tempos? Uma dívida histórica da justiça com a UNE há de ser paga!
Num é pra sorrir?
^^




O presidente se reuniu na noite desta quarta (31), com líderes da UNE e garantiu que o governo reconstruirá o prédio da Praia do Flamengo 132, incendiado e demolido na época da ditadura militar

Um passo importante para recuperar uma dívida de 43 anos parece ter sido dado na noite da última quarta (31), em Brasília. O credor: A União Nacional dos Estudantes (UNE). O devedor: O Estado brasileiro. A pendência: A agressão e destruição da sede da UNE na Praia do Flamengo, Rio de Janeiro. Primeiro, em abril de 1964, quando a ditadura recém instituída militar metralhou, invadiu e incendiou o lugar. Depois em 1980, quando o regime já enfraquecido ainda fez questão de demolir o prédio da UNE, não bastassem as perseguições, torturas e assassinatos de estudantes durante esse lamentável período da história do país.
De tão grande, a dívida parece impagável, mas mesmo assim, o presidente Lula e a presidente da UNE, Lúcia Stúmpf abriram negociação no Palácio do Planalto. A UNE recuperou recentemente o terreno, ocupando o lugar após uma grande passeata no mês de fevereiro e depois na justiça, vencendo a disputa contra um estacionamento ilegal que havia se apoderado do terreno.
A entidade agora quer a reconstrução da sua sede e de um Centro Cultural, com o apoio do governo. Segundo presidente da entidade, o presidente disse querer a mesma coisa:
"O presidente reconheceu que este é um saldo histórico do Estado com os Estudantes e prometeu reconstruir a sede da UNE, independentemente do preço político. Ele nos garantiu que irá inaugurar o espaço ainda durante o seu mandato", contou Lúcia ao portal EstudanteNet. Segundo ela, o presidente garantiu aos estudantes que, no próximo dia 15 de dezembro, o governo apresentará as medidas para a reconstrução. Lula recebeu e assinou uma carta dos estudantes. (Leia a íntegra abaixo)
A reunião durou cerca de duas horas e também contou com a presença do advogado da UNE Márcio André, do vice-presidente da UNE Tales Cassiano, do ex-presidente da entidade Gustavo Petta, entre outras lideranças estudantis. Quem também esteve presente foi o arquiteto João Niemeyer, que levou o projeto do novo prédio e do Centro Cultural, desenhados especialmente por seu tio, Oscar Niemeyer, e presenteados à UNE.
Possibilidades
Após analisar o projeto apresentado pelos estudantes, o presidente Lula e os representantes da UNE debateram as possibilidades de financiamento para a obra. Uma das sugestões da entidade é que a construção seja feita via Petrobrás, alternativa que já foi, inclusive, negociada com a empresa estatal.
O presidente Lula apresentou outra possibilidade aos estudantes: o financiamento através de verba indenizatória, através da Comissão de Anistia: "Nós concluímos que a destruição da sede durante a ditadura configura um episódio de perseguição política, portanto, essa via também é possível", relatou Lúcia.
A presidente da UNE ainda apontou outra possibilidade, a liberação orçamentária através de Projeto de Lei, com o poder Legislativo. Este projeto seria apresentado pela bancada do Rio de Janeiro, com quem Lúcia se reuniu no dia anterior:
"Existe a possibilidade do projeto de bancada, até porque a nova sede e o centro cultural são um grande benefício para o Estado do Rio de Janeiro. Apresentamos todas as propostas ao presidente, o nosso projeto, assim como os valores envolvidos e agora nos resta aguardar o posicionamento do governo", afirmou a presidente da UNE.
Documento
Leia a íntegra do documento entregue pela UNE a Lula, sendo lido e assinado pelo presidente:

A nossa casa é onde dormimos, onde acordamos, onde comemos ou descansamos ao fim de um longo dia de trabalho ou estudos. É a casa o abrigo das intempéries, um lugar para nossa segurança ou acalento, o nosso refúgio. A nossa casa é onde guardamos as coisas mais valiosas que temos, onde estampamos pelas paredes as fotos antigas, medalhas e troféus, os quadros e as histórias que fazem lembrar quem somos, qual a nossa origem e nos dão sabedoria para desenhar o nosso futuro.
Nós, os estudantes brasileiros, temos a nossa história de lutas e conquistas - tão particularmente intrínseca com a história deste nosso país – viva e ecoante em nossa casa. Nosso endereço é a Praia do Flamengo, número 132, Rio de Janeiro.
Fomos presenteados com tal espaço pelo presidente Getúlio Vargas, em 1942, em meio à segunda guerra mundial, quando a jovem União Nacional dos Estudantes (UNE) representava uma das principais forças democráticas e antifascistas no Brasil. O prédio que ali funcionava pertencera ao Clube Germânia, então simpatizante da política e ideologia nazista, sendo ocupado pela UNE e, posteriormente, concedido à entidade por Getúlio.
Foi ali, naquela sede, que a UNE cresceu, por 22 anos, tornando-se uma das principais instituições da sociedade brasileira, contribuindo para a história da nação com campanhas como "O Petróleo é Nosso" na década de 50 – que culminou na criação da Petrobrás - e na luta pelas reformas sociais no início dos anos 60. Foi ali que recebemos visitas ilustres, como a do presidente João Goulart com todos os ministros de estado e do astronauta russo Yuri Gagarin. Foi naquela sede que Vianinha, Ferreira Goulart, Carlos Lyra, Vinícius de Moraes, Cacá Diegues e muitos outros nossos criavam o Centro Popular de Cultura (CPC da UNE), traçando novos e definitivos rumos para a cultura nacional.
Em 1964, como se o fascismo de outrora regressasse a seu antigo paradeiro, nossa casa foi violada. No dia primeiro de abril daquele ano, logo após o golpe militar, uma das primeiras decisões do regime de exceção foi destruir a casa dos estudantes. Com tiros e fogo, a ditadura invadiu, incendiou e acabou com a sede das entidades estudantis, pondo início a um dos mais obscuros períodos da história brasileira.
Pouco tempo depois, as entidades foram postas na clandestinidade, seus líderes perseguidos, torturados e mortos, sua história rasgada pelas mãos de ferro da vergonhosa máquina da intolerância que se instalara. A casa dos estudantes foi violentada e tomada por um Estado bruto e inconseqüente.
Não foram poucos os que morreram levando junto ao peito a esperança de um retorno. Honestino Guimarães, Édson Luís, Alexandre Vannuchi, Helenira Rezende são alguns dos mais conhecidos. Uma das últimas ações da ditadura militar, ainda no poder, foi demolir o prédio da UNE, em 1980, sob muitos protestos de milhares de estudantes que lotaram as ruas da Praia do Flamengo. Em uma ação violenta de repressão do regime, as manifestações foram retidas e a sede veio abaixo, em um dos episódios mais tristes da nossa história.
Desde que voltou à regularidade, já no período democrático, a UNE buscou reaver o terreno da Praia do Flamengo, ocupado ilegalmente por um estacionamento. Tudo pareceu mais próximo, quando o então presidente Itamar Franco, em 1993 devolveu a escritura do terreno à entidade. Mesmo assim, sem alvará de funcionamento e à custa de liminares, o estacionamento se manteve por muito tempo.
Em janeiro de 2007, o lugar foi interditado pela prefeitura municipal do Rio de Janeiro. Após 43 anos de espera, com um grito entalado na garganta, a juventude brasileira resolveu voltar para casa, no ano em que a UNE completa seu 70º aniversário. No dia primeiro de fevereiro, ao final da 5ª Bienal de Arte e Cultura da UNE, durante uma bela e memorável passeata pelas ruas da cidade, 5 mil estudantes ao lado de ex-presidentes da UNE de diversas fases, incluindo o fundador da entidade, Irum Santana, recuperaram o terreno da Praia do Flamengo.
Assim que entraram, os estudantes levantaram acampamento, ocupando o espaço com cultura, debates e outras atividades, recebendo o apoio de autoridades, artistas e, principalmente, dos moradores da Praia do Flamengo. Estiveram no terreno prestando solidariedade à UNE o ministro da Justiça Tarso Genro, o ministro dos Esportes Orlando Silva, os senadores Inácio Arruda e Ideli Salvati, os deputados federais Renildo Calheiros e Manuela D'avila, os atores Paulo Betti e Vera Holtz, o músico Marcelo Yuka, entre muitos outros.
O esforço valeu a pena. Após meses de disputa judicial com o estacionamento clandestino, o juiz Jaime Dias Pinheiro Filho, da 43ª Vara Cível do Rio, deu ganho de causa aos estudantes. No texto, ele disse que as entidades estudantis são "um verdadeiro patrimônio do povo brasileiro" e merecem todo apoio da sociedade. Com muita honra, os estudantes receberam, das mãos do arquiteto Oscar Niemeyer, um novo projeto de sede, incluindo um centro de memórias e um centro cultural.
A UNE voltou para casa, como no ditado dos bons filhos. Nós, os estudantes brasileiros, escrevemos mais um capítulo da nossa própria história com a esperança de um mundo mais correto e democrático. Pregamos mais um quadro na parede. Sabemos que muitos dos que gostariam de ter visto este retorno sucumbiram na luta por um país livre e soberano. É em nome deles que construiremos a nossa nova sede.
Entendemos que as vidas e esperanças perdidas, que a destruição e demolição da nossa casa representam uma dívida do Estado brasileiro com a sua juventude. As marcas da violência daquele primeiro de abril ainda figuram pelos cantos da Praia do Flamengo, como lembranças de difícil esquecimento.
Chegou a hora da pintura, da reforma. Chegou a hora de reconstruir o nosso lugar com toda força que tivermos, erguendo a nova sede da UNE como um monumento impávido e inquebrantável, tal como a nossa história.
As autoridades deste país hão de reconhecer este saldo e colaborar, no possível, nessa reconstrução de um sonho. Sabemos que outras instituições, tão legitimamente patrimônios do nosso povo, como a Petrobrás, podem ser parceiras indispensáveis nessa reconquista. Salientamos que as histórias dessas duas instituições já se entrelaçaram desde os seus mais antigos dias, como ressaltamos mais acima.
Nós sabemos que nossa memória não será apagada. Sabemos os nomes, as datas e os fatos que nos constroem. Temos a lembrança rica dos momentos vitoriosos, a sobriedade para lidar com as perdas do percurso, assim como o peito aberto para começar de novo o que for preciso.
Somos jovens, somos muitos, e chegamos até aqui com nossos próprios pés. Somos a juventude brasileira, viemos inflados pelo traço da esperança dos que nos antecederam. Somos os bons filhos.
Voltamos para casa. Trouxemos a mobília conosco.
Que nos venha a pedra fundamental.
Brasília, 31 de outubro de 2007
União Nacional dos Estudantes
Luís Inácio Lula da Silva, Presidente da República
Artênius Daniel

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