quinta-feira, 27 de junho de 2013

CONTO: Telefonema.


(...)

- Ah, é você. Como está? Por que me ligou? Ah, sim... Estou bem. Mas você podia ter esperado até amanhecer para telefonar. É, eu estava tentando dormir, pelo menos. É o que boa parte do mundo faz às três da manhã. Ué, ligou e eu não estava? Saí, sim. Não sabia que o fim de um namoro deveria ser igualmente o meu fim!

(...)

- Mas é engraçado isso... Você não está circulando por aí? Que eu me lembre, meu caro, você quis liberdade para conhecer outras pessoas, beber com seus amigos e ter novas mulheres... Oi? A Claudinha, da academia? Que coincidência! É a gente ficou algumas vezes, mas ela é muito travada na cama... Eu não creio! Nunca menti sobre meu gosto, tanto por homens ou mulheres, ou não? Hum... Claro que pode. A Helô? É, caprichou, hein? Pelo menos, ela beija melhor que a Claudinha, muito bem, aliás. Mas, infelizmente, ela deveria ter praticado a arte da conversa com a mesma vontade que as artes amorosas. Quem mais? Alice? Ah, sei, sei. É, a gente estava se encontrando... Estou até surpresa de você ter me identificado na descrição dela, até porque ela é bem discreta. Ela é formidável mesmo. Tá duvidando? Pergunte à elas, oras! Ah, tá... pegando e descartando? Deveria me achar surpresa? Não foi a vida que você queria tanto?

(...)

- Sabe que não? Nenhum carinha, nenhum mesmo. Embora os seus “mui amigos” estivessem enchendo o meu saco, com convites para cineminha, barzinho, e intenções veladas... Não preciso disso. Opa, quer dizer que, além de não poder sair, também estou proibida de ficar? Ah... tachada de puta? Mente mais atrasada e machista, meu Deus...

(...)

- Terminou o discursinho chauvinista? Já estava dando calo no ouvido, de tanta hipocrisia junta... Esse velho blá-blá-blá de “tem que se proteger”... Do jeito que você tá falando, até parece que eu fiz por você. Ou melhor dizendo, para lhe atingir. Coitadinho. Não, não, claro que não! Fiz isso por minha livre e espontânea vontade, muito obrigada. Aliás, o que faço ou deixo de fazer, desde o dia que acabamos, é da minha total vontade e responsabilidade. Foi seis meses, meu bem. Vou soletrar: S-E-I-S! Você não morreu, lembra? Aliás, pelo que me disse a pouco, tá muito bem vivinho. Não vou me enlutar por seu nome, caríssimo. Agora, chega? Estou com sono e quero dormir.

(...)

- Ah, tá. Vai, fala logo.

(...)

- Hahahahahahahahaha! Corta essa. Piadinha, né? Saudade de mim e da nossa história? Faça-me rir! Talvez, mas só talvez, se este bendito telefonema houvesse começado com essas palavras, a coisa seria bem diferente. Mas, não. O macho resolveu agir primeiro. Tolo! O problema todo está aí: você não se importa. Errei? É verdade, desculpe. Seu foco está no QUE VOCÊ QUER. E foda-se os outros! Está cheio da escolha que fez? Eu? Não, estou ótima assim. Está querendo voltar? Desculpa, mas é tarde demais, não?

(...)

- Sim, eu te amei, claro. E por isso, por toda a nossa história que você mesmo fez questão de desvalorizar e jogar fora, que eu te digo: o seu amor, agora, é um problema seu. O meu, fica por minha carga... Sofri muito, no fim. Mas sobrevivi. Agora, não estou nem um pouquinho a fim de apostar a minha sobrevida em algo tão incerto como você. O amor, por si só, não muda nada... Certo? Agora, adeus. Preciso dormir, preciso viver.
(clic)

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