sexta-feira, 11 de junho de 2021

Das reflexões aleatórias de uma sexta-feira de junho.

 Tenho em mim algo profundo,

entre ser feliz, e triste estar.
Hoje, eu me enxergo outra

do tempo que já se passou.


Hoje, pensei em mim mesma no pretérito perfeito. Resquícios emocionais de uma crise. Talvez o reflexo da pandemia, talvez seja da vida que assumi ao sair da casa dos meus pais.
Hoje eu tenho certeza de algo.
Eu precisava do que tenho agora.

Fiquei pensando em um aluno - terceiro ano - falando que a vida "adulta" é difícil. Ele estuda e trabalha. Parece que não, mas o entendo. Me revejo. Não na mesma idade, claro - comecei a "trabalhar" aos 19 anos - menos de 300 reais por 4 horas de 5 dias da semana, mas que davam pra pensar em ter uma mínima autonomia  (era 2007, gente, por favor. Os conceitos de idade e momento eram outros). Hoje, 300 contos é algo que pode ajudar em sanar algum problema de casa, o gás que acabou, o conserto de encanamento...
A vida adulta é algo que eu não consigo explicar bem. Somos livres - ao menos, com uma autonomia nos atos e omissões  (o pensamento, até aqui, convenhamos, real e oficial, só as almas caridosas daqui conhecem) que invejávamos na adolescência. Mas, perdemos algo: a proteção. Não terá ninguém pra segurar a onda se reclamamos que não conseguimos dormir com som alto - e, acreditem, o adulto se torna mais capaz de lutar em coisas assim quando tem um filho - ou a quem recorrer se algo teoricamente fútil é necessário na vida se quebra. Se tiver "sorte" (na verdade, é ter olhos atentos pra encontrar a "impossível chance", como diria Titãs), talvez você encontre uma pessoa que sente com você e ouça você, mesmo que não possa fazer nada a respeito. Ser adulto, na verdade, é quando você precisa aprender a só ser. Ou a ser só, a decisão é de vocês.

Mas, entendam: toda liberdade é relativa. "Posso todas as coisas, mas nem todas me convém", está escrito na Bíblia. E, bora falar a verdade: taí um trecho bíblico super real na vida de um periférico. Imagina se for um periférico nego. E, pra aumentar só um pouquinho: ser for uma periférica mulher negra. Eu odeio a "lacração", mas é uma realidade. 
Ainda vivemos num mundo que parece ter sido escrito por Gil Vicente: alegorias. Tipo sociais. O mundo é complexo... Ser adulto é muito isso: moralizar o indivíduo. O colocar dentro de um sistema. Quem o tenta evitar, ou não se deixar levar, precisa estar muito à frente na fila das possibilidades. O que me convém é restrito, especialmente ao assumir funções sociais.

Ser adulto é entender, de forma até forçada, que existe uma sociedade. Um sistema. Onde você precisa deixar alguns sonhos de lado. Como fardos lançados ao caminho, por estar difícil de caminhar. 

Em parte, uma coisa eu me arrependo imensamente de ter tratado como fardo: escrever. Eu sempre digo que, aqui, falta alguma coisa. Eu me falto. O eu do passado tinha tanto a dizer, mesmo tendo tão pouco. Eu, hoje, tenho uma complexidade maior do que ontem. Do que quero e não quero. Dos erros e acertos. Mais coisas a dizer sobre tanta coisa... E, no fim, nada. Nem um pedacinho de texto.

A vida adulta engole as palavras. Elas são usadas pro prático, não pra si. Ser um escritor, em verdade, é vencer a todos estes desafios de seguir. Talvez eu nunca tenha sido o que eu mais sonhei na vida: ser escritora. Um dia, me faltou conhecimento da vida. Me faltou noção de realidade. Hoje, me falta como escrever. E isso é um grande problema.

"Só não se esqueça que este céu de anil

é muito grande pra voar.

E, mesmo assim, avião de papel

não é fácil de se pilotar"

(Ednardo)

Eu posso dizer, de alguma forma, que eu mantive todos os amores que tive até aqui. Quem passou no meu coração, não tem ódio. Alguma mágoa? Depende de como a digeri, de como a enxerguei. Os caminhos que trilhei, ao menos no momento em que tive a liberdade de ser em minhas mãos de fato, eu nunca me arrependi. Mesmo ainda olhando meu estilo muito romantizado nas palavras de anos atrás, eu não consigo renegar nada. O que eu escrevi sou eu. Mesmo que, hoje, meu eu de outrora esteja enterrado na poeira do caminho. Sempre será eu mesma.

E é essa eu mesma quem escreve hoje. Num dia estranhamente especial: o último dia de aulas do 1º semestre de 2021. Eu tenho ainda, como professora, provas de unidade e recuperação pra fazer, lançar e corrigir. Mas, uma pergunta: se eu, hoje, tô comemorando tão emocionalmente um mês de férias... Como não transformaria um ato de escrever em uma festa repleta de reflexões?

E, sim: Alma caridosa, nem sempre o que eu escrevo aqui é pra você. É pra mim. Os 35 anos falando pra uma história de quase 15 anos? Sim. Mas, ainda sou eu.

 

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