sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

#Dica(In)sana: "Foi apenas um sonho" (Revolutionary Road, 2009)



Assisti duas vezes a este filme. Uma no ano passado - pelos meus cálculos mentais, que não são confiáveis, assisti entre agosto a outubro do ano passado, sozinha. Outra, esta semana, porque fui surpreendida pelo meu companheiro que escolheu a película na Netflix.
"Foi apenas um sonho", para quem viveu os tempos de "Titanic" (1997), serviu para refletir sobre "como seria o casal Jack e Rose se tivessem conseguido sobreviver juntos ao naufrágio e se casado?" e, francamente, creio que TALVEZ o resultado fosse próximo disso. Do mesmo jeito que Rose, April (Kate Winslet) era uma mulher fascinada pelo modo como Jack - OPS!, no filme é Frank (Leonardo Di Caprio) vivia a vida dele, e tinha na mente alguns pensamentos bem revolucionários. Mas a diferença parou aí. Do Jack, talvez Frank tenha tido a alegria e a irreverência... Mas isso só se percebe nas primeiras cenas, que retratam como o casal se conheceu - April bebendo com as amigas, vestida de preto e fumando publicamente e Frank zuando sobre sua vida profissional.
Indo para 1955 (o ano presente da história), percebe-se que ambos, que se acreditavam especiais, vivem uma vida tumultuada e triste. a mulher tenta seguir seus sonhos, mas não atinge o ideal de ser uma grande atriz. Frank se ressente por seguir o mesmo caminho do pai, na mesma empresa, sendo apenas "mais um na multidão" - aliás, vale um registro para a fotografia deste filme, especialmente quando faz um recorte na rotina do personagem, de um primor excepcional.

"Só mais um na multidão"
A rotina de Frank é trabalhar e fugir da rotina tendo um affair com uma secretária. A de April é cuidar da casa, dos filhos (GRANDE ERRO DO FILME: Como falam de uma família se os filhos mal aparecem em cena???) e receber bem as visitas, como Helen Givings (Kathy Bates, aliás, uma atriz que merece ser observada!), a dona de casa que praticamente abre as portas para o casal em "Revolutionary Road" (irônico, não?) e apresenta também o seu filho, John (Michael Shannon, que ator, gente!), um homem que é excluído socialmente por apresentar "problemas mentais", que o faz ver a vida como realmente é e é capaz de expressar isso sem medo.
Que Paris tem a ver com isso? Calma, vou explicar.
John, que passa a acompanhar o casal tornando-se um amigo, é o único que apoia a ideia de April, exposta no dia do aniversário do marido: que a família se mude para Paris, onde ela trabalharia e sustentaria a família enquanto ele "descobriria a si mesmo". Fica claro que a ideia da esposa está em ambos se encontrarem subvertendo os papéis e distanciando-se da sociedade americana da década de 1950, que cultua um estilo de vida baseada na submissão da mulher e na necessidade de possuir casa, automóvel, eletrodomésticos, mas ela coloca para Frank como uma oportunidade PARA ELE, a fim de que esse pensamento "egoísta" não seja predominante. É ela quem quer fugir da rotina, não só do casamento, mas social também.
Frank é um cara sem talento nenhum (como a mulher), mas vive sua rotina passivamente. O entusiasmo da mulher o contagia e ele entra na empreitada, alcançando uma coragem e alegria de viver que salta aos olhos... A tal ponto que uma grande oportunidade lhe aparece, sendo um empecilho para a viagem. E é nesse ponto em que vemos a relação do casal (que dá uma melhorada durante a projeção do sonho) começar a cair no precipício de vez, com mentiras, traições, brigas até o final, surpreendente mas previsível.

O filme é um dos mais verossímeis (e cruéis) que assisti sobre a relação dentro de um casamento e, apesar de existir em uma época inalcançável para mim, uma oitentista (tradução: nascida nos anos 1980), também é realista na forma como os personagens principais se colocam: violentos entre si, passivos perante o sistema. April tenta mudar, lembrando sempre em conta o marido; Frank hesita, pensando na família e na "insanidade" que estariam cometendo... E, quando a relação passa para os dois casais vizinhos, vemos que essa atmosfera de desalinho e de conformidade passiva se manifesta da mesma forma, desatacando como o casal Givings tenta fazer o filho "parecer normal" em sociedade, usando a "juventude" dos protagonistas como uma possibilidade de aceitação.

A forma como "Foi apenas um sonho" me marcou está em como isso não mudou... Quantos de nós, especialmente quem está "na multidão", guarda desejos incompatíveis com a realidade? Quantos de nós deixamos nossos papéis sociais dominarem nosso íntimo? Até eu mesma já me enxerguei nisso, ao olhar pra April despida de qualquer paixão pela personagem.

Por isso, deixo este filme como uma dica especial para reflexão.

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