quinta-feira, 13 de junho de 2013

Aprender a viver é se impor... Nem sempre.

(O texto acima tem uma dedicatória: meu aluno do 8º ano, cujo nome não direi e cuja memória me persegue mesmo quando não estou em momentos de trabalho. Queria poder dizer isso à ele, mas a ética profissional e a falta de intimidade impedem.
Sendo assim, que fique aqui no blog.)


Você me confunde, criança-homem.
Se eu entro na sala, assumimos ambos máscaras de luta. Tento ser dura, você tenta ser o paladino de todos os alunos dispersos e inconformados da sala. E tome enfrentamentos.
Já lhe odiei, por ver que você não se conformaria em ser dominado. Se bem que meu intuito, na sala de aula, não é dominar, é sentir que dei alguma lição para o seu futuro.
O seu e o dos outros alunos.
E o estado que eu fico é lastimável.
Primeiro, porque odiar nunca foi o meu forte. Me prejudico mais odiando do que amando - mesmo me quebrando horrores com a última opção.
Segundo, apesar das máscaras dentro da sala, pude contemplá-lo fora dela.
Um adolescente que está aprendendo a crescer.
Bonito, carismático. Sempre na moda, apesar de ser aquela modinha de rua. Recentemente, para meu alívio estético, desistiu das calças no meio da bunda após um professor lhe passar a teoria da tal vestimenta. É, a possível associação de "gay" o assustou - coisa de jovem.
Sucesso entre as meninas, superior até aos "grandes" repetentes da escola. É como se o mundo (o pequeno mundo escolar) girasse em sua órbita.
E, em conversas com outros professores, descobri que sua história não é das mais fáceis. Um menino que trabalha desde muito novo (e que, em relação à dinheiro, tem uma mentalidade muito adulta!), uma criança que tem problemas domésticos de imensa gravidade.
Alguém que quer se impor. E, muitas vezes, essa imposição se volta contra a escola - contra os professores, essas feras, esses "ditadores".
Não faz tarefa, não anota nada. Mas é inteligente, aprende rápido. É capaz de brigar comigo. Mas, de repente, pega um rodo e limpa a sala, com um empenho maior que qualquer profissional. Pode ignorar minhas broncas, mas quando quer participa da aula (a questão é o "quando quer", como diria a minha mãe). Esquece trabalhos, perde notas importantes. Tira notas baixíssimas. Mas, não posso dizer que é um péssimo aluno.
Você, menino-homem, tenta ser grande.
Mas, de forma errada.
Não vou dizer que se dobre diante dos problemas que enfrenta. Mas, cuidado com esse enfrentar: ser duro o tempo todo só fere, só traz resultados desfavoráveis.
Embora eu bem saiba o que é ser adolescente: é uma rebeldia constante.

Menino-homem. Você me confunde.
Queria poder fazer mais do que simplesmente ensinar. Mas a ética não me permite.
Queria poder dizer tudo aquilo que entala minha garganta quando você está mano-a-mano, pau-a-pau comigo.
Mas, o máximo que posso fazer é lutar com minhas armas: ressaltar o lado bom que você possui.
Não sei se dará certo. Não a tempo.
Mas, é uma chance a longo prazo. E você tem mais tempo do que eu.

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