terça-feira, 7 de maio de 2013


Só, com o espelho


Na face negra diante do espelho,
o corpo envolto por um vermelho
vestido... Eu procuro me alterar
na maquiagem, toda me enfeitar
de bijuterias. Medo de parecer
feia, de não lhe corresponder
as expectativas alimentadas
pelo anseio. Estão guardadas
na pequena bolsinha de mão
os cigarros, o batom, a ilusão
de que a noite será eterna...
Encaro-me, cruel e terna,
pelo espelho; o que dizer?
Há lacunas a se preencher
de tanto tempo à distância,
de tudo que na lembrança
se passa... Ah, o dinheiro!
Pois não vai o jantar inteiro
pagar sozinho – até parece!
Mulher atual não esquece
que é bom se dividir conta;
que é deselegante ficar tonta
de tanto beber... Informações
para afastar todas as aflições
do peito. Tenho tanto medo;
mas melhor deixar em segredo
tudo isso. Hei de me permitir
e deixar a noite prosseguir.
Ai, a hora! Está para chegar.
Acho-me bem, pra contentar
deve bastar... Espelho, adeus!
Irei-me; e seja o que meu Deus
quiser...

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