quarta-feira, 9 de maio de 2012

(Um texto escrito num caderno, em que não se diz absolutamente nada)

Engraçado... Depois de ler sobre assimilação fonética, ler dois textos sobre teoria e conceito de Literatua, alguns cigarros baratos e algumas músicas a emoldurar este momento de estudo, me deu vontade de escrever. Tanta coisa ocupando a mente... Escolhi um bom momento, talvez: a hora em que se pode dar uma leve pausa, se pode pensar, querer, ser...
É isso aí, ser. Ser algo além das preocupações, das obrigações, dos desejos, do futuro e de mais alguma coisa que eu tenha esquecido de citar e que faça parte da minha realidade.
Ser só eu mesma: complexa, selvagem, limitada - porém, honestamente humana.
É querer escrever, tendo tantas ideias e- agora que as palavras fluem do lápis ao papel - não ter uma saída fácil para a minha pergunta de agora: o que... Ou melhor, do que quero falar?
Não sei.
Estou deixando que o seguir das palavras deem-me alguma resposta.
Eu só quero escrever.
Tremendo (efeito da nicotina?), buscando uma posição para que não me doa o corpo enquanto estou debruçada sobre o caderno. Enquanto isso, tocou Angra e, agora, o "Dois Querer" de Fagner atinge os meus ouvidos. Gatos passam perto de mim (ultimamente, tenho me interessado por eles - eu que não via tanta graça outrora...). Algumas pessoas a passar, indiferentes à esta pessoa estranha, deitada em um banco, tendo como companhia um caderno, um lápis com a propaganda de um banco e que foi dado por um aluno, um blusão rasgado a evitar sujar a bata branca que visto. E, nos ouvidos, Beatles e - no momento - Jamiroquai.
É, eu sou uma criatura danada de estrambólica mesmo.
Entretanto, eu me sinto tranquila. Meu nicho parece um oásis - com exceção das formigas, já que tenho alergia. A natureza me acalma, me faz sentir vontade de seguir em frente, de querer mais do que o que todos nós buscamos: um lugar no sistema.
Eu quero mais. Eu preciso de mais. Preciso explorar, buscar - da eterna busca, nunca me sacio.
Enquanto isso, ainda não sei sobre o que falar. As horas se arrastam, mas a vida passa entre os intermináveis segundos. Eu penso o que da vida eu agora estaria perdendo, enquanto tento resolver a inquietante questão...
E lá se foi Vanessa da Mata. Ficou Paula Toller, "derretendo satélites" da minha (sur)realidade.
Por mais que eu queira direcionar o que eu escrevo, não consigo. E estou a um pouco de terminar a folha... Mas, não me sai muito - apenas rasgos. Nada instigante ou poético. Não estou a fim de tentar poetar, ou criar contos, ou continuar na história que carrego todo santo dia na bolsa.
Paro e olho as cores deste lugar, que o Sol ilumina. E a mente se perde, de novo, no infinito.
Pulei algumas músicas no mp4 - nada possuía em sentido para o hoje, o agora, o já. Parei em Elis Regina. E penso...
Outros outubros? Por quê não outros maios, setembros, janeiros? Por quê não outros dias, onde a vida seja um espetáculo de ser e não apenas mais um dia? (Até parece que não sei o que é que "O que foi feito devera" quer dizer. Mais uma esquisitice.)
Troquei o lápis por uma caneta - que nem ajuda muito, já que ela está quase acabando - afe maria, que zica! Preciso fazer a ponta desse lápis, lembrar-me-ei disso. E Alceu Valença e Belchior me dão uma visão de vida e passado... Como não voar com "Sete Desejos" e "Velha Roupa Colorida" ?
E até agora, nenhum objeto de escrita me deteve. E já estou na segunda folha - vai entender.
Lembro de coisas toscas: o lindo sorriso de um garoto que me pediu o isqueiro, ontem ao final da aula; de uma música que quero mandar para o meu irmão e que me lembra a infância; da minha futura idade (26 anos) que chega e pela qual não me sinto tão ansiosa (a idade pesa!); de alguns lugares para onde quero acampar um dia; de tanta coisa vaga, imprecisa... E "Human Nature", do saudoso Michael Jackson, toca.
E eu aqui, com ar de riso. Pondo tudo isso no papel e até achando algo legal nisso que estou escrevendo.
Agora, até que enfim, entendo o motivo de estar pondo tudo isso, sem nenhum sentido lógico: estava precisando. Há quanto tempo, não escrevia por meramente escrever? Presumo eu que muito, mas muito mesmo! Não ter objeto em minhas palavras me abriu o peito, me renovou... Uma terapia onde nada precisei dizer de fato, onde só preencher as linhas faz mais sentido do que tentar falar com algum estilo sobre qualquer outro assunto.
Não que eu tenha me esquecido do resto do mundo - mas foi como me achar de novo. Achar esta "selva" que sou eu mesma. Este Sol e Lua, esta menina complexa, contraditória.
Sinto um orgulho imenso de mim.
E Caetano Veloso, com Milton Nascimento logo após, passaram por minha audição, enquanto uma formiga explorou a pele do meu braço  - até agora relax, ela não me mordeu...
Uma pausa. Acendi um cigarro (só esse troço ruim de fumaça, vixe... Saudade de ter grana!), enquanto ouvia uma música muito velha do Sandy e Júnior. Mas agora, chega Lenine, me fazendo pensar "no que me interessa"...
E o que me interessa? Viver o que me for dado. Sem pensar na duração ou no alcance... Só ter o momento me basta. Quero ser um livro, e preencher-me de histórias. Pois estas serão minhas - e isto ninguém nunca haverá de me tirar.
"E se nada acontecer, a culpa é dela com certeza".
Esse Leoni sabe mesmo das coisas.
Preciso ter minar a escrita. Voltar à realidade - terminar de ler, pensar no que virá mais tarde.
Mas, agora, não sei como concluir, porque na verdade não há conclusão.
Eu não me concluo.
Só posso dizer que, nesse instante, eu me sinto em paz. Capaz. Viva. Agradeço a Deus por isso: pelo que há de bom em mim (ainda que pouco); por hoje; por ter na escrita o meu maior nicho, o mais seguro.
Pois, aonde quer que eu vá, o que quer que eu sinta - é o que eu tenho de mais precioso.
Enfim, é isso!


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