quarta-feira, 8 de junho de 2016

Só.

Em tardes assim, lembro de poucas tardes de sábado.
Eram poucas, pouquíssimas.
Eram dias em que minha mãe comprava um vinho bom.
Em que ela relembrava seus velhos vinis, até alguns CD's. Mas minha memória registra antigos vinis.
Caetano, Chico, Fagner.
Tinha mais. Mas estes eram constantes.
As mesmas músicas.
As mesmas coisas...

Eram dias em que ela voava de alegria bêbada.
Era a mãe alegre e feliz, livre. Como eu sabia que queria que ela sempre fosse.
Dançava.
Ria.
Intensa em seu fulgor.
Livre, livre.

Minha mãe não foi livre.

Mas, ao fim do dia, se trancava no quarto.
Chorava.
Estava sozinha.

Eu sabia que não era momento de incomodar.
Era o momento de ficar isolada de novo.
De ouvir seus soluços, de sentir suas mágoas,
seus rancores.
Era ali, depois da música e do vinho, em que ela se sentia sozinha.

Desprovida de sua força.

As tardes de quarta-feira, por mais que eu assim o quisesse,
se tornaram mais solitárias do que nunca.

Você não está aqui, mãe.
Nem eu quero estar aqui.

A solidão me impele a correr, a querer novos mundos,
para fugir daqui, da minha casa.

Músicas. Vinho.
Não importa que seja vagabundo.
Não importa que nem seja vinho.
Importa que me traga um pouco de alegria.

O mundo lá fora me traz. Tenho gente boa. Mas, ao mesmo tempo, me pergunto se tanta busca não me leva ao mesmo caminho da minha mãe.
Se chegarei ao mesmo ponto que ela.

Mas, ela tem uma coisa que eu não sei se tenho:
Companhia.

De alguma forma, se algo me acontecesse agora, eu sei: EU ESTOU SOZINHA.

Só.

Nenhum comentário:

Será que você também aguenta esse aqui?

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...