Escrevo para me despedir. Pedir um perdão que nunca terei de ti. Agradecer pelo tanto que me destes. Desculpar-me pelo meu niilismo, pela minha busca incessante por um céu utópico, pela minha fuga do real, que só matou o que tínhamos construído ao longo de anos juntos.
Estou sentindo sua falta.
Estou sentindo ciúme.
Estou francamente convencida de que mereço tudo isto.
Você sempre foi eterno. Mesmo quando eu dizia não. Amei, não me apaixonei. Amei você com todas as forças de um primeiro homem, namorado, companheiro. Amei você com a ousadia dos meus 20 anos, com a energia dos 21, com a placidez dos 22, com o conflito dos 23, com a divisão dos 24... E agora, com os 25, com o entendimento que só consigo me sentir bem ao seu lado. Quando a culpa e a dor não passam por mim e sinto que só te fiz perder tempo.
Horas. Dias. Meses. Anos.
Como pude ser tão cruel?
Pessoa. Minha pessoa. Eterna. Encantadora.
Quem me entendeu quando eu nunca achei que ia ser entendida na vida.
Quem possui o abraço mais protetor do mundo.
Quem sempre foi aquele que me salvava de mim mesma.
Alguém que nunca quis perder, e fui afastando de mim aos bocadinhos.
Alguém a quem preciso dizer adeus...
Poderia dizer adeus à tantas pessoas importantes na minha vida, mas confesso hoje que você foi a mais importante delas. Quiçá a única.
Eu sei que você não me perdoará pelo que pretendo fazer, pela decisão que acabei de tomar. Mas, para tal decisão mudar, as coisas não poderiam ser como está... E que direito, que merda de direito, eu tenho de querer mudar as coisas? Eu tive tudo nas mãos, a felicidade, a vida, o diabo! E a desperdicei. E a deixei correr como areia dos dedos... Agora, é um grão perdido no areal. Apenas mais um. Não posso mais encontrá-la.
Eu ir embora é a melhor solução, meu amor. Entenda... Eu quero estar com você. Sempre. E não tenho esse direito. Não quero ser outra coisa, senão o que já fui; e sinto hoje que não me sentiria bem se você estivesse com outra pessoa. Doeria profundamente. Assim como associo-te ao mundo que vives, ao teu bairro, à tua cidade. Amo-as em dobro porque estás lá. E continuarás lá. Como posso continuar?
Mas, não quero essa culpa nas tuas costas. A decisão não foi simplesmente por ti. Estou sendo egoísta, usando da pior saída para salvar as pessoas que amo de mim. Era o que eu devia ter feito há muito, muito tempo. Eu te amo. Amei e amo. Por quê fui tão idiota e não enxerguei isso há tempos? Não posso culpar meu niilismo. Nem minha insegurança. Nem minha instabilidade. Devo culpar à mim mesma, sempre. Quis ser o que não era meu caminho. Devo pagar caindo no abismo. Pois não sou de voltar atrás... Devo seguir em frente.
Quero guardar no peito o homem que sempre fostes para mim. Lembrar de como éramos bobos e só vivíamos abraçados nos velhos tempos, nos primeiros meses de namoro. De como eu ria com tuas declarações meninas, e de como chorei com a tua declaração adulta. De como era bom passar as tardes do teu lado, assistindo tevê, sentada no chão... Ou quando quebrava a cabeça contigo com assuntos mais sérios. De como foi bom estar perto de ti em tuas vitórias, e mesmo em tuas derrotas. Do quanto amei você por estar inserido nesses momentos.
Quero levar comigo o homem que me viu correr dele e ficou parado na calçada, me olhando. Me esperando. Sabendo que eu ia voltar. E não perguntando nada, não dizendo nada.
Apenas provando em seu silêncio o quanto me entendia, o quanto sofria, e o quanto me amava.
Quero lembrar desse homem que me fez tão bem em tanto tempo. Um dos poucos que eu queria que estivesse para sempre comigo, que vencesse a minha maldição de se distanciar com o tempo...
Que esse homem que amei (e amo) vá comigo aonde quer que eu vá.
Se eu não puder lhe abraçar, lhe dar um último beijo e dizer, pela última vez, que te amo antes de partir; que esta postagem seja tudo isso.
Um abraço forte.
Um beijo longo e doce.
E algo que sempre foi além das palavras...
"Eu te amo, pessoa."
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