Assisti duas vezes a este filme. Uma no ano passado - pelos meus cálculos mentais, que não são confiáveis, assisti entre agosto a outubro do ano passado, sozinha. Outra, esta semana, porque fui surpreendida pelo meu companheiro que escolheu a película na Netflix.
"Foi apenas um sonho", para quem viveu os tempos de "Titanic" (1997), serviu para refletir sobre "como seria o casal Jack e Rose se tivessem conseguido sobreviver juntos ao naufrágio e se casado?" e, francamente, creio que TALVEZ o resultado fosse próximo disso. Do mesmo jeito que Rose, April (Kate Winslet) era uma mulher fascinada pelo modo como Jack - OPS!, no filme é Frank (Leonardo Di Caprio) vivia a vida dele, e tinha na mente alguns pensamentos bem revolucionários. Mas a diferença parou aí. Do Jack, talvez Frank tenha tido a alegria e a irreverência... Mas isso só se percebe nas primeiras cenas, que retratam como o casal se conheceu - April bebendo com as amigas, vestida de preto e fumando publicamente e Frank zuando sobre sua vida profissional.
Indo para 1955 (o ano presente da história), percebe-se que ambos, que se acreditavam especiais, vivem uma vida tumultuada e triste. a mulher tenta seguir seus sonhos, mas não atinge o ideal de ser uma grande atriz. Frank se ressente por seguir o mesmo caminho do pai, na mesma empresa, sendo apenas "mais um na multidão" - aliás, vale um registro para a fotografia deste filme, especialmente quando faz um recorte na rotina do personagem, de um primor excepcional.
"Só mais um na multidão" |
Que Paris tem a ver com isso? Calma, vou explicar. |
Frank é um cara sem talento nenhum (como a mulher), mas vive sua rotina passivamente. O entusiasmo da mulher o contagia e ele entra na empreitada, alcançando uma coragem e alegria de viver que salta aos olhos... A tal ponto que uma grande oportunidade lhe aparece, sendo um empecilho para a viagem. E é nesse ponto em que vemos a relação do casal (que dá uma melhorada durante a projeção do sonho) começar a cair no precipício de vez, com mentiras, traições, brigas até o final, surpreendente mas previsível.
O filme é um dos mais verossímeis (e cruéis) que assisti sobre a relação dentro de um casamento e, apesar de existir em uma época inalcançável para mim, uma oitentista (tradução: nascida nos anos 1980), também é realista na forma como os personagens principais se colocam: violentos entre si, passivos perante o sistema. April tenta mudar, lembrando sempre em conta o marido; Frank hesita, pensando na família e na "insanidade" que estariam cometendo... E, quando a relação passa para os dois casais vizinhos, vemos que essa atmosfera de desalinho e de conformidade passiva se manifesta da mesma forma, desatacando como o casal Givings tenta fazer o filho "parecer normal" em sociedade, usando a "juventude" dos protagonistas como uma possibilidade de aceitação.
A forma como "Foi apenas um sonho" me marcou está em como isso não mudou... Quantos de nós, especialmente quem está "na multidão", guarda desejos incompatíveis com a realidade? Quantos de nós deixamos nossos papéis sociais dominarem nosso íntimo? Até eu mesma já me enxerguei nisso, ao olhar pra April despida de qualquer paixão pela personagem.
Por isso, deixo este filme como uma dica especial para reflexão.
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